O vasto telhado de vidro de José Serra

(reprodução) Não consta do sistema Divulgação de Candidaturas 2012 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a certidão da Justiça Federal do DF, na qual o candidato a prefeito de São Paulo […]

(reprodução)

Não consta do sistema Divulgação de Candidaturas 2012 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a certidão da Justiça Federal do DF, na qual o candidato a prefeito de São Paulo José Serra (PSDB), é réu em uma ação por improbidade administrativa, decorrente da quebra (escandalosa, aliás, mas atualmente esquecida pela “grande mídia”) do Banco Econômico, quando Serra era ministro da área econômica do governo FHC.

No sistema Divulgação de Candidaturas, o tucano apresentou apenas seis certidões, e omitiu a certidão do tribunal onde corre o referido processo – mostrada na imagem ao lado. A apresentação destas certidões, obrigatória e divulgada na internet, visa permitir ao eleitor conhecer melhor seu candidato – coisa que, aparentemente, não interessa a Serra.

O candidato a prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), repete o erro que cometeu nas eleições de 2010 com a exploração do tema aborto, ao querer trazer o julgamento do chamado “mensalão”, de forma oportunista, para a campanha municipal. Naquela eleição, o tema aborto acabou virando-se contra ele.

Serra erra porque, se em um primeiro momento pode provocar algum desgaste na candidatura de Fernando Haddad, por ser o candidato do PT, imediatamente depois a arma se voltará contra o próprio tucano.

Ao contrário do que imagina Serra, os esforços da velha imprensa em explorar o escândalo com estardalhaço, não afeta exclusivamente candidatos do PT, e sim rebaixa o conceito de todos os políticos, de todos os partidos, perante o povo. E tanto pior será para quem, como Serra, tem a cara de político profissional. E tanto melhor para Haddad que tem cara de novo, de renovação dos costumes políticos.

Do ponto de vista dos partidos, a coisa funciona assim: se o povo dá uma nota menor ao PT nesta hora, rebaixa ainda o PSDB e todos os outros partidos que já ocuparam governos, e são também responsáveis pelos costumes políticos que foram impondo.

Pesa contra Serra, perante o eleitor:

– estar na política há décadas, portanto convivendo com todos os vícios da atividade;

– disputar todas as eleições de dois em dois anos, e defender o financiamento privado de campanha;

– ser do partido que criou o “mensalão”, anos antes (em 1998), em Minas, e nunca o combateu;

– ninguém acreditar que Marcos Valério atuou só em 1998, pulando depois para 2003, sem ter atuado na campanha de 2002, quando Serra foi candidato;

– ter sido homem forte e indicado para sucessor de FHC, governo para o qual o Congresso criou a Emenda da Reeleição, esta sim com provas irrefutáveis de compra de votos.

– as acusações sobre desvios de recursos obtidos com as privatizações de estatais quando foi ministro de FHC, apontados no livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr.

– responder processo por improbidade administrativa no caso do Banco Econômico, durante o governo FHC.

– envolvimento em vários escândalos, devidamente “engavetados”, pelos parceiros no poder e pela velha mídia.

Enfim, Serra tem um enorme telhado de vidro que não o credencia a candidatar-se a paladino da ética. Ao trazer o assunto para a campanha, ele trará todo seu contencioso à tona.

Mas, pelo visto, esperar bom-senso do tucano é inútil, assim como foi em 2010.