Ocupação cresce no centro de São Paulo e 15-O completa duas semanas

Ocupa Sampa, acampamento no centro da capital, foi marcada, nesta sexta-feira (28), por aula de história a abertura de Fórum Social. Movimento inspira-se em mobilização em países árabes e europeus

(Foto: ©Rafael Nepomuceno Costa/ Flick)

São Paulo – Prestes a completar duas semanas de ocupação no Vale do Anhagabau, na região central de São Paulo, o 15-O, denominado localmente de Ocupa Sampa, melhorou seu sistema de atividades e segue mais completo e moldado do que quando começou. Na avaliação dos ativistas, a agenda do movimento tornou-se mais completa, e foram organizadas comissões para aprimorar a comunicação entre os membros do grupo.

“Queremos construir algo novo”, prega Marcio Ribeiro, de 27 anos, pós-graduando em computação e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A ocupação tem inspiração em ações semelhantes realizadas ao redor do mundo, em países europeus e árabes. Apesar de não viver um cenário de crise econômica, o país apresenta razões para protestar, segundo o ativista. “No Brasil, as coisas não estão tão boas; mesmo sem uma crise pontual, isso não muda o fato de que mal escapamos de ser um país de terceiro mundo”, avalia.

Os acampados não condicionam o fim da ocupação a encontros com lideranças políticas, mas querem ser ouvidos. Na quarta-feira (26), a investida de alguns manifestantes foi contra o governador de São Paulo, Geraldo Alckimin (PSDB), na saída de uma sessão de cinema. O tucano foi convidado a participar de uma reunião no Anhagabaú no mesmo dia, mas Alckimin alegou que não poderia comparecer, nem quis definir agenda. O episódio foi registrado em vídeo divulgado pelo movimento.

Marcio destaca que a retomada dos espaços públicos para o diálogo é a principal meta, em sua visão, desses movimentos. “Não estamos reagindo, fazemos uma proposição de diálogo, estamos propondo nos reunir.” Apesar do desemprego nos EUA, ele comenta que diversos integrantes do Ocupe Wall Street, em Nova York, estão empregados, da mesma forma que muitos dos integrandes do 15-O.

Desde o dia 15 de outubro, membros do Ocupa Sampa dormem sob o Viaduto do Chá. Na primeira semana de ocupação, eles enfrentaram problemas com a Guarda Civil Metropolitana (GCM), sendo proibidos de pintar ou pendurar cartazes nas paredes do local. Na Justiça, eles tiveram um mandado de segurança indeferido a princípio, mas agora montaram um acampamento mais estruturado.

No dia 20, eles protocolaram um ofício ao comandante José Vicente Faria Lima, da GCM, comunicando sobre a manifestação e pedindo que medidas sejam tomadas visando a evitar as ameaças e represálias que eles alegam terem sofrido dos policiais da guarda. As denúncias foram discutidas na Comissão de Direitos Humanos na Câmara de Vereadores da capital, mas nenhuma ação concreta chegou a ser tomada de imediato.

Desde o início da ocupação, barracas foram instaladas e as comissões de divulgação e “Boas-Vindas” montaram mesas e quadros de informação. Marcio faz parte do comitê que recepciona jornalistas e outros interessados na manifestação. Ele conta que a forma de coordenação é “bem orgânica”, sem cúpulas que gerenciem atividades. A agenda de aulas e debates é definida por uma comissão específica de horários.

Na quinta-feira (21), foi ministrada a primeira aula no local, por iniciativa da antropóloga Rita Alves, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A partir daí a ideia ganhou força, levando a aulas com cerca de 200 pessoas, como foi o caso nesta quarta (26), com o professor Vladimir Pinheiro Safalte, da Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), sob o tema “Primaveras, Políticas e Estados”. No sábado (29), será a vez do professor Paulo Arantes (USP) ministrar aula aberta às 17h.

Colegas

São poucas as pessoas que seguem acampadas desde o início, Marcio, por exemplo, passa metade de seu tempo com o grupo e a outra metade em Campinas, onde reside. Ao mesmo tempo, pessoas em situação de rua aderiram às instalações no Anahgabaú. Ancerso Henrique Gomes, de 25 anos, mora na rua desde os 10 anos, e calcula haver 20 participantes do movimento na mesma situação. Eles também ajudam na organização dos horários, limpeza, e na hora de anunciar as atividades do dia por meio de megafones.

“Sou comunista também, nunca votei, não gosto de político. Prefeito nenhum nunca teve a minha colaboração”, avisa Anderson, exaltado. Ele esclarece que os moradores não só se aproveitam da estrutura dos manifestantes, que conseguiram organizar uma reserva de água e alimentos no local. “Nós ajudamos também, acordamos o pessoal, chamamos para as reuniões. É importante, porque eu vi que eles defendem os moradores de rua também”, descreve.