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Marta não abandonou a política. Traiu os eleitores e foi abandonada

Como dizia Brizola, “a política ama a traição mas abomina os traidores”. Sem chances de se reeleger e descartada até para vice de Skaf em São Paulo, a senadora paga por ter se aliado aos golpistas
por Helena Sthephanowitzpublicado 06/08/2018 12h28, última modificação 06/08/2018 13h13
André Corrêa/Agência Senado

Fim melancólico: senadora Marta Suplicy saiu do PT, aliou-se a Cunha e a Temer para derrubar Dilma e acaba abandonada pelo próprio MDB

Três anos depois de ser recebida de braços abertos no PMDB (agora MDB) por gente como Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Michel Temer e companhia e de ser denunciada e investigada no STF – acusada de receber recursos não contabilizados para campanhas eleitorais –, a senadora por São Paulo Marta Suplicy divulgou uma “carta aos paulistas”, nesta sexta-feira (3), na qual comunicou sua desfiliação e a desistência de disputar a reeleição ao Senado, e por último, que está abandonando a política. Em nota que divulgou à imprensa (leia abaixo), ela diz genericamente que, encerrado seu mandato, vai passar a atuar na “sociedade civil”. Na mesma carta, a senadora criticou partidos políticos, o toma lá dá cá, a ocupação de cargos no Executivo, mas em momento algum fez críticas ao MDB ou a Temer, com quem diz ter boas relações.

Na cerimônia de filiação ao partido – depois de sair atirando contra o PT –, Marta discursou: “O PMDB quer um Brasil livre da corrupção e das mentiras, livre daqueles que usam a política como meio de obter vantagens pessoais”. E afirmou: Temer “vai reunificar o país”. 

Recordista de impopularidade, sem credibilidade, alvo de dois inquéritos e três denúncias criminais, Temer não pacificou, muito menos unificou o país. Mas uniu 83% dos brasileiros, contra si mesmo. E só não caiu porque financiou sua permanência na presidência com dinheiro público.

Mas essa não foi a causa da desfiliação da senadora emedebista. Jornalistas que cobrem os bastidores da política em Brasilia publicaram algumas vezes que a senadora vinha se queixando da falta de prestígio no partido e reclamou de não ter sido nem ao menos cogitada para ser vice do candidato ao governo paulista Paulo Skaf (MDB). Também teria pesado na decisão a última pesquisa do Ibope, divulgada em julho, mostrando Marta Suplicy em terceiro lugar na disputa deste ano ao Senado.

Pela lealdade que jurou a Temer, Marta traiu seus eleitores e a própria democracia, quando votou pelo impeachment da presidenta Dilma no Senado, em maio de 2016. Em uma entrevista após a votação a senadora declarou: “Meu voto pelo impeachment não é relevante para o eleitor da periferia”. Um mês depois, a senadora foi ao bairro de Guaianases, periferia da capital paulista, sondar a aceitação de sua candidatura à prefeitura de São Paulo. Encontrou justamente os eleitores que ela achou que não se incomodariam com seu voto que ajudou derrubar Dilma. Ouviu críticas severas pelo fato – e pelas razões – de ter deixado o PT e foi chamada de traidora. Saiu derrotada.

Certamente, essa população da periferia mostrou não confiar em quem participou do golpe. E muito menos em quem votou contra os trabalhadores, ajudando a aprovar, por exemplo, a “reforma” trabalhista proposta por Michel Temer, que está destruindo a rede de proteção aos direitos dos trabalhadores do país.

O modo como Marta Suplicy cavou o buraco em que se meteu lembra a derrocada de Fernando Gabeira, que fez carreira política no PV e no PT. Com o processo do chamado “mensalão”, entrou no barulho da “grande mídia”, e resolveu bandear-se para os lados do DEM, PSDB, PMDB e nanicos similares, virou ídolo da imprensa e capa da revista Veja, mas perdeu todas as eleições a que se candidatou, tanto para prefeito, como para governador do Rio de Janeiro. Acabou no PIG (Partido da Imprensa Golpista), e agora tem um programa na GloboNews.

Marta Suplicy, por sua vez, fez toda a sua carreira política no PT, pelo qual se elegeu prefeita de São Paulo, fazendo um bom governo, mas depois disso perdeu a eleição para a prefeitura três vezes, em 2004 e 2008. Dentro do PT passou a perder também disputas internas e, má perdedora, não aceitou o resultado da maioria. Quis ser candidatar à prefeita de São Paulo em 2016, mas o PT já tinha escolhido Fernando Haddad como candidato à reeleição. Foi o que a fez mudar-se para o PMDB, pelo qual concorreu à prefeitura paulistana, perdendo para Haddad.

Se Marta simplesmente tivesse decidido procurar outro partido e ir à luta, fazendo críticas honestas ao PT, tudo bem, direito de escolha dela. O problema é que, como Gabeira, ela resolveu ir para a oposição da direita raivosa, cuspindo no prato em que havia comido (e bem), atirando para todos os lados: contra Dilma, contra Lula, contra companheiros de partido, por “esperteza”, para ganhar generosos espaços na imprensa partidária.

O problema não é fazer críticas, é fazer o jogo de quem luta contra a melhoria de vida dos trabalhadores e dos mais pobres. É fazer pacto de poder com a Globo, com a Veja, como fez Gabeira, ou com o Itaú, como fez Marina Silva, traindo as lutas do passado. Tudo por ambição pessoal de poder.

Como dizia Brizola, “a política ama a traição, mas abomina os traidores”. Os votos dos eleitores da direita, de São Paulo ela não ganhou e não ganhará mais. Os votos petistas ela não levou para o MDB. Talvez, pelo menos, garanta um lugar ao lado de Gabeira na GloboNews.

 

Leia abaixo a íntegra da carta de Marta Suplicy, enviada pela assessoria da senadora:

CARTA AOS PAULISTAS

Muitas vezes, vi-me em tempos de travessia. Em alguns deles, acreditei ter luzes no outro lado do rio. Agora, com toda a energia necessária para continuar remando, tomei a decisão sobre o futuro da minha vida política, encarando a realidade de frente, para poder seguir com coerência, ousadia e coragem.

Anuncio que não concorrerei à reeleição a senadora da República pelo Estado de São Paulo e comunico a minha desfiliação do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

Não é novidade que os partidos políticos brasileiros, de forma geral, encontram-se fragilizados, acuados e sem norte político. Não mais conseguem dar respostas à crise de credibilidade que se abateu sobre eles e nem tampouco estão empenhados na mudança de posturas que os levaram à mais grave crise de suas histórias. Orientam suas movimentações políticas pela lógica exclusiva de fazerem crescer suas bancadas parlamentares com o objetivo perverso e mesquinho de fortalecerem-se na divisão e loteamento de cargos e espaços de poder.

A relação de grande parte dos partidos e de parlamentares com o Executivo na base de nomeações e vantagens levou ao insuportável “toma lá dá cá”, afrontando todos os padrões de dignidade e honradez da sociedade. Esse sistema faliu e precisa ser, urgentemente, reformado.

O Congresso Nacional, hoje, na sua maioria, não tem se colocado a favor das causas progressistas, fundamentais para o avanço da sociedade. Ao contrário, tornou-se refém de uma agenda atrasada dos costumes da sociedade, negando-se a reconhecer e a regulamentar as relações entre as pessoas de forma a contemplar as diversidades das sociedades modernas e a respeitar os direitos individuais do ser humano.

Quero agradecer aos 8,3 milhões de paulistas que me deram a oportunidade de, nos últimos 8 anos, trabalhar como senadora defendendo as bandeiras que me levaram à vida pública: o combate às desigualdades e às injustiças sociais, a militância pelos direitos de cidadania das mulheres e da população LGBTI e pela igualdade de oportunidades para todos.

