Grécia: a Fukushima europeia ganha sobrevida

No apagar das luzes do 21 de junho aqui na Europa (na hora de Brasília, no apagar da tarde) o governo socilaista (?) de George Papandreou ganhou um sopro de […]

No apagar das luzes do 21 de junho aqui na Europa (na hora de Brasília, no apagar da tarde) o governo socilaista (?) de George Papandreou ganhou um sopro de sobrevida, ao obter um voto de confiança do Parlamento.

Não vamos brincar, nem conservadores, nem progressistas, nem socialistas, nem… gregos e troianos. Sem esse voto, o bolo abatumaria, a massa desandaria, a Fukushima europeia explodiria. Isso não seria bom para ninguém, nem para esquerda. Paradoxo? Ora, crise na Europa chama direita, não esquerda. É o que já está acontecendo. E aconteceria pior, caso a crise de fato desandasse sem controle.

Com isso, o governo de Papandreou deu passo decisivo para obter os 12 bi de euros no começo de julho, necessários para pagar suas parcelas no mês, aos credores que são, na maioria, da banca internacional e dos bancos franceses e alemães.

Essa banca (mais os bancos) é a Fukushima europeia, não a Grécia. São seus créditos superaquecidos os responsáveis por essa febre radioativa que contamina governantes e governados, exigindo absolutamente garantias de retorno, contra as expectativas de vida de milhões de pessoas dispersas pela Europa e pelo mundo.

Se a Grécia quebrasse (quebrar) o mercado financeiro se retrairia (se retrairá) como aquela bolha vermelha do filme (com Steve McQueen, alguém lembra?) A bolha assassina (The Bubble, em inglês, procurem na internet ou na locadora) levando consigo para o inferno o que, na verdade, já devorou: corações, mente s e sonhos desarvorados. O povo pagará.

Essa Fukushima põe de joelhos o FMI, mais a União Europeia, mais os governos da região, como já outros credores fizeram conosco no século passado e ainda no começo deste. Por aqui ainda não aprenderam a lição. Aprenderão? Não sabemos. Aprender envolve humildade, a de reconhecer que é necessário aprender. Com quem? Com a experiência dos que antes eram seus aprendizes, isto é, nós. Isso é o mundo de pernas para o ar. Mas assim é.

O plano de austeridade para a Grécia – servido pelo consenso de Bruxelas – está estrangulando o paciente. Força-se uma privatização no valor de 50 bilhões de euros, apenas para garantir que os créditos necessários passarão pela Grécia em direção aos bancos, enquanto a população vê seus direitos morrerem à míngua. Com eles, a Grécia mergulha na recessão.

Os movimentos de rua são veementes, mas desarvorados. Falha da esquerda grega (e européia)? Sim, mas são movimentos que facilmente podem desandar ou abrir caminho para a extrema direita, o que já está acontecendo, com a onda de “ataques étnicos” que assola o país.

No presente caminho, não há o que fazer senão torcer para que o governo de Papandreou sobreviva (porque a alternativa conservadora é pior), enquanto se espera que o movimento de protesto construa uma alternativa política melhor organizada.

Enquanto isso, é necessário pensar, pensar e pensar: como podemos fugir do caminho que nos leva a por nossos destinos sob a égide das Fukushimas, sejam as japonesas, sejam as europeias, ou outras pelo mundo?