economia

Marina, com campanha coordenada por herdeira do Itaú, critica lucro dos bancos

Candidata do PSB diz que autonomia do Banco Central não é medida pró-mercado financeiro, mas que retira instituição das mãos dos que 'acabaram com a Petrobras', e afirma que inflação voltou

Léo Cabral/Campanha Marina/Fotos Públicas

Marina durante ato em BH: na capital mineira, candidata igualou críticas de Aécio sobre estatais

São Paulo – A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, reforçou hoje (9) em Belo Horizonte críticas à política econômica do governo Dilma Rousseff (PT), sua maior adversária na corrida pelo Palácio do Planalto. E voltou a defender a primazia do tripé macroeconômico, que jamais foi abandonado desde a ascensão de Lula, como forma de oferecer “tranquilidade” aos mercados e atrair investimentos.

A ex-senadora também criticou os “juros elevados” praticados no país e, em resposta às insinuações de que entregará o Brasil aos bancos, lembrou dos “lucros excessivos” obtidos pelas instituições financeiras durante as administrações petistas. Marina ainda reafirmou sua defenda de um Banco Central autônomo, dizendo que, com isso, irá retirá-lo da influência do PT para devolvê-lo aos brasileiros. E sugeriu que com Dilma a inflação pode voltar aos tempos anteriores ao Plano Real.

“A autonomia do Banco Central é para que esteja a serviço dos brasileiros, não de um grupo ou partido. Isso é fundamental para que se controle inflação e para que se tenha credibilidade para o país voltar a crescer”, assegurou Marina, afirmando que, com Banco Central autônomo, não será o mercado, mas o povo, quem controlará a política econômica do Brasil. Em seu programa de governo, a candidata defende “institucionalizar” a autonomia do Banco Central, uma das principais reivindicações do mercado financeiro, com mandato fixo para seu presidente.

A questão foi tratada pela primeira vez por sua coordenadora-geral de campanha, a socióloga Neca Setúbal, herdeira do Itaú, que afirmou que a questão será tratada por meio de projeto de lei. Presidente e diretores do Banco Central teriam mandato de seis anos, frente a quatro do presidente da República, e a demissão só ocorreria em casos de extrema gravidade, como denúncias comprovadas de corrupção.

“A autonomia sempre existiu, mas está corroída agora por causa da contabilidade criativa do governo, do controle artificial da inflação, da baixa credibilidade do governo, o que está diminuindo os investimentos”, disse Marina. De acordo com a candidata, a autonomia que conferirá ao Banco Central é para que a instituição tenha “autonomia dos grupos que acabaram com a Petrobras” e para “proteger” os interesses da sociedade. “O Banco Central a serviço dos grupos e partidos que fizeram a festa é que é um grande prejuízo aos brasileiros.”

Marina ainda lembrou que, assim como ela, Lula também fez acenos ao mercado financeiro na iminência de sua eleição, em 2002. “Quando Lula ganhou, ele fez uma Carta aos Brasileiros. Lá, ele se comprometia em manter os ganhos da política macroeconômica. Isso foi o compromisso que assumiram, mas infelizmente, com Dilma, nada disso está acontecendo”, disse a ex-senadora. “A inflação voltou, os juros são altíssimos. São quase R$ 200 bilhões de lucro dos bancos. Eles se comprometeram com crescimento, mas o país não tem credibilidade para investimentos.”

Nem a taxa de juros nem a inflação “escandalosas” denunciadas por Marina – e também por Aécio Neves, candidato do PSDB – guardam relação com a realidade.

A inflação medida pelo IBGE entre janeiro e agosto está em 4,02%, abaixo do centro da meta estabelecida pelo governo, que é de 4,5%. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto de 2013 a agosto de 2014, também medido pelo IBGE, é de 6,51% – 0,01 ponto percentual acima do teto da meta. A média da inflação entre 2011 e 2013 foi de 6,1% ao ano. Nos anos Lula, 5,8%. Com FHC, 9,1%.

Atualmente, a taxa básica de juros está em 11%. Voltou a subir em abril do ano passado depois de alcançar, em 2012, o seu menor índice em quase vinte anos: 7,25%. Ainda assim, a taxa Selic praticada hoje em dia por Dilma não é muito distante da média dos juros da gestão anterior. Com Lula, o índice variou de 26,5% a 8,75%. Com Dilma, o patamar mais alto se deu em julho de 2011, com 12,5%. Durante o governo FHC, a Selic chegou, em março de 1999, a 45%.

Apesar dos números, que não citou em nenhum momento, Marina reiterou que Dilma rompeu teto da própria meta de inflação e ressaltou que isso pode trazer riscos à renda do trabalhador. “Deixaram de lado o objetivo da meta, chegou ao centro, foi além e agora já atravessou o teto”, insistiu, repetindo que o país pode voltar aos tempos anteriores ao Plano Real. “Temos de controlar a inflação, não ultrapassar as metas, para não voltar aos tempos em que o salário do trabalhador era inteiramente corroído.”