Neste momento, creio que poderei contribuir mais para mudanças atuando na sociedade civil do que continuando no parlamento. Permanecerei participando politicamente da vida pública brasileira. A partir de 2019, não mais como parlamentar, mas em todas as trincheiras que me levem ao lado da defesa dos interesses dos mais pobres, dos injustiçados e na luta pelo empoderamento das meninas e das mulheres.

Estou convencida de que o Brasil precisa de um projeto nacional de desenvolvimento estruturado que abranja setores fundamentais para o crescimento do país. Temos de aumentar, significativamente, a produção e a riqueza. Isso possibilitará todo brasileiro e toda brasileira terem educação de qualidade, saúde, segurança e um emprego para trabalhar e viver com dignidade.

São Paulo, 03 de agosto de 2018.

Senadora Marta Suplicy

 

entreguismo

Projeto de José Serra em 2010 já prometia entregar o pré-sal

Senador tucano já havia se posicionado contra PL 12.267/2010, feito por Lula, que aumentou a participação do capital votante da União na Petrobras
por Helena Sthephanowitzpublicado 01/07/2018 08h56
ebc
Petrobras e Serra

Motivos de entreguismo de Serra aos EUA vieram à tona em meio às revelações do Wikileaks

A aprovação na Câmara do Projeto de Lei 8.939/2017 de autoria do deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) é apenas mais um capitulo do golpe que se iniciou pelo menos há sete anos. Na semana passada, por 217 votos a 57, deputados aprovaram proposta que permite à Petrobras vender até 70% dos seus direitos de exploração das áreas de cessão onerosa a outras empresas. Isso significa a possibilidade de a petrolífera brasileira repassar para empresas estrangeiras o direito de exploração de 5 bilhões de barris do pré-sal. No regime de cessão onerosa, a União só recebe 10% dos royalties sobre a produção de petróleo. A taxação é inferior à do regime de partilha, onde se paga 15%. 

Em 2010, o senador José Serra do PSDB foi candidato à presidência da República. Naquele ano, o tucano se declarou contra o PL 12.267/2010 enviado ao congresso pelo presidente Lula.

A lei aprovada autorizou a União a “ceder” para a Petrobras o direito de produzir até 5 bilhões de barris de petróleo em grandes áreas do pré-sal; em contrapartida, a Petrobras teria o ônus de repassar o valor correspondente a essa quantidade de barris para a União em forma de ações preferenciais da empresa. O projeto de José Serra, que mais parece ter sido redigido no departamento jurídico de alguma petroleira estrangeira, representou o PSDB, as petroleiras do exterior e os aliados dos tucanos, já que todos os líderes de oposição ao governo do PT acompanharam o pensamento de Serra. 

Não demorou muito para aparecer a verdadeira “preocupação” de Serra com a Petrobras: sua ligação com os Estados Unidos veio à tona em meio às revelações do Wikileaks.  Os documentos vazados no final de 2009 reproduziam telegramas do consulado americano em São Paulo a Washington, segundo o qual Serra — então governador de São Paulo em final de mandado e candidato a presidente — se comprometia com uma executiva da petrolífera Chevron, a mudar as regras de exploração de petróleo no pré-sal, que o governo Lula havia aprovado no Congresso, caso fosse eleito.

“Deixa esses caras do PT fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo – do governo Fernando Henrique Cardoso – funcionava… E nós mudaremos de volta”, disse Serra à diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama divulgado na época no WikiLeaks. Em 1997, no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, quando acabou o monopólio da Petrobras, a exploração de campos petrolíferos obedeceu a um modelo de concessão. Nesse caso, a empresa vencedora da licitação ficava dona do petróleo a ser explorado pagando royalties ao governo.

Com a descoberta dos campos gigantes na camada do pré-sal, o governo Lula mudou o modelo e o vencedor teria de partilhar o petróleo encontrado com a União, e a Petrobras tinha duas vantagens: ser a operadora exclusiva dos campos e ter, no mínimo, 30% de participação nos consórcios com as outras empresas. Na época, o vazamento da WikiLeaks, ganhou grande repercussão na mídia alternativa, enquanto a imprensa comercial comentava timidamente o caso, levando muitos brasileiros a desconfiar na veracidade das informações do jornalista Julian Assange. 

Wikileaks mostrou também a preocupação dos EUA com uma possível vitória de Dilma na eleição.

O consulado americano avaliava que as descobertas de petróleo e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) poderiam “turbinar” a candidatura de Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil. O consulado citava que o Brasil se tornaria um “player” importante no mercado de energia internacional. 

Serra foi derrotado nas urnas por Dilma. Em 2014, foi eleito senador. Valendo-se do cenário em que a oposição já havia decidido pelo impeachment em 2015, José Serra apresentou o PL 131/2015, no Senado que alterava a Lei da Partilha (exatamente como, segundo os telegramas vazados, havia prometido às petrolíferas americanas). O projeto de José Serra reduzia a participação da Petrobras e ampliava a fatia das multinacionais do setor na exploração das reservas de petróleo da camada pré-sal. 

Coincidentemente, na eleição de 2014 o candidato do PSDB, Aécio Neves, também defendeu o fim do modelo de partilha. As gigantescas multinacionais petrolíferas (Chevron, Shell, Texaco, Total, e outras) já cobiçavam o Pré-Sal.

O projeto do senador José Serra impulsionou o impeachment?

Por que a Total Petroleo, hoje dona de uma fatia da Petrobras, anunciou na TV Globo?

No período eleitoral de 2014 a Total, empresa de petróleo multinacional cuja sede é na França, vinculou propagandas na TV Globo.

Mas foi em 2016 que Temer mandou a Petrobras vender fatia de áreas no pré-sal para francesa Total

A Petrobras vendeu participações em áreas do pré-sal e usinas térmicas para a francesa Total. O acordo com a Total previa a venda de fatias em duas áreas que estão entre as mais promissoras do pré-sal, na Bacia de Santos. Com o acordo a Total passou a ter produção de petróleo no Brasil e seguindo os passos da Shell (estrangeira com maior presença no pré-sal) e a norueguesa Statoil

Muito estranho. Em 2014, a Total não atuava (e nem atua) no varejo no Brasil, não tinha e – não tem rede de postos – para anunciar em meios de comunicação de massa. Então o retorno em vendas, uma das razões de ser da qualquer propaganda, seria zero.

Outro motivo mais justificável seria uma propaganda institucional. É comum quando a imagem da empresa sofre algum desgaste, por exemplo, quando há acidente com danos ambientais, ou que vitima trabalhadores, ou quando a empresa se vê envolvida em algum escândalo. Também não foi o caso da Total no Brasil. O retorno, neste caso, também seria zero.

Em países onde empresas estrangeiras são consideradas imperialistas por ficarem com a maior parte do lucro do petróleo, deixando muito pouco da riqueza para o povo, também é comum esse tipo de propaganda institucional para melhorar a imagem e fazer um contraponto neoliberal aos nacionalistas que pregam mudanças nos contratos. Mas no Brasil, a Total não tinha nenhum problema de má imagem desse tipo. Pelo contrario. Pouco se ouvia falar na petroleira

Na época, petroleira francesa até aceitou participar da extração de petróleo no campo de Libra no pré-sal com participação minoritária, ao lado da majoritária Petrobras. Aceitou as regras de partilha, onde a fatia do leão da riqueza ficava com o povo brasileiro. Portanto, também não tinha esse tipo de problema, e o retorno da propaganda também seria zero. 

Aliás, se a Total tivesse que fazer propaganda institucional seria em 2013, após participar do consórcio de Libra com a Petrobras. Ali seria hora de fazer uma propaganda comemorativa para marcar a presença institucional de investir no Brasil e esse blá-blá-blá corporativo que grandes empresas costumam fazer quando anunciam grandes investimentos, mesmo que não atuem no varejo.

