Dilma admite que juros, câmbio e impostos são amarras e propõe educação de qualidade como saída para o país

Em entrevista após formatura de diplomatas do Instituto Rio Branco, a presidenta disse que país precisa atingir patamar internacional de juros

Para Dilma, reduzir o spread fará parte de um processo de amadurecimento que vai levar o país, progressivamente, a ter juros mais condizentes com a realidade (Foto:Antônio Cruz/ABr)

São Paulo – A presidenta Dilma Roussef disse hoje (20) que o Brasil tem de equacionar três amarras e construir o chamado quarto caminho. “As três amarras são: taxa de juro, taxa de câmbio e impostos altos. E o caminho é a educação de qualidade”, disse, em seu discurso na cerimônia de formatura da Turma de 2010-2012 do Instituto Rio Branco, no Palácio Itamaraty. Aos diplomatas formandos, afirmou: “Ao mesmo tempo que combatemos a miséria, temos de ser capazes de responder aos desafios do século 21: ciência, tecnologia e inovação”.

Em entrevista coletiva após a cerimônia, a presidenta disse que o país tem de buscar um patamar de juros similar ao praticado internacionalmente. Para ela, não há argumentos técnicos para justificar spreads bancários (diferença entre os juros pagos pelos bancos às aplicações de seus clientes e aqueles cobrados quando empresta valores aos mesmos) tão altos.  

Para Dilma, reduzir o spread fará parte de um processo de amadurecimento que vai levar o país, progressivamente, a ter juros mais condizentes com a realidade. “Não somos um país qualquer. Somos reconhecidamente um país com uma situação econômica de estabilidade, de respeito. Temos absoluto respeito aos nossos princípios macroeconômicos, de controle de inflação, de robustez fiscal, da relação dívida com o Produto Interno Bruto (PIB). Temos uma situação muito especial em relação às economias emergentes. Estamos caminhando para taxas maiores de crescimento”, disse Dilma.

A presidenta avalia que a redução dos juros vai refletir, cada vez mais, essa realidade de maturação. “Eu não entendo os fundamentos técnicos de certo nível de spread. Vou ficar olhando. Eu acompanho a situação econômica do país todo santo dia. Então, eu vou continuar olhando para ver se a inflação aumenta, para ver se os preços estão sob controle, para ver como está a situação do valor das commodities, para olhar a taxa de câmbio do nosso país e dos demais. Esse acompanhamento, você pode ter certeza de que eu fazer sistematicamente. Vou olhar também os juros”, disse.   

Questionada por um jornalista a respeito da taxa de câmbio, ela foi irônica. “A senhora acha que a taxa de câmbio já chegou em um bom nível?”, disse o profissional. “Se alguém te der essa resposta, você me apresenta, que eu vou indicá-lo para o prêmio Nobel”, respondeu a presidenta.

Argentina

Dilma disse que o Brasil não interfere em assuntos internos de outros países, ao ser perguntada sobre a posição brasileira em relação à expropriação da petrolífera YPF pela Argentina. Segundo ela, o governo poderá “ajudar” o país se a presidenta Cristina Kirchner fizer esse tipo de solicitação. O governo Kirchner é alvo de críticas da União Europeia e dos Estados Unidos devido à estatização, administrada pela Repsol. “De maneira alguma interferiremos, emitiremos opiniões e juízo de valor”, ressaltou. Ela acrescentou que desconhece que esse tipo de “pedido” tenha sido encaminhado pelos argentinos aos brasileiros.

CPMI

Questionada sobre a CPMI Cachoeira, criada ontem (19) no Congresso para investigar as relações do empresário de jogos de azar Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com parlamentares e agentes públicos e privados, foi enfática: “Ah, vocês acreditam mesmo que eu vou me manifestar, além das minhas múltiplas atividades que eu tenho de lidar todo dia, eu vou interferir na questão de outro poder? Acho que todas as coisas têm de ser apuradas, mas não me manifesto sobre a CPI. Eu tenho uma posição em relação ao governo, que vocês conhecem. E eu não me manifesto sobre outro poder, de maneira alguma.”

 

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