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Covid-19 grave em crianças pode se manifestar de forma atípica e com sintomas variados

Dor abdominal, convulsão, dor no peito e palpitação são alguns sintomas de covid-19 identificados em crianças e que podem ser confundidos com outras doenças

Michael Appleton/Fotos Públicas
Michael Appleton/Fotos Públicas
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou um documento sobre a covid-19 em crianças e adolescentes. Foi verificada uma maior probabilidade de morte no pa´ís do que na comunidade internacional

São Paulo – Febre, tosse, cansaço e desconforto respiratório. Os sintomas clássicos da covid-19 já são bastante conhecidos da maior parte da população. No entanto, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP identificaram que a forma grave de covid-19 em crianças e adolescentes, chamada de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), pode se manifestar de forma totalmente diferente e ser confundida com outras doenças, dificultando o diagnóstico médico. Entre os sintomas estão fortes dores abdominais, dores no peito e palpitação e convulsões, configurando três quadros diferentes da doença pulmonar que leva à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

O estudo, publicado na revista científica The Lancet, se deu por meio de autópsias de cinco crianças e adolescentes que morreram de complicações da covid-19. Duas delas tinham doenças prévias e três eram consideradas saudáveis. As análises comprovam a presença de lesões causadas pelo novo coronavírus em todos os órgãos vitais do corpo, associadas à SIM-P. De acordo com a pesquisadora Marisa Dolhnikoff, que coordenou o estudo, o resultado reforça a importância de buscar o diagnóstico de covid-19 em crianças com febre persistente, mesmo que tenham manifestações clínicas diferentes.

Os pacientes com doenças prévias eram um com malformações congênitas e outro com câncer. “Esses dois pacientes desenvolveram a forma mais clássica da covid-19, com doença predominantemente pulmonar, associada a complicações das doenças prévias”, explicou Marisa.


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Os outros três eram previamente saudáveis e desenvolveram a SIM-P, com três manifestações distintas: inflamação do coração (miocardite) e insuficiência cardíaca; fortes dores abdominais (colite), simulando uma apendicite; e quadro predominantemente neurológico, com múltiplas e constantes convulsões. “Esses três pacientes tinham em comum o sobrepeso ou obesidade, frequentemente associada ao maior risco de covid-19 grave, tanto entre adultos como em crianças”, apontou.

Segundo a professora, os resultados da pesquisa reforçam que, apesar de rara, a covid-19 grave pode acometer crianças e levar à morte. E é preciso ficar atento às manifestações em crianças e sempre considerar a hipótese de infecção pelo novo coronavírus.  “As manifestações clínicas diferentes podem dificultar bastante o diagnóstico da SIM-P, por isso, é muito importante que, em crianças com quadro de febre persistente que apresentem quaisquer dessas apresentações clínicas, o diagnóstico de infecção pelo novo coronavírus seja considerado e investigado, para que o tratamento seja iniciado adequadamente”, explicou Marisa.


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Segundo a pesquisa, a SIM-P nas crianças pode ocorrer alguns dias ou semanas após a infecção pelo novo coronavírus. Mas, até agora, se pensava que a reação inflamatória exacerbada acontecia mesmo que o vírus não estivesse mais presente no organismo, como resultado de uma reação imunológica descontrolada. O estudo da USP traz evidências de que a SIM-P pode ser desencadeada também pela ação direta do novo coronavírus nas células dos órgãos infectados.

“Não estamos dizendo que o que está descrito até agora sobre a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica está errado, mas acrescentamos a constatação de que a própria lesão causada nos tecidos pelo vírus está relacionada e, muito provavelmente, é um componente importante para a indução dessa resposta inflamatória exagerada em crianças. É importante que os pediatras atentem para essas possíveis manifestações clínicas diferentes de covid-19 em crianças e adolescentes para que a infecção seja diagnosticada e a SIM-P tratada mais rapidamente”, ressaltou Dolhnikoff.

Apesar de grave, a SIM-P pode ser tratada e a maioria das crianças e adolescentes acometidos se recupera plenamente.


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