Mais surpreendente é que a propaganda era internacional, não foi feita no Brasil, nem concebida para o Brasil. São visíveis cenas gravadas em países africanos, inclusive com placas em outros idiomas. No Youtube, quando pesquisamos, vemos que o anúncio existe dublado em diversas línguas. 

Por que então anunciar na TV Globo? 

Não se pode afirmar ao certo, mas que dá para desconfiar, isso dá. O único motivo que não fosse rasgar dinheiro é que os anúncios fossem uma forma de patrocínio à linha editorial das Organizações Globo para defender mudanças no modelo de partilha e enfraquecimento da Petrobras, de forma que as petroleiras privadas estrangeiras ficassem com uma fatia maior da riqueza do pré-sal. Como está ocorrendo hoje, quatro anos depois.

Só dava para ver retorno financeiro para a Total nesse tipo de propaganda se a pregação da Globo desse como certo contra a Petrobras e contra o modelo de partilha no pré-sal, onde cerca de 80% da riqueza ficavam para o povo brasileiro.

Já em 2014, o presidente da Total, em entrevistas, defendia o fim da exclusividade da Petrobras no pré-sal. Os jornais e telejornais da Globo também defendia a mesma coisa. Juntava a fome de um com a vontade de comer do outro.

Não é proibido nem ilegal anunciar com objetivo de patrocinar linhas editoriais que atendam ao lobismo corporativo. Mas o povo brasileiro tem o direito de saber qual é o jogo político pesado em torno da riqueza do pré-sal que foi jogado na telinha da TV Globo

indefinível

Marina Silva, a candidata ainda sem lado para chamar de seu

A cinco meses da eleição presidencial, pré-candidatos já antecipam suas respectivas plataformas eleitorais. A exceção é a concorrente da Rede Sustentabilidade e eterna presidenciável
por Helena Sthephanowitzpublicado 09/05/2018 10h32
José Cruz/ABr/Fotos Públicas
Marina Eleicoes 2018

Nem mesmo na defesa do meio ambiente a ex-senadora e ex-ministra de Lula se destaca. Marina Silva inicia pré-campanha presidencial ainda sem discurso próprio

A disputa pelo cargo máximo da República já está em pleno andamento, com os candidatos a candidatos já assumindo claramente suas posições e lados, visando as prévias de seus respectivos partidos. Mas Marina Silva – que todos sabem, vai concorrer mais uma vez – continua uma incógnita. Pouco fala e, quando o faz, passa a impressão de ter perdido a oportunidade para se manter em silêncio.

A última declaração pertinente da candidata sobre o conturbado momento político atual do país veio com quase dois anos de atraso, ao criticar o congelamento de investimentos públicos por 20 anos. “Se continuar nesse ritmo, em 2099 ela vai tuitar que foi golpe”, disse a historiadora Anna Zappa, em comentário no Facebook.

Mesmo a pauta que a lançou como liderança popular, a da defesa do meio ambiente, perdeu relevância, depois que ela se calou sobre a tragédia de Mariana, provocada pela mineradora Samarco.

Durante os últimos anos, o golpe parlamentar iniciado por Aécio Neves e o PSDB, levando o emedebista Michel Temer ao poder, interrompeu o mandato da presidenta Dilma Rousseff e mergulhou o Brasil num caos político. Marina se calou.

Ninguém sabe o que Marina pensa sobre a precarização do trabalho, consequência já apontada por diversas entidades, incluindo o Ministério Público do Trabalho, da “reforma” trabalhista. Sem nenhuma aprovação popular nem legitimidade, o ilegítimo Michel Temer promoveu o desmonte da proteção aos direitos dos trabalhadores, mas a ex-senadora não emitiu um pio sequer sobre o tema.

Nem as fartas provas de corrupção contra Michel Temer, seus ministros e boa parte dos deputados e senadores que os livraram de serem processados – inclusive Aécio Neves (PSDB-MG), a quem apoiou no segundo turno das eleições de 2014 –, mereceram comentários de Marina.

Também não se sabe qual a opinião dela sobre Temer ter aniquilado secretarias e ministérios ligados à promoção de direitos da população e ter sido apoiado pelos setores mais retrógrados do país, como os grandes proprietários rurais, religiosos fundamentalistas, grandes e inescrupulosos empresários, e defensores radicais do conservadorismo.  O resultado é uma política social, cultural e ecológica desastrosa.

Marina costuma propagar (ainda) que não faz “nem oposição por oposição, nem situação por situação”. Por conta de seu vagar errante entre posições, que muitas vezes é interpretado simplesmente como oportunismo, foi  acusada por ex-integrantes da Rede de não se posicionar a respeito das principais questões do momento – lembremos que, no final de 2016, um grupo de seus correligionários debandou do partido afirmando em nota que “a sociedade brasileira não sabe o que pensa a Rede, nem consegue situá-la no espectro político ideológico”.

A  Rede Sustentabilidade, partido do qual  Marina Silva é fundadora – na prática ela é a dona da legenda –, enfrenta uma crise ideológica e uma debandada de filiados, alguns com mandato. Caso dos deputados federais Alessandro Molon (RJ) e Aliel Machado (PR), que mudaram-se para o PSB. Com isso, a legenda ficou com apenas três parlamentares: os deputados Miro Teixeira (RJ) e João Derly (RS) e o senador Randolfe Rodrigues (AP).

Ter menos de cinco congressistas poderá inclusive impedir a dona da Rede Sustentabilidade de participar dos debates de TV durante a campanha, conforme regra da mini-reforma eleitoral aprovada no ano passado. Mas a dificuldade em dialogar com outras legendas é outro ponto de divergência interna na Rede. O grupo de Marina reluta em formar alianças com outras siglas para ampliar o tempo de exposição na TV em 2018.

E tem mais. A Rede apoia nomes novos na cena política, com destaque para aqueles que utilizam do discurso fajuto de não serem políticos. Caso do líder do ultraconservador Vem Pra Rua, Rogério Chequer – ou seja, pessoal da extrema direita, que apoiou o golpe e está destruindo a democracia brasileira. Segundo apoiadores de Marina, a ideia é reforçar uma estrutura “transversal” aos partidos na Câmara, o que soa como mais uma conversa sem substância.

A conferir se a eterna presidenciável está no aguardo do aceno de algum grupo, venha de que lado vier, de que poderá ser a candidata que o represente. Só então saberemos em qual campo Marina se posicionará nesta eleição.

hipocrisia

Doria, que demoliu casa com gente dentro, chama sem-teto de ‘facção criminosa’

Ex-prefeito é um invasor, pois mesmo rico, tomou para sua mansão uma área pública em Campos do Jordão. Incêndio desta terça se soma a uma série de episódios na capital paulista, todos suspeitos
por Helena Sthephanowitzpublicado 02/05/2018 11h27, última modificação 02/05/2018 13h14
Fotos Publicas – A Craco resiste
doria cracolandia

Gestão Doria mandou derrubar parede de casa na cracolândia, sem checar condições da operação; três ficaram feridos

O incêndio na madrugada de ontem (1˚), que causou o desabamento de um prédio de 24 andares onde viviam ao menos 150 famílias sem-teto, no Largo do Paissandu, centro de São Paulo, causou grande comoção no país e intensa cobertura na imprensa internacional. Além de ter deixado desalojadas centenas de pessoas, entre adultos, jovens, idosos e crianças, um homem morreu e pelo menos 44 moradores estavam desaparecidos até a manhã de hoje.

