Protesto contra Vale e grandes corporações ganha ruas do Rio

Ato reuniu entidades e população em protesto contra violações e ‘falsas soluções’ ambientais das grandes corporações (Fabio R. Pozzebom/ABr) Rio de Janeiro – Colocada em lugar de destaque entre os […]

Ato reuniu entidades e população em protesto contra violações e ‘falsas soluções’ ambientais das grandes corporações (Fabio R. Pozzebom/ABr)

Rio de Janeiro – Colocada em lugar de destaque entre os maiores vilões ambientais do planeta em todas as discussões travadas na Cúpula dos Povos, as grandes corporações foram o principal alvo das manifestações realizadas nesta terça-feira (19) no Rio de Janeiro. O ponto alto dos protestos contra a apropriação dos bens comuns, a violação dos territórios, a degradação do meio ambiente e o deslocamento forçado de pessoas, entre outros problemas atribuídos à ação direta das grandes corporações, foi uma manifestação de cerca de 2,5 mil pessoas que caminharam no início da noite até a porta da sede da Vale, no Centro do Rio.

Durante o ato, foi feita a entrega simbólica do prêmio de pior corporação do mundo – o Public Eye Award – recebido pela Vale em janeiro deste ano: “Em seguida, foram feitos uma série de relatos nacionais e internacionais vinculados a todos os danos, impactos e violações causados por empresas transnacionais. Houve falas de representantes de Bolívia, Colômbia e Canadá, além de vários relatos de pessoas das comunidades atingidas, que estão sofrendo na carne esse poder descontrolado, os desmandos e as arbitrariedades das grandes corporações”, conta Andressa Caldas, integrante da organização Justiça Global e da Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale.

O ato era dirigido contra todas as empresas transnacionais e seus megaprojetos, mas a proximidade com o 3º Encontro Internacional dos Atingidos pela Vale, evento realizado dentro da Cúpula dos Povos e encerrado na segunda-feira (18), fez com que a empresa brasileira fosse o foco principal dos protestos. Ao fim do ato, os manifestantes jogaram tinta vermelha na parede do prédio da Vale: “Terminamos deixando, de forma simbólica, a marca do sangue que as corporações arrancam dos trabalhadores, das comunidades e das pessoas que elas têm afetado diretamente”, justifica Andressa.

Durante o ato, aconteceu também um momento de desagravo ao ativista moçambicano Jeremias Vunjanhe, presente à Cúpula dos Povos para denunciar as irregularidades socioambientais cometidas pela empresa brasileira em Moçambique e personagem involuntário de um dos episódios mais constrangedores para o governo brasileiro até aqui na Rio+20. Ao chegar ao Rio de Janeiro no dia 12 de junho, Vunjanhe foi barrado pela Polícia Federal ainda no aeroporto e, mesmo sem nenhuma justificativa legal que amparasse tal decisão, foi enviado de volta a seu país.

Após alguns dias de uma forte pressão política exercida sobre o governo brasileiro pelas organizações que compõem a Cúpula dos Povos, a entrada de Jeremias Vunjanhe no Brasil foi liberada pelas autoridades. Quando o ativista finalmente saiu do Aeroporto do Galeão na noite de segunda-feira (18), foi recebido com música e palavras de ordem por cerca de 250 pessoas que saíram do Aterro do Flamengo para recepcioná-lo. A ovação se repetiu no ato na porta da Vale.

A manifestação denunciou ainda as “falsas soluções” que as grandes corporações, sob o rótulo de economia verde, tentam impor na Rio+20. Entre as empresas mais citadas nos discursos dos ambientalistas, além da Vale, ficaram Shell, Syngenta, Bunge, Bayer, Monsanto, Votorantim, Alcoa, Nestlé, Andrade Gutierrez e Odebrecht, entre outras. Também foram muito criticados projetos desenvolvidos no Rio, como a siderúrgica CSA (da empresa alemã ThyssenKrupp) e o Porto do Açu (da empresa EBX, do empresário Eike Batista), além do acidente com o poço de petróleo da empresa norte-americana Chevron, que provocou um grande vazamento na Bacia de Campos.

Cooptação

Outro motivo de denúncia apresentado pelos ambientalistas durante todo o dia na Cúpula dos Povos foi o vínculo das grandes corporações com os governos nacionais: “Nós deixamos muito clara essa associação ao falarmos das ‘empresas ponto gov’ e dos ‘governos ponto com’. Hoje existe uma relação simbiótica entre governos e corporações que tem se mostrado danosa para os povos e o meio ambiente”, avalia Andressa Caldas.

A ambientalista afirma que a Rio+20 sofre uma “captura corporativa” que se reflete na timidez do documento oficial: “Hoje, as corporações têm capturado os governos, têm assumido o papel de tomadora de decisões e definidoras de políticas públicas. Isso acontece em todos os níveis, seja nas questões ambiental ou alimentar, em situações como a apropriação da indústria alimentícia pelos agrotóxicos, a mineração, a construção de hidrelétricas e a produção de tecnologia. Essa preocupação da sociedade civil está muito presente em todas as discussões que fizemos até aqui na Cúpula dos Povos”.