Crime de responsabilidade?

Para senadores, Bolsonaro agiu com intenção de espalhar o vírus da covid-19

Na próxima semana, CPI da Covid vai ouvir o diretor da Anvisa, Antônio Barra Torres, o advogado Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social do governo, e o ex-chanceler Ernesto Araújo

Alan Santos / PR
Alan Santos / PR
Bolsonaro continua a criticar as medidas necessárias para combater a pandemia no país

São Paulo – A responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro na expansão da pandemia está patente após a primeira semana de trabalho da CPI da Covid. Bolsonaro agiu com intenção de espalhar o vírus da covid-19 para que fosse atingida a imunidade de rebanho, uma tese furada do ponto de vista da ciência.

Essa é a avaliação dos senadores Rogério Carvalho (PT-SE) e Humberto Costa (PT-PE) sobre a fase inicial de depoimentos, que contou com os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, e o atual ministro da pasta, Marcelo Queiroga.

Carvalho sublinhou que o presidente defendeu remédios sem eficácia, incentivou aglomerações, vetou o uso de máscaras para proteção contra o vírus e não buscou as vacinas para imunizar a população. O senador acrescentou que Bolsonaro continua a atrapalhar a entrega de insumos ao país por conta de acusações à China e segue a combater o isolamento social, necessário para conter a pandemia.

Agenda da próxima semana

Na próxima semana, a CPI vai ouvir o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, cujo depoimento estava marcado para esta quinta-feira (6), mas foi transferido para a próxima terça-feira (11). Na quarta-feira (12), será ouvido o advogado Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social do governo. A CPI ouvirá na quinta-feira (13) o ex-chanceler Ernesto Araújo e representantes do laboratório Pfizer.

Na opinião do senador Humberto Costa, a primeira semana de CPI foi “muito boa”. Para ele, os depoimentos dos ex-ministros da Saúde mostraram que, na prática, Bolsonaro tentava mudar as orientações técnicas de enfrentamento à pandemia, ignorando princípios científicos adotados ao redor do mundo.

“O tempo inteiro os depoentes corroboraram a visão de que Bolsonaro atuou intencionalmente para que houvesse uma transmissão ampla do vírus, para que fosse atingida o que se chama de imunidade coletiva de rebanho. Isso, na prática, é um grande crime, se for verdade, pois ele assumiu o risco de muita gente morrer, o que efetivamente aconteceu”, lamentou.  

Dificuldades para acesso à vacina

Quanto aos próximos convocados, Humberto Costa disse que o depoimento do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo se justifica pelo fato de ele ter tido um papel importante na criação de dificuldades para a negociação de vacinas contra a covid-19. Rogério Carvalho também destacou a convocação do ex-chanceler. De acordo com o senador, Araújo tem muito a esclarecer sobre o que não fez e porque não se mobilizou para salvar vidas, com parcerias internacionais e busca de tecnologia, fechando as portas em várias partes do mundo que poderiam estar ajudando o país neste momento.

“Se a CPI focar no crime contra a vida que vem sendo cometido, a gente vai chegar à responsabilização de agentes públicos da República, que agiram para garantir a expansão da pandemia e não pelo seu controle”, afirmou o senador.

Para o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), a oitiva de Araújo é relevante. Ele disse que é importante ouvir o ex-ministro para entender o relacionamento do Brasil com outros países que são grandes fornecedores de insumos ou de vacinas já prontas. Segundo Vieira, as decisões da pasta tiveram um impacto claro na baixa disponibilidade de vacinas para os brasileiros. Também para Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o ex-ministro Ernesto Araújo tem responsabilidade direta na política de aquisição internacional de vacinas.

“Hoje temos apenas 7% dos brasileiros vacinados. Esse atraso me parece ter uma responsabilidade direta do MRE durante a gestão do ex-chanceler”, apontou o senador.

Com informações da Agência Senado

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