A tragédia, no entanto, não provocou apenas reações de pesar e solidariedade. Houve também apologia ao ódio nas redes sociais e ofensas às famílias pobres que ocupavam o prédio. A mais espantosa declaração partiu justamente do ex-prefeito da cidade, João Doria, candidato ao governo do estado pelo PSDB, que  culpou as vítimas pelo desastre. Ao ser questionado pela imprensa sobre a ocorrência, Doria afirmou que o edifício estava ocupado “por uma facção criminosa” e que ali “era um centro de distribuição de drogas”. Mais tarde tentou consertar o erro, com uma nota insossa e burocrática, lamentando a ocorrência, mas aí já era tarde e a máscara, mais uma vez, já tinha caído.

Antes de criminalizar os movimentos sociais com acusações levianas, o tucano João Doria – inimigo declarado de ocupações em geral – deveria olhar para seu próprio quintal. Com patrimônio de R$ 180 milhões, declarado na eleição de 2016 ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o próprio ex-prefeito é, segundo sua ótica, um invasor, pois tomou para si uma área pública no município de Campos do Jordão (SP), aumentando irregularmente a área de sua mansão, então avaliada em R$ 2 milhões.

Depois de uma disputa judicial que durou 12 anos, o tucano perdeu a ação. O caso virou um processo judicial, que terminou por condenar Doria a devolver o terreno, o que deveria ter acontecido em 2009. Mas só em 2017 ele enviou à prefeitura de Campos do Jordão (cujo prefeito, Fred Guidoni, também é do PSDB) uma petição oficializando a devolução do terreno invadido. Antes, o tucano fora obrigado pela justiça a recuar o muro da mansão e liberar a passagem para os moradores.

“Centro Novo”

No final do ano passado, enquanto se discutia a candidatura ao governo de São Paulo, Doria prometia executar um projeto de revitalização do centro de São Paulo, que seria chamado de Centro Novo, encomendado pelo Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi).

A Prefeitura prometeu entregar, até 2020, bulevares e duas linhas turísticas de Veículo Leve Sobre Pneus (VLP).  Elaborado pelo escritório Jaime Lerner, a gestão Doria afirmou que o projeto foi oferecido à administração por um termo de cooperação técnica com o Secovi. O prefeito ressaltou, porém, que o Centro Novo seria analisado por diversas secretarias desde o primeiro semestre e a execução “é uma decisão de governo”. Segundo Doria, o plano será executado em oito anos com financiamentos de bancos privados. O projeto, obviamente, não contava com a convivência de famílias sem-teto nessa área.

O ex-prefeito acumula um histórico irretocável de atrocidades e descaso com pessoas que não têm onde morar por questões econômicas. No ano passado  mandou demolir imóveis na região da cracolândia, no centro de São Paulo, terminou com três pessoas feridas. Uma escavadeira da prefeitura deu início à demolição de uma pensão. A parede foi derrubada sem um aviso para que os moradores deixassem o local.

Incêndios

A quantidade de favelas e ocupações destruídas por incêndios em áreas valorizadas da capital paulista chamou atenção do Ministério Público (MP) estadual em 2012. Naquele ano, o MP informou que estava investigando a suspeita de que as ocorrências seriam, na verdade, obra obscura de grupos econômicos interessados em lucrar com imóveis a serem construídos nos terrenos esvaziados.

De acordo com declaração do promotor da área de Habitação e Urbanismo daquela época, José Carlos Freitas, os incêndios ocorriam de forma geral, “em lugares onde há forte interesse do mercado imobiliário”.

Além disso, o promotor constatou que, normalmente, as áreas atingidas eram objeto de projetos de empreendimentos não só habitacionais, mas também comerciais, especialmente onde havia obras públicas a serem feitas. “A área criminal do Ministério Público está preocupada com essa coincidência”, destacou.

Estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) revela a supervalorização imobiliária em regiões que tiveram favelas e ocupações incendiadas e as famílias, removidas. Caso da área em que estava instalada a favela São Miguel Paulista, na zona leste, que após ser destruída teve a maior alta imobiliária da capital, de 214%, em apenas dois anos.

Após o fogo ter colocado seus barracos no chão e expulsado as pessoas, no terreno do chamado Morro do Piolho, no Campo Belo, bairro nobre da zona sul, o aumento do metro quadrado foi de 117%. Numa outra área que viveu drama igual, na Vila Prudente, também na zona leste, a valorização foi de 149%.

A pesquisa da Fipe também revela que as áreas que concentram o maior número de favelas da capital – e que por isso mesmo pouco despertam especulações imobiliárias – são as que têm menos ocorrências de incêndios. Na zona sul paulistana, nos distritos do Capão Redondo (com 93 favelas), Grajaú (com 73), Jardim Ângela (com 85) e Campo Limpo (com 79) não houve nenhum incêndio. Essas áreas representam mais de 21% das favelas da capital e são as mais desvalorizadas pelo mercado imobiliário.

Coincidência? Fatalidade?

 

Reflexo

Aécio Neves, o golpista engolido pelo golpe

Lançado à fogueira por “aliados”, senador do PSDB e moralista da TV responde a nove inquéritos, tem contra si uma fartura de provas e depoimentos, e tem sido visto caminhando sozinho pelo Senado
por Helena Sthephanowitzpublicado 24/04/2018 08h48, última modificação 24/04/2018 11h14
Lula Marques/Agência PT
Aecio reu STF

Tornado réu para satisfazer ‘sede de justiça’, Aécio Neves se beneficia de foro privilegiado e, principalmente, da lentidão do Judiciário, que trata tucanos de forma diferenciada

O golpe tem se mostrado pragmático e não poupa nem mesmo aliados em nome de seus objetivos. Para compensar a prisão sem provas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seria preciso mostrar à opinião pública que “a justiça é para todos” e, neste caso, tinha-se à mão um político já descartado para as urnas e abandonado por seus correligionários. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), poupado durante dois anos e dono de extensa ficha policial, era, portanto, o nome perfeito para o papel. Acusado de solicitar e receber do mega empresário Joesley  Batista, dono da JBS, R$ 2 milhões em propina, em troca de usar o cargo de senador a favor daquela empresa, Aécio se tornou réu em um processo aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira, 17 de abril, sob acusação de corrupção e obstrução de Justiça. O tucano foi flagrado em conversa gravada pela Polícia Federal (PF), com autorização da Justiça.

Aécio responde a nove inquéritos. Dois por receber propina da JBS, três por receber propina de construtoras, um por desvio de dinheiro e corrupção em Furnas, outro por fraude na licitação superfaturada e corrupção na construção da cidade administrativa de Minas, um por maquiar dados do Banco Rural na CPI dos Correios e, finalmente, mais um por propinas no setor de energia.

Coincidentemente – e passou despercebido pela imprensa –, a decisão do STF de transformar Aécio em réu ocorreu justamente no dia do aniversário de dois anos da abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff (PT) pela Câmara dos Deputados.  Foi num domingo, em 17 de abril de 2016, que a Câmara autorizou a abertura do processo de destituição da presidenta, confirmado pelo Senado em 12 de maio, quando a presidenta foi afastada. Em 31 de agosto, os senadores concluíram o golpe – do qual o próprio Aécio era um dos líderes mais destacados.

Naquele momento ele jamais pensou que cairia em desgraça. Quando foi derrotado em 2014 por Dilma, Aécio arrastava atrás de si um bando de políticos que batiam palmas para o discurso “Eu perdi a eleição para uma organização criminosa”, referindo-se ao PT. Mais tarde, liderou manifestações “contra a corrupção”. Agora, o tucano tem sido visto pelos corredores do Senado andando sozinho. Os “amigos aliados” não querem associar suas imagens à do único senador tucano réu no Supremo.

