Exumação revela projétil em restos mortais de vítima de Crimes de Maio

'Achado' pode reabrir investigação sobre a morte de Edson Rogério Silva dos Santos. Bala havia sido deixada no cadáver pelos legistas, que alegaram falta de ferramentas adequadas

São Paulo – Exames periciais realizados nos restos mortais do gari Edson Rogério Silva dos Santos, exumado no mês passado, localizaram um projétil. Edson foi assassinado em maio de 2006, em uma onda de violência que resultou em 493 mortes em um intervalo de dez dias, período que ficou conhecido como Crimes de Maio. Parte desses assassinatos foi cometida por policiais em revide a atentados contra agentes de segurança pública durante os ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) dias antes.

À época da morte, a bala foi mantida no cadáver. No atestado de óbito, os legistas justificam a não retirada do projétil em função da dificuldade e da falta de ferramentas adequadas. Em um procedimento normal, a bala teria sido retirada e usada para investigar a autoria do disparo. Por falta de provas, o caso de Edson, assim como das outras vítimas dos Crimes de Maio, está arquivado. 

“Esse projétil não poderia ter sido enterrado com o corpo e sendo enterrado o delegado ou o promotor de Justiça poderia ter lido o laudo e mandado tirar”, explica o defensor público Antônio Maffezoli, de Santos, no litoral paulista, onde o corpo foi enterrado. Para ele, o encontro do projétil representa “uma possibilidade concreta de investigação sobre a autoria da morte”. 

A bala agora deve ser comparada às de outras armas apreendidas, o que pode apontar, além do responsável pela morte de Edson, se um único instrumento foi usado para cometer mais assassinatos no período.

Federalização

Em função das diversas falhas e omissões nos inquérito, a Defensoria Pública de Santos, onde 53 mortes ocorreram, pediu, em 2010, a federalização das investigações. Mas, segundo Maffezoli, o pedido está parado. “Eu suspeito que a Procuradoria Geral da República saiba que o MP de São Paulo está fazendo esses procedimentos e por isso tomou essa postura de espera”, explica. 

“O que desejamos é que as investigações sejam reabertas. Os inquéritos permanecem arquivados. Eu não sei nem como posso chamar isso que está acontecendo agora porque não está previsto no Código Penal. O Ministério Público está fazendo uma espécie de investigação própria. Se achar algum fato novo, reabre os inquéritos. Mas isso não tem previsão de acontecer”, afirma. 

 

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