Euro: perigos ortodoxos e heréticos.

A novela do euro continua. Com personagens surpreendentes. O mais novo é o “Partido dos Verdadeiros Finlandeses”, que cresceu 4 vezes na eleição nacional da Finlândia em meados de abril. […]

A novela do euro continua.

Com personagens surpreendentes. O mais novo é o “Partido dos Verdadeiros Finlandeses”, que cresceu 4 vezes na eleição nacional da Finlândia em meados de abril. De extrema-direita, o partido reúne tudo o que de mais conservador existe na Finlândia e na Europa. É contra casamento gay, imigrantes, Islã. E também é contra a União Européia – apesar do país estar na zona do euro. Posicionou-se contra uma ajuda da U. E. a Portugal.

Agora o PVF vai integrar o próximo governo. Ocorre que as ajudas financeiras na zona do euro têm que ter aprovaçào unânime de seus membros. A Finlândia tem, assim, poder de veto.

Agora, se Portugal não receber a ajuda, o governo terá de “reestruturar” a dívida. Traduzindo: vai declarar falência. Se isso acontecer, os bancos espanhóis entrarão em graves dificuldades. Os alemães também, mas como o governo alemão já os ajudou sobejamente (com empréstimos sem juros – imagina se algum de nós obteria isso!), não estarão tão mal. Isso porque os bancos desses países são os principais credores da dívida portuguesa. Se o sistema financeiro espanhol periclitar, a Espanha também quebra, como Portugal quebrou.

Nesse caso, o fundo de emergência para defesa do euro, de 750 bilhões dessa moeda, não será suficiente para socorrer simultaneamente Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, com a Itália na sala de espera. A liquidez do fundo é de cerca de 440 bilhões. Ou a Alemanha, que é verdadeiro Tesouro Supranacional do Euro, entra com mais capital, ou o fundo também colapsa. Mas se a Alemanha entrar com mais dinheiro, quem pode entrar em colapso é o governo de Ângela Merkel, que já está fazendo a’gua  nas eleições regionais. Já perdeu Hamburgo e Baden-Würtemberg: naquela cidade estava no poder há 10 anos, e em B. W. há mais de 50!

Recentemente o povo da Islândia votou em plebiscito que não aprova pagar a suposta dívida do país com o Reino Unido e a Holanda porque os governos destes indenizaram seus investidores quando fundo islandês Icesave faliu, na crise de 2008. Reino Unido e Islândia estão fora da zona do euro. Assim mesmo, são vizinhos, e heresias como essas, do ponto de vista da ortodoxia econômica, são contagiantes.

Como se tudo isso não bastasse – além das inquietudes crescentes na Grécia e Irlanda, e além do governo da França estar investindo pesadamente num novo imperialismo requentado África afora e adentro – uma nova marola perigosa levanta-se no oriente. Não é, dessa vez, a radiação de Fukushima. É o processo inflacionário chinês, que cresce e ameaça a estabilidade da economia do país. Se a China tiver que adotar medidas ortodoxas para conter a inflação – diminuição do crédito e do meio circulante – a economia mundial vai sofrer, e a européia e a alemã sofrerão muito mais. A Alemanha está saindo da crise graças às exportações para a China e também o sudeste asiático. Se isso cair, a Alemanha vai para a beira do buraco de novo, e com ela o euro.

Em suma, o horizonte está tempestuoso. Se a tempestade desabar, aí sim as heresias ganharão força.