Dilma sofreu processo de impeachment sem que houvesse um único indício ou prova de que tenha cometido crime, ao contrário de numerosos algozes, os senadores e deputados denunciados por uma vastidão de delitos. As manobras fiscais de crédito, as ditas pedaladas, não constituem subtração de dinheiro do povo. Eram – e ainda são – práticas corriqueiras de todos os grandes partidos, aqueles que, em sua maioria, se armaram para eliminar a presidenta consagrada em 2014 por 54,5 milhões de votos. Configurou injustiça – a palavra é golpe –, aplicar determinados critérios punitivos a gestores de certa coloração e a de outras, não.

Além disso, contra Dilma não há acusações de executivos ou donos de construtoras e nenhuma prova de mal feito praticado por ela foi encontrada por Polícia Federal (PF), Ministério Público Federal (MPF), Lava Jato ou Procuradoria-Geral da República (PGR), que vasculharam sua vida.

O mesmo não se pode dizer do senador tucano, moralista da tevê, que posava de ético: dois dias depois de se tornar réu, foi acusado em mais dois novos depoimentos prestados à PF pelo empresário Sérgio Andrade, um dos donos da Andrade Gutierrez e novamente por Joesley Batista. O dono da Friboi afirmou à PF e ao MPF que pagou uma mesada de R$ 50 mil ao senador Aécio Neves de 2015 a 2017, a pedido do próprio tucano. Joesley Batista afirmou ter repassado R$ 110 milhões a Aécio Neves durante a campanha eleitoral de 2014 e que os repasses estariam atrelados à futura atuação de Aécio em favor dos negócios do grupo J&F.

No caso da Andrade Gutierrez, a PF afirma que o trato foi firmado com o objetivo de repassar dinheiro a Aécio para que o tucano favorecesse a empreiteira e seus interesses na construção da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia. E os R$ 30 milhões tomados da Odebrecht e os R$ 20 milhões da Andrade Gutierrez, em troca de fortalecê-las na licitação para a hidrelétrica de Santo Antônio, começam por derrubar a defesa de Aécio e sua irmã Andréa para os R$ 2 milhões tomados de Joesley Batista. O caixa tão fornido destrói a mentira de que Aécio precisava de “um empréstimo” para pagar seu advogado logo que surgiram as primeiras denúncias contra si.

Crítico ferrenho da corrupção, fortalecido pela mídia, mais uma delação promete enterrar as pretensões políticas do tucano. As construtoras Wanmix e Cowan que pertencem à família Wanderley, amigos dos Neves, serão investigadas a pedido da PGR. A Polícia Federal encontrou, na sede da Wanmix, provas de dissimulação de doação de R$ 1,5 milhão para a campanha do tucano em 2014.

A Wanmix é construtora mineira que forneceu concreto para a construção da Cidade Administrativa, obra bilionária conhecida como Aeciolandia,  na gestão do tucano no governo de Minas Gerais. A obra custou R$ 2,1 bilhões e foi citada em delações premiadas como origem de repasses de propinas para o senador. A Cowan, sediada em Belo Horizonte, conhecida pelas grandes obras públicas naquele estado, foi a responsável pela construção do Viaduto Guararapes, que caiu em Belo Horizonte em 2014, pouco antes da Copa do Mundo, matando duas pessoas e ferindo outras 23. Foi também na residência dos donos da construtora que Aécio Neves se hospedou no carnaval do ano passado.

Com a palavra, Aécio

Apesar de todos os indícios, o tucano mantém-se em liberdade por conta do foro privilegiado e contará com prazos normais para continuar sua defesa, sem a pressa demonstrada na condenação e prisão do ex-presidente.

Semana passada, mais precisamente no domingo (15), o tucano passou a tarde com o presidente ilegítimo. Michel Temer,  no Palácio do Planalto. Na segunda feira seguinte o jornal Folha de S. Paulo publicou um artigo de sua autoria intitulado “Sua excelência, o fato”. 

“Fui ingênuo, cometi erros e me penitencio diariamente por eles, mas não cometi nenhuma ilegalidade”, escreveu o agora réu no STF.

A conferir.

 

preso político

Prisão de Lula é mais uma manobra do entreguismo do patrimônio nacional

Lula representa um projeto popular nacional depois de dois mandatos e um legado que vai muito além da redução da fome no Brasil
por Helena Sthephanowitzpublicado 10/04/2018 10h31
RICARDO STUCKERT
lula petrobras

Brasil, na era Lula, foi um países dos mais respeitados do mundo. Por isso somos todos Lula

Feito preso político pelo golpe de 2016, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já é um personagem da história, mas um personagem presente, ativo, capaz de fazer ainda mais história e de continuar a transformação que iniciou no País em 2003. Lula é uma ideia. Uma ideia viva. Mesmo encarcerado em Curitiba, conta com o apoio de grande parte dos brasileiros que não esquecem seu legado e hoje estão a seu lado. Lula é candidato às eleições deste ano caso não ocorra nova violência institucional. É um grande desafio, mas ele está disposto a enfrentá-lo.

Lula representa um projeto popular nacional depois de dois mandatos e um legado que vai muito além da redução da fome no Brasil. O programa de governo de Lula tirou mais de 40 milhões de famílias da linha da pobreza e milhões também ascenderam à classe média consumidora. Apresentou um aumento real no salário mínimo de inacreditáveis 13,04%. Pagou a dívida externa do país. Facilitou créditos, gerou empregos, colocou o Brasil no cenário mundial como nunca antes.

Esses brasileiros passaram a se alimentar mais e melhor, a comprar automóveis e eletrônicos, a viajar nas férias e a realizar o sonho da casa própria. O Brasil passou de caloteiro internacional a grande voz dentre os países emergentes, sentando lado a lado com os desenvolvidos nos fóruns de poder e de negócios internacionais. Um círculo virtuoso de distribuição de renda, justiça social e crescimento que mudou a economia brasileira e despertou a atenção do mundo.

Ao receber das mãos de Fernando Henrique Cardoso a faixa de presidente, Lula assumiu um país malvisto pelo mundo financeiro, uma herança dos tropeços econômicos causados pelo superendividamento e pela hiperinflação dos anos 80 e início dos 90.

Com Lula Presidente, o Brasil recebeu o carimbo de grau de investimento pelas três maiores agências de classificação de risco de crédito, Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch. Com isso, passou a ser visto oficialmente como uma economia de fundamentos mais sólidos e menos vulnerável a crises externas, proporcionando ao investidor uma opção mais segura para investimentos.

Não por acaso, o Brasil na era Lula foi visto como um dos principais destinos de investimentos estrangeiros. A entrada recorde de dólares abriu caminho para o aumento das reservas internacionais, que saltaram de US$ 37,8 bilhões em 2002 para quase US$ 285 bilhões. No caminho inverso, o dólar caiu de R$ 3,94 para menos de R$ 1,70. A equipe econômica de Lula, liderada por Guido Mantega, fez o país ficar menos endividado.

A relação dívida/PIB recuou de 60,6%, em 2002, para 40,1%, em 2010. A taxa de juros reais (além da inflação) desceu sete pontos percentuais. O crédito, uma das locomotivas do crescimento, aumentou em 20 pontos percentuais e ficou próximo a 50% do PIB.

Em um positivo efeito cascata, o crescimento do PIB chegou a 8% em 2010, quase três vezes superior à média de 2,6% dos quatro anos anteriores. Lula capitaneou uma revolução de consumo que fez do mercado doméstico o grande trunfo para atrair investimentos locais e externos e escapar mais rápido da grande recessão global de 2008.

Por isso somos todos Lula. Lutamos por ele, sobretudo, porque Lula é quem melhor teve e tem a capacidade de liderar esse projeto. Mas lutamos também porque é covardia o que estão fazendo com ele.

