Rita Cadillac: ‘sou mais povão do que chique’

Personagem de documentário, ela se diz orgulhosa e relata que estabeleceu relação de paciente-terapeuta com o diretor Toni Ventura

“Só no palco sou Rita Cadillac, uma personagem que baixa em mim. Fora disso, sou Rita de Cássia”, garante (Foto: Divulgação)

São Paulo – Rita Cadillac era esperada para a sessão de pré-estreia do documentário sobre sua vida, que estreia nesta sexta-feira (9) em Belo Horizonte e outras praças. Ao chegar, recebeu um pequeno grupo de jornalistas em uma entrevista coletiva.

A cada um dos três primeiros (todos homens) a chegar, o cumprimento: “Oi, paixão!”. Em seguida, uma repórter (a primeira mulher) entrou na sala, e o tratamento variou: “Olá, criança!” Na hora de posar para fotos, fez graça e se divertiu com o fotógrafo que se posicinou atrás dela, a alguns metros, em busca de um ângulo, digamos, privilegiado.

 Aos 53 anos, Rita de Cássia Coutinho revela-se comovida por ter sua vida narrada em um documentário. “Não esperava virar tema de um filme, é uma homenagem em vida”, comemora. “Chorei muito ao ver o filme, pela primeira vez, no Cine Odeon, no Rio de Janeiro”, conta. Na ocasião, o filme estreiava no Festival da cidade em 2007.

Foto: Divulgação

Ela revela ter estabelecido uma relação de paciente-terapeuta com o diretor, Toni Ventura. “Ele foi um ótimo psicólogo, falei tudo e deixei (o conteúdo) nas mãos dele”, relata. Depois de três meses de filmagens e entrevistas quase diárias, Rita garante que só quis assistir ao resultado no final, sem qualquer palpite sobre o que deveria entrar ou ser deixado de fora.

O início da relação Rita conta que chegou a achar que a ideia de um documentário sobre ela era “pegadinha”. “Só uns dias depois da primeira ligação da produtora é que vi que era sério”, conta.

“O filme separa o lado pessoal da personagem”, opina. “Só no palco sou Rita Cadillac, uma personagem que baixa em mim. Fora disso, sou Rita de Cássia”, garante. Apesar disso, ela convive bem com a reação do público. “Eu gosto até das piadas. No dia em que eu passar em frente a uma obra e não ouvir ‘gostosa’, acho que me mato”, diverte-se.

A cada vez que é questionada, pede para os expectadores para assistir ao filme “com os olhos do coração”, porque o filme mostra seu “lado mulher e sua vida do modo mais digno”. “Queria ir a todas as sessões para ver as reações; sou mais povão do que chique”, arrematou.

Do pornô à política

Foto: Divulgação

Rita deixa claro que não enriqueceu durante a trajetória de dançarina e cantora e afirma que trabalha para ter o que comer. Foi de olho na aquisição de um apartamento próprio é que ela aceitou participar da produção de “A primeira vez de Rita Cadillac”, em 2006. “Alguns meses antes de topar participar do filme pornô, vi um programa de TV em que atrizes renomadas pediam uma cesta básica porque estavam sem dinheiro”, lembra. “Tive medo de terminar assim, com os programas explorando a situação”, revela.

Na ocasião, ela acreditava que sua carreira e as possibilidades de explorar a própria sensualidade em shows e apresentações aproximava-se do fim. Além do cachê, teve conseguiu uma sequência de exposição na mídia. Apesar disso, ela afirma não ter se sentido bem com a experiência.

Dois anos depois, aceitou outro convite, desta vez para ser candidata a vereadora em Praia Grande (SP). Ela disputou o cargo pelo PPS, mas garante não ter feito campanha. “Quando percebi que estava metida em um ninho de cobras, de gente que queria fazer de mim uma boneca, desisti”, afirma.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha de Rita de Cássia Coutinho movimentou R$ 6.338. Para não passar em branco, ela afirma ter mobilizado “duas meninas e uma variant velha”. Por conta da experiência traumática, ela não se mostra disposta a uma nova incursão na política.