ONU: América Latina e Caribe formam a região mais urbanizada do mundo

Segundo relatório para Assentamentos Humanos, apesar de a renda per capita dos países dessas regiões ter triplicado desde 1970, ainda há grandes disparidades nesse crescimento

A ONU elogiou o programa de habitação da Venezuela, também o país menos desigual da região (Foto: Marcelo Garcia. Presidência da Venezuela)

São Paulo – Quase 80% da população da América Latina e Caribe vive em cidades, representando assim a região mais urbanizada do mundo. O dado é do relatório “Estado das Cidades da América Latina e Caribe”, produzido pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), divulgado hoje (21). Apesar de ser altamente urbanizada, o crescimento demográfico e a urbanização, processos que no passado foram muito acelerados, perderam força. Atualmente, a evolução demográfica das cidades tende a se limitar ao crescimento natural.

50% da população urbana reside atualmente em cidades com menos de 500 mil habitantes e 14% nas megacidades (222 milhões e 65 milhões de habitantes, respectivamente). Um importante destaque foi feito às cidades de tamanho populacional intermediário, nas quais o progresso no acesso a água, saneamento e outros serviços têm aumentado a atratividade.

Como o êxodo migratório do campo para a cidade perdeu peso na maioria dos países, as migrações são agora mais complexas e ocorrem principalmente entre cidades. Também, segundo o relatório, são relevantes os movimentos de população dentro das cidades, entre o centro da cidade e sua periferia, bem como entre centros urbanos secundários.

O estudo constatou que, com a expansão urbana, muitas cidades transbordaram seus limites administrativos e terminaram por absorver fisicamente outros núcleos urbanos. O resultado foi o surgimento de áreas urbanas de grandes dimensões territoriais, às vezes formalizadas em uma área metropolitana, composta por múltiplos municípios e com uma intensa atividade em todos os âmbitos.

“A região precisa promover uma política territorial e um planejamento urbano que melhorem os atuais padrões de crescimento urbano, evitando uma expansão dispersa da cidade e propicie o adensamento, com melhor utilização do espaço, evitando assim uma maior segmentação física e social”, relatou o texto.

Desenvolvimento econômico

As 40 principais cidades da América Latina e Caribe produzem anualmente um Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 848 bilhões de dólares. Desse total, estima-se que quase dois terços venha de áreas urbanas, onde se concentram os serviços e a indústria. Segundo o relatório, com o aumento das migrações, multiplicou-se o fluxo de remessas, o que pode representar mais de 10% do PIB em vários países.

Desde 1970, a renda per capita da América Latina e Caribe quase triplicou, porém veio com grandes disparidades. A evolução das taxas de urbanização tem sido constante em todos os países, enquanto a evolução da renda per capita foi mais variável, passando por ciclos e, em alguns casos, por retrocessos.

O relatório destacou os progressos significativos dos países latino-americanos e caribenhos na luta contra a pobreza nos últimos dez anos, mas ressaltou que ainda cerca de 124 milhões de habitantes de cidades vivem na pobreza, ou seja, um em casa quatro pessoas em áreas urbanas. A desigualdade “grave e persistente” também ganha destaque no relatório da ONU: “a desigualdade de renda é extremamente elevada e há, ainda, um déficit considerável de emprego e uma abundante informalidade trabalhista, que se concentram nos jovens e nas mulheres”.

Em termos econômicos, o peso relativo das megacidades está diminuindo em benefício de cidades menores, que oferecem condições mais competitivas. Destaca-se o dinamismo das cidades fronteiriças, cidades que se beneficiam de grandes investimentos industriais e cidades localizadas em corredores econômicos ou nos arredores de grandes aglomerações urbanas.

O relatório destaca que, para superar progressivamente a fragmentação social e urbana das cidades, é preciso combinar estratégias de crescimento econômico com políticas orientadas a corrigir a desigualdade de renda e qualidade de vida, assim como medidas de integração territorial e social.  “Para isso, é fundamental a articulação de políticas econômicas nacionais com estratégias de desenvolvimento urbano definidas nas cidades e regiões”, diz o texto divulgado.

Leia também

Últimas notícias