E não venham com mentiras contra Lula, porque quem dera todo político fosse honesto como ele. Foi, possivelmente, o presidente que saiu com menor patrimônio da presidência. Ganhou dinheiro sim, mas legitimamente, depois de deixar a presidência, com palestras.

Seus filhos são pequenos empresários. Não foram nomeados diretores de estatal, como Aécio Neves quando jovem que, recém-formado, foi nomeado diretor da Caixa no governo Sarney. Não viraram diretor de banco privatizado pelo pai, como ocorreu com o filho de Alckmin. Não ganharam concessões públicas de TV, nem de lavra de mineração. Não foram funcionários fantasmas em gabinetes de senadores. Não viraram sócios de bilionários, como a filha de José Serra.

Lula criou um Instituto voltado para cooperação do Brasil com a África e a América Latina. Se tivesse criado um instituto picareta para defender o cartel da imprensa ou dos bancos ou da geopolítica estadunidense estava tudo “certo”, não teria recebido criticas. Mas defender a integração com pretos e “cucarachos”? Ah… na cabeça das coxinhas, racistas e preconceituosos, isso só pode ser crime.

São injustiça e covardia o que estão fazendo com Lula, por isso temos que defendê-lo e não podemos nos omitir.

Não adianta quererem destruí-lo para entregar o pré-sal a estrangeiros, e também para o mercado financeiro globalizado e corrupto nos escravizar. E para o “B” sair dos BRICS e virar colônia econômica dos EUA. Porque vamos derrubar esse entreguisimo e servilismo.

Somos todos Lula.

iluminado

Luciano Huck e a rotina de sempre ‘se dar bem’

Apresentador e candidato a candidato de vez em quando, voltou a ser notícia no fim de semana, com a venda superfaturada de uma mansão aos irmãos da JBS, comprovando seu histórico de “bom negociador”
por Helena Sthephanowitzpublicado 13/03/2018 10h16
Justo Ruiz / CC 2.0 wikimedia
Luciano Huck

Luciano Huck, mais uma vez, tem seu nome envolvido em negócios milionários que despertam a atenção pelas vantagem em seu favor

Dias atrás, circularam notícias sobre a venda, em 2013, de uma mansão do apresentador e Luciano Huck para Joesley e Wesley Batista, na Ilha das Palmeiras, em Angra dos Reis, pelo dobro do valor de mercado. Não chega a ser surpresa que o nome de Huck apareça em transações comerciais extremamente vantajosas. Foi em 2003 que apareceram as primeiras notícias de uma venda superfaturada envolvendo suas posses. Na época, o apresentador era dono da rádio Paradiso FM, do Rio, e da Dial Brasil, holding que, além da Paradiso FM, controlava a filial carioca da rádio Jovem Pan. Neste empreendimento seus sócios eram Alexandre Accioly, amigo e compadre  do senador Aécio Neves (PSDB), João Paulo Diniz (ex-piloto da Fórmula 1 e filho do mega empresário Abilio Diniz) e Luís Calainho, que também era dono do portal Vírgula, na internet.

Huck dizia que a proposta da Paradiso era falar a um público adulto, bom de papo e de bolso. Em princípio planejava ter a maior rede de rádio do país, mas só teve uma filial em São Paulo, que não chegou a decolar. Tempos depois, o apresentador  anunciou a venda da rádio, e notas em colunas de jornais afirmavam que o negócio for a fechado com valores bem acima do razoável. O valor da venda nunca foi divulgado.

Apesar de discursos moralistas, como o de que vai criar um grupo de combate à corrupção – que adota quando “aparece” como candidato a candidato – Luciano Huck é amigo e mantém sociedade com pessoas envolvidas em denúncias e investigações de envolvimento em casos de corrupção.

Caso de Alexandre Accioly, sócio do apresentador em uma rede de academias. No ano passado, depois de ter a casa alvo de busca e apreensão, Accioly foi intimado a depor na Políicia Federal, no âmbito da operação C’est Fini, que investigava a chamada “farra dos guardanapos”, num caso que envolveu até mesmo o ex-governador Sérgio Cabral e outros empresários. O Ministério Público Federal acusa o empresário de ter feito transações financeiras suspeitas com o empresário Georges Sadala – apontado como o operador financeiro do esquema de Cabral – como empréstimo e a venda de um apartamento pelo valor abaixo do mercado.

O deputado Fábio Faria (PSD-RN), também sócio de Huck e Alexandre Accioly na rede de academias, é investigado no inquérito 4425, no STF, depois de ser citado três vezes em delações de executivos da Odebrecht.

Luciano Huck, que faz palestras em que ensina como ser um empreendedor de sucesso, teve, em 2011, uma sociedade com Rogério Fasano, dono de restaurantes e hotéis, questionada pelo Ministério Público de Minas Gerais: uma licitação “de mãe para filho” para alugar a antiga sede do Ipsemg (Instituto de Previdência de Minas Gerais), vencida pelo hotel Fasano, tornou-se escândalo de corrupção (mais um) no governo tucano de Minas Gerais.

O edifício – com 12 andares e 12 mil metros quadrados de área construída, em área nobre e privilegiada de Belo Horizonte –, foi alugado por R$ 15 mil reais ao mês, um valor praticamente simbólico e irrisório, comparado aos preços de mercado daquele ano quando, aliás, o setor imobiliário registrava franca alta dos valores de venda e locação. Para piorar a “maracutaia”, o contrato era de 35 anos, que poderia ser renovado pelo mesmo período.

A licitação foi tratada pelo MP como sendo carregada de indícios de direcionamento como, por exemplo, o fato de, apesar do valor do aluguel, interessantíssimo para qualquer empresa ter custos reduzidos de infraestrutura, o Hotel Fasano acabou sendo o consórcio vencedor habilitado. 

“Coincidentemente”, a rede de hotéis Fasano tinha como sócios notórios companheiros – de baladas inclusive – e amigos de Aécio Neves: Alexandre Accioly e Rogério Fasano.

Os sinais de corrupção no negócio chamaram a atenção da oposição ao governo estadual daquela época, então ocupado peo atual senador Antônio Anastasia (PSDB). Os deputados do bloco chamado Minas Sem Censura denunciaram a manobra aos promotores do Ministério Público, que recomendaram ao Ipsemg a imediata suspensão do processo de licitação de aluguel do prédio enquanto durasse a ação civil pública. Em 2015, Luciano Huck vendeu sua participação no Fasano do Rio de Janeiro para a JHSF Participações, um empresa do setor imobiliário que passou a controlar os hotéis do grupo e que tem Rogério Fasano como um de seus sócios proprietários.

Só pra lembrar, foi em uma festa no Hotel Fasano do Rio que aconteceu o polêmico episódio noticiado de uma briga entre Aécio Neves e uma acompanhante, com direito a tapa e empurrão dele contra ela.

Brasil à venda

Temer, presidente da derrocada da soberania nacional

Com o ilegítimo colocando em prática um programa de governo – do PSDB – que foi recusado nas urnas, se faz necessário refletir sobre que tipo de país ou resto de país será deixado para o futuro
por Helena Sthephanowitzpublicado 26/02/2018 12h10
AGÊNCIA BRASIL
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Embraer é detentora de importantíssimos projetos na área de defesa nacional, sendo a terceira maior fabricante de aeronaves comerciais do mundo

Segundo publicações na imprensa a empresa americana Boeing, a segunda maior empresa de defesa e mercado aeroespacial do mundo, terá uma fatia de 51% de uma nova empresa, criada partir de uma fusão com a brasileira Embraer. Mas o que é a instituição Embraer e o que ela representa? A Embraer, para quem não conhece, é um conglomerado transnacional brasileiro, fabricante de aviões comerciais, executivos, agrícolas e militares. É a terceira maior fabricante de aeronaves comerciais do mundo, a quinta maior de jatos executivos e a principal exportadora brasileira de produtos de alto valor agregado.

