Operação Condor foi criada pela ditadura brasileira, afirmam ativistas

Durante seminário que discutiu as operações militares na ditadura, deputados e ativistas afirmaram que a verdade sobre torturas cometidas no período deve ser mostrada

Para ativistas, articulação da Operação Condor teve protagonismo do Brasil (Foto: Antonio Augusto/Agência Câmara)

São Paulo – A articulação política e militar das ditaduras na América Latina, chamada de Operação Condor, foi criada pelo regime brasileiro A posição é do presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke. O objetivo era eliminar ativistas de esquerda que lutavam contra a repressão em seus respectivos países.

Krischke contou que já ouviu muito sobre a responsabilidade dos Estados Unidos na operação, mas que não é possível aceitar que se isente o Brasil. “Quem criou a operação foi a ditadura brasileira; afirmo mesmo sem poder comprovar com documentos. Quando ocorreu o golpe no Chile, em 1973, o embaixador brasileiro no país disse: ‘Ganhamos’. Mais de cinco mil brasileiros estavam exilados lá. Logo depois do golpe, mais de 100 foram presos”, disse.

Já para o presidente da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antônio Barbosa, o Brasil foi um dos protagonistas da operação. “Em 1974, houve uma reunião de oficiais em Buenos Aires para um acordo sobre os mecanismos repressivos que seriam usados. A operação foi adotada como política de Estado”, disse hoje (5) em seminário sobre a Operação Condor promovido pela Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, na Câmara dos Deputados.

A professora e diretora do Programa de Estudos sobre a América Latina na Long Island University de Nova Iork, J. Patrice McSherry, fez um relato do papel dos Estados Unidos na Operação Condor. Ela afirmou que há evidências de que os Estados Unidos fortaleceram as ditaduras na América Latina e deram a elas uma aparência de legalidade.

A professora disse que nos anos 70, durante a Operação Condor, os Estados Unidos colocaram à disposição da operação um sistema de telecomunicações com base no Panamá. “Essa é uma prova do papel encoberto dos Estados Unidos na operação. Essa base de telecomunicação foi uma plataforma para a intervenção na América Latina”, disse. Ela afirmou ainda que os norte-americanos queriam manter a América Latina como uma área de influência, como um império informal. “Havia uma preocupação em combater o comunismo e havia interesse econômico e político na região”, afirmou.

Julgamento de torturadores

O advogado Antônio Campos disse que o julgamento das pessoas que cometeram tortura durante a ditadura militar não é vingança, mas justiça. “Mesmo que a justiça não seja feita, a história é sábia e colocará as coisas no seu devido lugar. A verdade prevalecerá”, afirmou.

Já Jair Krischke disse que será dada aos torturadores a oportunidade que eles negaram a suas vítimas: o direito a ampla defesa. “Esses crimes transcendem territórios nacionais, ofendem a humanidade, não podem passar em branco. Temos uma jurisdição internacional que mostra que a tortura é crime de lesa-humanidade e, por isso, imprescritível”, disse.

Eles se pronunciaram depois da participação de um estudante de direito que afirmou que sentia que havia uma busca de vingança e não de justiça em relação às vítimas da ditadura.

A deputada Érika Kokay (PT-DF) afirmou que é preciso resgatar a verdade para que se faça justiça. “Temos que romper a impunidade, não podemos sair da ditadura como se ela não tivesse existido. É preciso jogar luz na história para organizar o nosso futuro. Quantos querem enterrar os seus entes queridos e não conseguem identificá-los? Vamos fechar a ferida. A verdade cura”, declarou.

Com informações da Agência Câmara