extrema direita

Comissão de Direitos Humanos da Câmara pede apuração de ameaças a 13 ativistas

Entre os ameaçados por grupo radical de direita do Uruguai está um brasileiro que combateu a ditadura no país

Alex Ferreira / Câmara dos Deputados

“A intimidação não deve ser ignorada”, diz ofício, protocolado pelo deputado Padre João (PT-MG)

São Paulo – O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, deputado Padre João (PT-MG), e os dois vice-presidentes, Paulo Pimenta (PT-RS) e Nilto Tatto (PT-SP), solicitaram apuração das ameaças de morte dirigidas a 13 ativistas e autoridades públicas por um grupo paramilitar de extrema-direita do Uruguai, denominado Comando Barniex. A lista de nomes dos ameaçados, em geral pessoas que lutaram contra a ditadura uruguaia, foi enviada por e-mail ao procurador de Justiça uruguaio Jorge Díaz, no último dia 17.

O pedido de apuração foi endereçado à Secretaria-Geral da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, aos cuidados do secretário Paulo Abrão; à presidência da Mesa Diretora do Parlamento do Mercosul, hoje a cargo do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP); e para a procuradora dos Direitos do Cidadão, vinculada à Procuradoria-Geral da República, Deborah Duprat.

“A intimidação contra as 13 pessoas não deve ser ignorada, dado o histórico dos militares que cometeram gravíssimas violações de direitos humanos no Uruguai e a conexão internacional que mantiveram para o cometimento de crimes durante as ditaduras militares no Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai, com apoio dos EUA”, dizem os deputados no ofício.

Entre os ameaçados, está o gaúcho Jair Krischke, de 78 anos, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos e conhecido por ajudar militantes contrários à ditadura uruguaia a conseguir asilo político. A embaixada brasileira em Montevidéu foi comunicada e o governo local já iniciou investigações. O Ministério do Interior do Uruguai encaminhou um ofício ao cônsul geral do Brasil no país comunicando a ameaça.

No e-mail recebido pelo procurador de Justiça, reproduzido pelo jornal uruguaio Brecha, o grupo de extrema-direita diz que “o suicídio de Barneix não ficará impune, não se aceitará. Nenhum suicídio a mais pelos processos injustos. Para cada suicídio a partir de agora, mataremos três escolhidos ao acaso”, ao que se seguem os nomes, entre os quais o de Kirschke. Constam também outros dois estrangeiros: o jurista francês Louis Joinet e a pesquisadora de Oxford Francesca Lessa, natural da Itália.

O nome do grupo é uma homenagem ao general Pedro Barneix. Em 2015, depois de três anos respondendo a processo por homicídio e outros crimes na ditadura, o militar não compareceu a um depoimento após intimação e a Justiça ordenou que a polícia fosse procurá-lo. Quando o encontraram, Barneix havia se suicidado com um tiro na cabeça, em 2 de setembro daquele ano.

“Essas ameaças são para mim novos desafios. Só os loucos não têm medo. Por parte desses fascistas é um reconhecimento da minha luta. Quando eles nos ameaçam estão colocando medalhas no nosso peito. Fizemos coisas pelos direitos humanos que incomodaram”, diz Krischke. “Temos uma arma terrível para eles, que é a verdade. Ela é imbatível. Vamos à luta!”

Na última quarta-feira (1º), a Comissão Interamericana de Direitos Humanos emitiu uma nota condenando as ameaças de mortes e exigindo que o país adote “medidas urgentes para assegurar a segurança dos operadores de Justiça”.