Russomanno repete o erro da demagogia religiosa

Não há nada de errado quando candidatos em campanha política realizam encontros e reuniões com grupos religiosos organizados, apresentam propostas, ouvem demandas populares. Também é natural candidatos que tenham uma […]

Não há nada de errado quando candidatos em campanha política realizam encontros e reuniões com grupos religiosos organizados, apresentam propostas, ouvem demandas populares. Também é natural candidatos que tenham uma vida de dedicação comunitária religiosa buscarem votos em sua base eleitoral de origem.

Mas há algo de muito errado quando candidatos querem servir-se das religiões para obter votos. Em vez de buscar convencer o eleitor através de bons planos de governo para resolver os problemas da população, erra aqueles que se apresentam como se fossem alguém ungido a quem os cidadãos deveriam dar um cheque em branco com seu voto.

Vamos lembrar que várias igrejas no passado foram cortejadas e já apoiaram candidatos a prefeito de São Paulo, casos de Celso Pitta e Gilberto Kassab, ou de Collor para presidente – eles foram eleitos, mas seus governos foram considerados ruins. José Serra (PSDB) cometeu o erro de querer fazer demagogia religiosa em 2010. Agora, Celso Russomanno (PRB) vai pelo mesmo caminho nesta eleição.

O eleitor religioso não busca orientação espiritual em políticos para escolher que igreja frequentar. Da mesma forma, a escolha de quem vai governar a cidade depende de buscar o conhecimento sobre quem tem o melhor plano de governo, quem parece mais capaz de resolver os problemas, quem tem o melhor time de políticos que cercam o candidato – pois ninguém é eleito sozinho e é com os políticos que o cercam que irá definir os rumos do governo.

Além disso, se só rezar tampasse buraco da rua, criasse uma rede de saúde pública eficiente, eliminasse engarrafamentos e enchentes, garantisse escola de boa qualidade para os filhos, resolvesse o problema de moradia, não precisaríamos de governos, bastavam as igrejas.

Erram também os líderes religiosos que exageram e expõem sua igreja como se fosse um partido político para fazer coligações, a ponto de pedir votos em cultos, como se fossem comícios. As igrejas devem acolher a todos, sem discriminar ninguém, independentemente de partido que simpatize ou seja filiado.

Da mesma forma que todo partido democrático deve aceitar filiados de qualquer religião, sem discriminação. E quem é eleito e exerce o governo, deve governar para todos, sem exceção de espécie alguma. O conceito de Estado laico é a própria garantia da liberdade religiosa, em que nenhum governante vai impor, nem perseguir igreja nenhuma.

Quando se mistura igreja e Estado, perdem os dois. Se uma igreja toma conta do Estado, prejudica todas as outras. E quanto mais uma igreja mistura-se com política, mais a política interferirá na igreja. Afinal, imagine se um candidato de qualquer religião eleito não tiver bom desempenho no governo, e quiser se reeleger, irá procurar afastar da igreja todos os missionários que, honestamente, na defesa da população, criticarão o governo. O projeto de poder acaba interferindo na missão espiritual da religião.