Violência crescente e impunidade afligem trabalhadores rurais

Em debates que antecedem a abertura do 11º Congresso da Contag, que ocorre nesta noite, carta aberta de entidades afirma que 'já não há mais país nem região onde não haja assassinatos ou expulsão de indígenas e camponeses de suas terras'

A impunidade, avaliam os camponeses, é o combustível da violência rural (Foto: Antônio Gaudério/Arquivo Folhapress)

Brasília – Assassinatos, precarização das relações de trabalho, concentração de terras e “contra reforma agrária” são algumas das modalidades de violência no campo debatidas em seminário que precede a abertura do 11° Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Na primeira parte dos debates, realizadas no final da manhã de hoje (4), representantes de entidades internacionais expuseram problemas comuns ao trabalhador do campo. “A violência no campo está crescendo. A impunidade é o combustível que alimenta essa máquina do terror”, afirmou o secretário regional para a América Latina e Caribe da União Internacional de Trabalhadores da Alimentação (Uita), Gerardo Iglesias.

Segundo ele, um caso particularmente preocupante é o da Colômbia – de cada dez sindicalistas mortos em 2012, seis crimes ocorreram naquele país. Iglesias classifica o modelo atual de “violento e excludente”. Mesmo quando está trabalhando, acrescenta, o homem do campo “não sai do labirinto de pobreza e se mantém em condições indignas de vida”.

A vice-presidenta da Contag e secretária-geral da Confederação Internacional de Organizações de Produtores Familiares, Camponeses e Indígenas do Mercosul Ampliado (Coprofram), Alessandra Lunas, diz que existe um fenômeno crescente de migração nas fronteiras, da mesma forma que ocorre internamente no Brasil. Além disso, a busca crescente de mercados para exportação tem acelerado a saída de pessoas do campo. Levantamento feito pelas entidades em 2010 identificou um movimento de fusões de empresas no setor de alimentação inferior apenas ao do setor eletrônico.

“Nós questionamos a afirmação de que quem garante a segurança alimentar é o agronegócio”, afirma Alessandra. “Segundo dados do IBGE, 70% dos alimentos básicos vêm da agricultura familiar. A soberania alimentar passa pelo fortalecimento da agricultura alimentar. Esse debate precisa ser feito: quem alimenta e sob quais condições.”

Em carta aberta, as entidades afirmam que “já não há mais país nem região onde não haja assassinatos ou expulsão de indígenas e camponeses de suas terras”.

A abertura oficial do congresso está marcada para as 19h, com as prováveis presenças dos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário). Para amanhã à noite está previsto um encontro entre a presidenta Dilma Rousseff e os trabalhadores rurais. O evento vai até sexta-feira (8).