Brasil-Alemanha

Dilma defende negociações em bloco e atenção à crise sem descuidar do social

Em evento com presidente da Alemanha, presidenta sugere maior interlocução entre Mercosul e União Europeia contra efeitos da crise e pede apoio à Comissão da Verdade

Marcelo Camargo/ABr

Presidentes Joachim Gauck e Dilma Rousseff discutem ampliação de investimentos entre os países

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff afirmou hoje (13) que as relações entre regiões, mais do que entre países, devem ter papel crescente nas políticas para superação das crises como a que abala a Europa. “O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia será muito importante. O Brasil, junto com seus sócios do Mercosul, vai trabalhar por um acordo ambicioso, abrangente e equilibrado com a União Europeia”, disse, na cerimônia de abertura do 31º Encontro Econômico Brasil-Alemanha (EEBA), em São Paulo.

Dilma discursou logo em seguida ao presidente da Alemanha, Joachim Gauck. A presidenta destacou a escolha do diplomata brasileiro Roberto Azevêdo para a direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), anunciada na última semana: “O comércio internacional participará na superação da crise. A eleição de um brasileiro para a OMC nos orgulha e nos traz a certeza que a OMC será fortalecida para chegar a um acordo multilateral com a Comunidade Europeia”. O brasileiro assume o posto em setembro.

A presidenta aproveitou o evento para enviar um recado ao Congresso Nacional sobre a importância dada pelo Planalto à aprovação da MP dos Portos. O governo federal mobiliza uma verdadeira força-tarefa nesta segunda-feira para conseguir aprovar a medida na Câmara, para que possa seguir ao Senado ainda esta semana. A validade da MP se esgota na quinta (16). “Estamos num momento muito importante, que é a votação da MP dos Portos, abrir os portos ao investimento privado, ampliando mais a competitividade”, pontuou.

De acordo com Dilma, dos US$ 233 bilhões de dólares que serão investidos na expansão da infraestrutura e da produção de energia nos próximos anos, mais de 50% serão destinados ao setor de logística (estradas, ferrovias, aeroportos, portos).

A presidenta enfatizou a participação da recém-criada Secretaria da Micro e Pequena Empresa no desenvolvimento de novas políticas, também com vistas à proteção da economia doméstica. “Nosso desafio é que pequenas, médias e microempresas sejam componentes de um tecido social que, como na Alemanha, se torne mais resistente às crises. Essas empresas terão linha de crédito, desburocratização e racionalização tributária”, declarou. Na semana passada, tomou posse o novo ministro da pasta, o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (PSD).

Nas relações entre Brasil e Alemanha, ela manifestou expectativa com a ampliação das relações comerciais e lembrou o crescimento verificado entre 2005 e 2010, período em que 50 empresas brasileiras se instalaram na Alemanha.

Dilma ressalvou, porém, que os efeitos da crise internacional exigem atenção às políticas de promoção da inclusão social. “Ninguém está a salvo dos efeitos nefastos da crise. (E a crise) Só vai ser superada com crescimento inclusivo e crescimento da competitividade. Fomos o país que entre 2008 e 2012 mais reduziu o desemprego. Estamos procurando as formas para enfrentar o desafio de elevar nossa competitividade.” Segundo ela, uma mostra de que as políticas têm dado resultados ao longo desse período foi a diminuição da divida pública de 60,4% para 35,2% do Produto Interno Bruto (PIB).

Direitos humanos

Antes da solenidade, em reunião com Gauck, Dilma pediu o acesso a arquivos da Alemanha que possam ajudar os trabalhos de investigação da Comissão Nacional da Verdade – que apura crimes de Estado praticados durante o regime autoritário. Ele demonstrou receptividade. “Eu fui, ao longo de muitos anos, responsável pelos arquivos da ditadura comunista. Era necessário preservar arquivos que diziam respeito a pessoas inocentes. Quando se trata de preservar o passado, eu sou perito”, disse o chefe de Estado alemão, referindo-se ao período anterior à unificação das Alemanhas Oriental e Ocidental.

“O futuro sucesso do Brasil também para nós se transforma em oportunidade, pois compartilhamos democracia, estado de direito e direitos humanos”, discursou Gauck. “Se falo em valores comuns, posso falar em responsabilidades comuns. A solidariedade é levada a sério no Brasil. O Brasil assume posições responsáveis e corajosas.”

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