Aberta por iniciativa e esforço da Aeronáutica, na década de 1950, a empresa é detentora de importantíssimos projetos na área de defesa nacional, como a fabricação do KC-390, o maior avião produzido na América Latina e do Projeto FX-2, focado em um programa de reequipamento e modernização da frota de aeronaves militares supersônicas da Força Aérea Brasileira.

A determinação do governo ilegítimo de manter a famosa “golden share”, conhecida como ação de classe especial que permite vetar a transferência do controle acionário da ex-estatal é jocoso. É um ataque direto e mortal sobre a soberania nacional e uma cusparada na cara de cada brasileiro que se importa com o País.

A ingenuidade de certos brasileiro  com síndrome de vira, lata permite que o Brasil continue acumulando ex-estatais. O Brasil  foi o último país a aderir ao neoliberalismo na América Latina graças ao Consenso de Washington e sua cruzada para transformar democracias progressistas legítimas em quitandas continentais, onde se tira o que quer a preço de banana.

Houve um golpe muito bem articulado (a direita só consegue sobreviver através de golpes) para introduzir uma ideia completamente infundada de que empresas estatais “lesam o povo brasileiro com toda sua burocracia e ineficiência econômica”. Será que alguém se lembra da Vale do Rio Doce,  hoje conhecida apenas por “Vale”, e de seu inescrupuloso processo de venda?

A empresa, que foi taxada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) como “estatal ineficiente” era a maior empresa estratégica do Brasil e apresentava em suas reservas minerais valores que ultrapassavam os R$ 100 bilhões em  1997. A empresa foi vendida por R$ 3,3 bilhões. Inacreditáveis 3,3% do seu valor de suas reservas.

O mesmo aconteceu com a Eletropaulo, maior distribuidor de energia da América Latina. A controvertida privatização da Eletropaulo em 1998, resultou em uma CPI e várias ações populares. Os benefícios para os usuários nunca não ficaram evidentes. A compra foi por parte da companhia americana AES e foi parcialmente financiada pelo BNDES, totalizando R$ 2 bilhões.

A avaliação  constatou que a empresa deveria ser vendida por algo em torno de R$ 22 bilhões. Ou seja, a AES comprou uma propriedade do Estado brasileiro, com  dinheiro do Estado brasileiro, não pagou a dívida – pois o BNDES converteu US$ 1,3 bilhão do saldo devedor em ações e debêntures – e ficou com o lucro.

Foi igual com uma suposta Petrobrax (A estatal Petrobras, maior empresa do país e terceira maior da América Latina, quase mudou  para PetroBrax no governo de FHC). E lá se foram Usiminas, Açominas, Banestado, Embratel, Light S.A, TELERJ, Rede Ferroviária Federal e tantas outras.

A entrega da soberania nacional e suas privatizações forçadas, a partir do início da década de 1990, tiveram como seu maior mentor Fernando Henrique Cardoso, presidente de eloquência sociológica e inglês esdrúxulo, incapaz de criar uma única Universidade Federal nos seus dois mandatos (democrático o primeiro e comprado, o segundo) e que passa seus intermináveis dias escrevendo livros inúteis e financiando o estudo de “filhos de amigas” em Paris.

O Brasil vive um momento extremamente delicado e nunca precisou tanto de seus filhos como agora. O Executivo é ilegítimo. O Legislativo é corrupto e corruptor, legislando em causa própria. Por sua vez, o Judiciário vem se apresentando como a nova forma de engendrar golpes em países democráticos. O fuzil deu lugar à toga.

Agora, com Temer na presidência, colocando em prática um programa de governo do PSDB, que foi recusado nas urnas, se faz necessário refletir sobre que tipo de país ou resto de país será deixado para o futuro.

nova peça

De olho na Presidência, Collor ainda terá a ‘velha astúcia’?

Além de ser réu em processos de corrupção, eventual campanha do senador terá de enfrentar a fúria dos que tiveram suas economias surrupiadas pelo plano econômico que levou seu nome
por Helena Sthephanowitzpublicado 29/01/2018 12h41
Antônio Cruz/EBC/FotosPúblicas
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Após 25 anos depois de seu impeachment, o ex-presidente Collor anunciou sua candidatura à Presidência: nova peça do xadrez político do país

São Paulo – Quem conhece Fernando Collor (PTC-AL), desde que se candidatou a presidente, em 1989, faz tempo que não se impressiona com sua atuação e seus discursos.Mas quem não o conhece ou era jovem demais pra se recordar com clareza, talvez até se impressione com sua “performance”, que pode até render alguns votos, já que vivemos um momento na política em que as pessoas estão contaminadas pelo rancor e pelo revanchismo e querem “ver sangue”, insufladas pela mídia tradicional e por representantes dos partidos, sobretudo os que apoiaram o golpe que levou Michel Temer ao poder (DEM, PSDB, MDB, PP, PTB e vários nanicos).

Como político, Collor sempre foi excelente ator. Capaz de demonstrar fúria, cerrar punhos e dentes e bufar ofegante, ainda hoje adota uma oratória agressiva e carregada, nos seus discursos na tribuna do senado, sem a menor dificuldade. Nem vergonha.

O senador segue agora tentando comprovar é sua astúcia política.

Até recentemente tudo indicava em seus discursos que seu plano era candidatar-se ao governo de Alagoas, já que não tinha nada a perder, pois está em seu segundo mandato como senador, que termina apenas em 2023. Mas na semana passada, para supresa de muitos, Collor mostrou que projeta voos mais altos e que está à procura de reabilitar-se em nível nacional.

Aos que não sabem: o senador alagoano renunciou à Presidência da República para fugir de um processo de impeachment, em 1992, depois de ver seu governo no centro de uma série devastadora de denúncias de corrupção. Pouco adiantou: o Congresso prosseguiu com o processo contra ele, que foi condenado e teve seus direitos políticos suspensos pelos oito anos seguintes. A sentença foi confirmada pelo STF. Em julgamento posterior, em 2014, o ex-presidente foi inocentado pelo mesmo STF dos crimes de falsidade ideológica, corrupção passiva e peculato. Os ministros do tribunal concluíram que não havia provas suficientes para comprovar seu envolvimento nos crimes em que foi acusado.

Vislumbrando agora, 25 anos depois, uma oportunidade de voltar ao Palácio do Planalto, Fernando Collor de Mello anunciou sua candidatura à Presidência. Aparentemente, mesmo que seja para perder. Nos bastidores do Senado tem quem diga que a candidatura é parte de uma estratégia para ajudar seu partido, minúsculo e atingido pelas regras que restringem o acesso ao Fundo Partidário e à propaganda gratuita no rádio e na TV. De quebra – e aí pode estar a carta que vai na manga – postular ao cargo máximo deve servir para “limpar seu nome na praça”, ficando o ex-presidente competitivo para 2022. Por enquanto, seus primeiros discursos como candidato a candidato se prendem ao que seria, para o próprio, uma vantagem em relação aos outros concorrentes, à exceção de Lula: “já presidi o país”.

Mas, caso esteja mesmo sonhando em voltar ao Palácio do Planalto, Collor dependerá de muito cálculo político, de uma vasta gama de alianças e, obviamente, de quais serão os demais candidatos. Entre uma candidatura nacional como figurante pífio, e uma eleição com alguma margem de certeza ao governo de Alagoas, poderia ter preferido a segunda.

É possível, porém, que o senador esteja pensando em ser uma “terceira via”, uma candidatura presidencial apresentando-se como alternativa, à direita e “propositiva”, principalmente caso venha a se confirmar que nomes como o de Luciano Huck forem lançados para a corrida eleitoral. Tudo isso, claro, com  discurso de ferrenha oposição ao PT, bem ao gosto de paneleiros e de segmentos conservadores, como a nossa classe média, por exemplo.

