Rede de cinema itinerante busca unir América Latina

São Paulo – Líderes de 18 projetos de cinema itinerante de dez países da América Latina e do Caribe resolveram se unir e lançar na quarta-feira (13), durante o Festival […]

São Paulo – Líderes de 18 projetos de cinema itinerante de dez países da América Latina e do Caribe resolveram se unir e lançar na quarta-feira (13), durante o Festival de Cinema Latino Americano de São Paulo, no Memorial da América Latina, uma rede de cinema itinerante que os una com o objetivo de compartilhar filmes, experiências e angústias. Na ocasião, foram exibidos cerca de dez curtas-metragens. Entre eles, a incrível animação “Vida Maria”, realizado por Marcio Ramos, que, através da escrita do nome em um caderno e a rotina de trabalho envolvendo mãe e filha, retrata de modo extremamente poético a dura vida no sertão nordestino.

“A ideia é juntar as pessoas que realizam esse tipo de trabalho de cinema itinerante e servir como parâmetro para outros grupos, trocando informações, experiências e discutindo os problemas. Atualmente, no Brasil, apenas 29% dos municípios possuem salas de cinema. Essa realidade é parecida no restante da América Latina. Por isso, há a necessidade de se criar um novo sistema de distribuição e exibição”, analisa Cynthia Alario, diretora da Brazucah Produções, responsável pelo Cine B, junto com o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

Trata-se de um circuito alternativo de exibição gratuita de filmes brasileiros em espaços comunitários e universitários do estado de São Paulo, através de uma estrutura itinerante. O grupo chega a uma determinada comunidade e entra em contato com a liderança comunitária, que trata de mobilizar todos os moradores. “A experiência de todas as pessoas de uma comunidade assistirem juntas a um filme na tela grande é extremamente enriquecedor, principalmente no que se refere ao convívio social”, opina Cidálio Vieira Santos, coordenador do Cine B. 

Um dos lugares que já recebeu o projeto foi o bairro de Vila Rica, em São Paulo. A presidente da associação de moradores, Bia Moreno, explica a importância dessa presença na comunidade: “Uma das coisas mais gratificantes é ver pessoas, que nunca haviam ido ao cinema, por ser caro e distante da casa delas, chorando pelo simples fato de estarem ali”.

Outro projeto brasileiro presente no evento foi o Perifacine Fascinante Itinerante Nosso, representado pelos biblioteconomistas Priscila Machado e Tiago Kinzári, e que atua desde 2007 na região de São Mateus, na zona leste de São Paulo. “Começamos produzindo documentários sobre a região e, como as pessoas queriam ver o que havíamos feito, fomos atrás de equipamentos para poder exibi-los. Desde então, atuamos no intuito de compartilhar conhecimento com entretenimento, para mostrar o que acontece na realidade, e funcionarmos como agentes multiplicadores”, relata Tiago Kinzári. “Também buscamos preservar a memória do que é produzido de forma independente na periferia”, acrescenta Priscila Machado.

“Nosso objetivo é implantar sistemas alternativos de exibição na América Latina, em que, se a pessoa não pode ir ao cinema, o cinema vai até lá. Acreditamos que a união da região através da sétima arte pode facilitar e intermediar processos de reconhecimento entre os países. O descobrimento do outro é que faz com que não se aceite certo preconceitos e torne possível o aprendizado de outras culturas”, avalia o colombiano Harold Ospina, diretor do festival de curtas-metragens Cine a La Calle (Cinema na Rua). “O principal da rede é podermos trocar filmes dos quais possuímos os direitos de exibição com os de outros países, além de entrarmos em contato com outros tipos de experiências. Por exemplo, nosso objetivo agora é levar para o México o mesmo sistema de cinemas móveis da Argentina, que contam com o apoio financeiro do estado”, acrescenta o mexicano Miguel Angel Mendoza, diretor do projeto La Carreta, pertencente a cinemateca Cine Morales, que realizou cerca de 15 projeções desde fevereiro de 2010.

A tecnologia empregada nos cinemas itinerantes também é algo que interessa aos representantes de todos os projetos, tanto que as únicas pessoas de fora da América Latina presentes no evento eram duas holandesas responsáveis pelo Solar World Cinema, que utilizam painéis solares para a projeção de filmes. “Todos nós temos o objetivo de levar o cinema a quem não o possui e vê, seja na praia, na favela, etc. Por isso, buscamos trocar experiências sobre uma tecnologia que tem como foco a preocupação com o meio ambiente”, conta Maartje Piersma, que se mostra surpresa por existir tantos cinemas móveis na América Latina, enquanto na Holanda elas atuam praticamente sozinhas.

Guilherme Bryan, para a Rede Brasil Atual

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