Embate

Na TV, Dilma afirma que demagogia cria impressão distorcida sobre corrupção

Presidenta acusa cinismo e demagogia e diz que oponentes tentam passar a ideia de que combate ao problema depende de super-homem ou super-mulher. Marina defende autonomia do BC e enfrentamento de desvios

Ichiro Guerra/Campanha Dilma

Presidenta buscou marcar diferença com antecessores, acusados de engavetar denúncias

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição, usou hoje (11) a maior parte do horário eleitoral na televisão para recusar a associação dela às denúncias feitas nos últimos dias sobre a gestão da Petrobras. Ao mesmo tempo, ela criticou a postura adotada pelos dois principais adversários, Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), frente ao episódio.

“Alguns candidatos tentam passar a ideia de que acabar com a corrupção depende apenas da vontade de um super-homem ou uma super-mulher. A experiência mostra que isso nunca dá certo, em nenhum lugar do mundo”, disse a presidenta, afirmando ainda que seu nome nunca esteve associado a denúncias de corrupção.

Os apresentadores do programa da petista abordaram uma série de iniciativas tomadas pelos governos de Lula e Dilma no combate à corrupção, e reiteraram que existe uma diferença grande entre o que ocorria antes de 2003, com uma atuação mais firme e independente da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. A nova lei anticorrupção, que prevê a punição de empresas envolvidas em relações ilegais com o poder público, foi mostrada como uma das mais avançadas do mundo.

Nos últimos dias, Aécio e Marina têm se valido de denúncia publicada pela revista Veja a respeito do pagamento de propina pela Petrobras a governadores, deputados e senadores. A candidata do PSB adotou discurso difundido pela mídia tradicional a respeito do “fim” da empresa estatal, que estaria imersa em aparelhamento e ineficiência.

Dilma trabalhou durante o programa eleitoral a ideia de que esta é a primeira vez que se está enfrentando a corrupção, o que faz com que escândalos venham à tona e provoquem mal-estar na população. “Quero que vocês reflitam sobre uma questão bem complicada. Os juízos que a gente faz sobre a corrupção nascem às vezes de percepções distorcidas. Quando mais a corrupção aparece, mais parece que ela cresce, e quando se oculta, se abafa, se engaveta, se cria a ilusão de que ela não existe”, defendeu.

“Fora desse compromisso só resta a hipocrisia, o cinismo ou o silêncio conivente. Estou convencida de que não é isso que os brasileiros querem. A gente não tem de ter medo de ir fundo porque a verdade liberta, enquanto a mentira cria a falsa ilusão de que tudo está bem-sucedido. Mas também precisamos ficar atentos porque a demagogia cria a falsa impressão de que tudo piora. Precisamos ter a coragem de enfrentar as dores do nascimento de um novo Brasil.”

Já a adversária do PSB, Marina Silva, usou seus dois minutos na televisão para responder a perguntas gravadas nas ruas a respeito de temas que têm lhe valido críticas por parte de Dilma. O locutor do programa afirmou que os ataques vêm da petista, mas que a ex-senadora dialoga diretamente com o povo brasileiro.

“Os recursos do pré-sal são para saúde e educação. Não vamos permitir desvio para a corrupção”, disse, numa tentativa de reverter o problema criado pela falta de ênfase de seu programa de governo à extração do petróleo. O pré-sal, que se estima destinará R$ 1 trilhão para saúde e educação ao longos dos próximos anos, é citado apenas uma vez. Em outro trecho, o documento fala na necessidade de adotar fontes alternativas aos combustíveis fósseis, o que foi usado pela campanha do PT para dizer que Marina coloca em risco as riquezas encontradas pela Petrobras.

Outra questão sobre a qual a candidata voltou a falar foi a independência do Banco Central, defendida em seu programa de governo como uma medida a ser tomada o mais rapidamente possível. A ideia é definir mandatos fixos para diretores e presidente, que só poderiam ser retirados em casos graves, como denúncias comprovadas de corrupção. “A autonomia do Banco Central é para nomear técnicos competentes, definir as metas que devem alcançar e garantir que trabalhem sem interferência dos políticos que só trabalham para as próximas eleições.”

Na propaganda do PT, a proposta de Marina foi exibida como um risco por entregar ao mercado financeiro o controle sobre a política econômica do país, levando a desemprego e perda de poder de compra.

Com situação difícil na corrida para chegar ao segundo turno, Aécio lançou mão do apoio de correligionários para pedir votos. Foram exibidas falas de José Serra, Marconi Perillo, Arthur Virgílio, Antonio Anastasia, ACM Neto, Álvaro Dias, Beto Richa, Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso.

O ex-presidente, que, a exemplo de 2010, não é visto em atos ao lado do candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, declarou que o Brasil precisa de “uma pessoa com a cabeça nova, com coragem, com força para fazer diferente”.

Já o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, apareceu na propaganda de Aécio falando de seu tema preferido na disputa estadual. “Aécio foi governador e sabe do papel que o presidente pode ter na batalha da segurança, controlando as fronteiras, que é por onde entram as drogas e as armas, que são o principal alimento da violência no Brasil.”