Pesam contra si, além de já ter perdido o cargo de presidente da forma como perdeu,  o “recall” de casos como o escândalo do “esquema PC Farias”,  revelado pelo irmão de Fernando, Pedro Collo de Melo, que envolveu cifras públicas na casa do US$ 1 bilhão  e teria como beneficiários integrantes do alto escalão do governo federal.

E há de se contar também, com a antipatia de uma boa parcela da população que ainda se lembra dos primeiros dias de seu governo, iniciado em janeiro de 1990, quando lançou um mirabolante plano econômico, que simplesmente confiscou parte das contas correntes e poupanças que excedessem 50 mil cruzeiros (a moeda corrente da época, que antecedeu o real). Na memória de muita gente ainda estão claras as dificuldades criadas pela medida, para empresas pagarem os salários de seus funcionários, por exemplo. A medida, ao contrário de sanar os problemas da economia, por pouco não levou o país ao colapso.

Voltando aos dias de hoje, o ex-governador de Alagoas, que se elegeu com o slogan “caçador de marajás”, atualmente é réu em um processo, além de ter seu nome em outros seis, em andamento no STF, por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Collor é acusado de receber mais de R$ 30 milhões por “negócio” da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras.

Enfim, Collor sabe que, sendo candidato, os adversários e a imprensa irão rememorar todos os escândalos de seu governo. É aguardar para ver se, com tanta coisa em seu passado para ser “lembrada”, o senador vai conseguir emocionar os brasileiros com seus discursos inflamados. Ainda que conte com a consagrada memória histórica dos brasileiros, sempre curta e seletiva, será “muita zebra” se Collor ganhar a eleição.

eleições 2018

Luciano Huck, a Globo e a memória seletiva dos ‘novos’políticos’

Apresentador enche a boca para cobrar ética de políticos em programa da Globo, mas parece esquecer de práticas que não resistiriam a um “Arquivo Confidencial”
por Helena Sthephanowitzpublicado 15/01/2018 11h14, última modificação 15/01/2018 13h11
Raquel Cunha/TV Globo
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Mesmo cobrando ética, Luciano Huck construiu casa em área de preservação ambiental

Passados alguns dias da repercussão da entrevista – interpretadas como fala de candidato, em “campanha eleitoral” antecipada – de Luciano Huck, no palco do programa do Faustão no  domingo 7, o apresentador negou que irá se candidatar à Presidência da República em 2018. Não foi uma negativa categórica por meio de nota oficial à imprensa – apenas um comentário pelas redes sociais, mas sem efetivamente descartar sua candidatura. Disse ainda que continuará atuando em movimentos cívicos para “oxigenar a política brasileira com novas cabeças, novas ideias e, principalmente, novas práticas”.

Já a TV Globo levou três dias para informar em nota oficial, que cumpre a legislação eleitoral e que não apoia qualquer candidato nas eleições de 2018. A afirmação só veio após parlamentares do PT entrarem com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a emissora por abuso dos meios de comunicação e de poder econômico.

Quando questionada pela imprensa a emissora justificou que a participação de Luciano Huck e Angélica no Domingão do Faustão havia sido gravada antes de o apresentador afirmar que não concorreria à Presidência. Mas isso sem explicar por qual razão a entrevista só foi ao ar agora, “fora do tempo”, e nem por que o telespectador não foi avisado de que se tratava de uma gravação. 

A argumentação não convenceu. Negações como essa são como a fumaça que confirma o fogo.

Se ainda restava alguma dúvida de que a aparição de Huck no programa tinha discurso de candidato, uma notinha de sexta-feira (12), da jornalista Daniela Lima, da coluna Painel, da Folha de S.Paulo, deixou evidente a candidatura.

De acordo com a jornalista, “informação de que a entrevista de Luciano Huck ao “Domingão do Faustão” foi gravada em 11 de novembro esbarra em um dado. Durante a conversa, Fausto Silva diz que Huck ‘deixou bem claro em comunicado enviado a todos os jornais que não seria candidato’ a presidente.”

O artigo em que o apresentador afirmou que não concorreria em 2018 foi publicado nos jornais no dia 27 de novembro. Portanto, o marketing político da Globo, no primeiro domingo do ano, foi quase dois meses depois de o apresentador anunciar que não seria candidato.

Além disso, a entrevista também ocorreu depois da divulgação de uma pesquisa Ipsos, no dia 23 de novembro, na qual Huck aparecia com e melhor avaliação de imagem junto ao eleitor.

Luciano Huck nunca abandonou o sonho de ser presidente da República.

No programa, o apresentador posou de bom moço, bom marido, o “novo”, o “não político”. Em relação à ideologia, Huck afirmou não ser de direita – e nem de esquerda. 

Não é de hoje que o todo queridinho da Globo mostra pretensões políticas. Em 2007, durante o governo do presidente Lula, o apresentador que hoje se diz representar “o novo”, o “não político”, nem esquerda e nem direita, se engajou ferozmente na campanha para retirar R$ 40 bilhões (valores da época) por ano do orçamento do SUS, detonando a CPMF.

Fazendo a vez do pato amarelo, Huck se apresentou como mestre de cerimônia “voluntário” para um show gratuito promovido pela Fiesp – de Paulo Skaf – em São Paulo, contra a CPMF. Recheado de atrações famosas, a imprensa anunciava que os organizadores esperavam atrair um público de dois milhões de pessoas, mas só sete mil apareceram. Ao ser avisado sobre o público pífio, Luciano Huck cancelou sua participação na última hora, pouco antes de subir ao palco, alegando “problemas de agenda”.

Mesmo assim, a bancada demotucana (DEM e PSDB) no Senado, com ajuda do Psol, conseguiu detonar a CPMF e o empresário Luciano Huck ficou um pouco mais rico, ao manter em sua conta o dinheiro que pagava de CPMF e era usado para financiar a saúde pública.

Voltando ao programa do Faustão, ao discorrer sobre o atual cenário político, Huck falou sobre ética com declarações como “pequenas corrupções levam às grandes corrupções”.

Aparentemente, o apresentador não deve ter lembrado – ou terá tentado se aproveitar da tradicional “memória curta” do brasileiro –  que em 2003, teve sua pousada em Fernando de Noronha (PE) interditada pelo Ibama, por ter sido construída em área de preservação ambiental.

Pela lei da época, só moradores que possuíam autorização de ocupação de solo poderiam construir em Fernando de Noronha, declarada pela ONU Patrimônio Natural da Humanidade.

Mas isso não foi problema: Huck, deu um “jeitinho” e a Pousada Maravilha foi construída pelo apresentador juntamente com os empresários João Paulo Diniz, Pedro Paulo Diniz e Ed Sá, no terreno onde morou o ex-chefe do Parque Nacional Marinho, José Gaudêncio Filho, o dono formal do empreendimento. Em 2011, Huck e os sócios, venderam a pousada ao cientista político filiado ao PSDB, Antonio Lavareda.

Luciano Huck também falou no programa sobre combate à corrupção. Ao mesmo tempo cobrou mais ética. “Os brasileiros estão envergonhados da classe política”, disse. Isso tendo o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (MDB), criado o Decreto 41.921, que ficou conhecido como “Lei Luciano Huck”, para alterar a legislação sobre Áreas de Proteção Ambiental, e manter “protegida” uma mansão do apresentador numa reserva ambiental de Angra dos Reis (RJ), construída sobre rochas e um espelho d’água. 

Faustão bem que poderia fazer novo convite a Luciano Huck e abrir o “Arquivo Confidencial” dele.