Trabalhadores de escolas de SP ligadas à tecnologia sinalizam greve geral

São Paulo – Professores e funcionários do Centro Paula Souza, responsável pelas Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do estado de São Paulo, podem interromper as atividades na […]

São Paulo – Professores e funcionários do Centro Paula Souza, responsável pelas Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do estado de São Paulo, podem interromper as atividades na primeira semana de maio. Antes, realizam marcha na capital paulista contra o sucateamento do ensino tecnológico no estado. A direção do Centro Paula Souza promete valorização salarial e bônus para profissionais com bom desempenho.

Sem reajuste salarial há seis anos e há 12 à espera da implementação do plano de carreira para a categoria, a presidenta do Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (Sinteps), Neusa Alves, cogita pedidos de demissão em massa do corpo docente. “Diretores das unidades de Etecs e Fatecs estão se desesperando com a falta de professores”, diz. 

Alunos do ensino médio da Escola Técnica Camargo Aranha, na capital paulista, passaram dois meses sem professor de matemática. Outras turmas ainda estão sem aulas de Física e Matemática, reclamam alunos ouvidos pela Rede Brasil Atual.

“Cem profissionais prestam concurso, mas ninguém quer assumir aulas pelo valor pago pelo Centro (Paula Souza), afirma. “Novas unidades não conseguem funcionar porque com hora-aula de R$ 10 nas Etecs e de R$ 18 nas Fatecs já houve inúmeras saídas”, diz. “O vale-coxinha de R$ 4 não paga as coxinhas mais”, ironiza.

A promessa de implantação de um plano de carreira também preocupa os trabalhadores pela falta de transparência e  diálogo com a categoria. De acordo com Neusa, há divergência entre o que promete a direção do Centro Paula Souza e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, responsável pela administração do ensino tecnológico paulista.

A indicação do secretário-adjunto da pasta, Pedro Jehá, é de que um novo plano de carreira está em análise, nos moldes do Serviço Nacional da Indústria (Senai). Mas pode demorar os quatro anos da gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para ser implantado, aborda Neusa.

Por outro lado, a diretora superintendente do Centro Paula Souza, Laura Laganá, aponta a implantação de um novo plano em maio deste ano. O plano estaria pronto desde 2008. “Não temos muitas informações, só sabemos que a nota de corte é de 20%”, explica a sindicalista em alusão a critérios que devem excluir 20% do quadro de funcionários e professores da opção pelo plano de carreira. “Depois de dez anos esperando pelo plano de carreira, ele pode vir com retirada de direitos.”

A expansão de cursos de gestão também é alvo de críticas dos trabalhadores. “Para dar formação na área tecnológica é preciso ouvir os anseios de cada região”, dispara. “Os cursos de gestão se proliferam porque não precisam de laboratórios, mas cadê os cursos de ponta de verdade?”, critica. “Quem vai atender de fato o mercado petroleiro, o mercado de mecânica, eletrônica e outros?”, indaga.

O sindicato avalia que cursos de gestão formam profissionais com características de serviços e deixam a desejar na vertente tecnológica. “Depois o aluno fica aí como atendente”, dispara. “O estado de São Paulo está perdendo o foco na tecnologia. Serviços são importantes, mas tecnologia avançada precisa existir”, analisa. Ela acredita que o estado está expandindo “cursinhos”.

Greve geral

O Sinteps vai realizar nas próximas semanas assembleias regionais para ouvir os trabalhadores. Uma primeira reunião realizada em abril indicou greve geral logo após marcha conjunta de funcionários, professores e alunos contra o sucateamento do ensino tecnológico, no início de maio.

“As principais reivindicações são pela valorização profissional, contra o sucateamento e pela democratização das instâncias deliberativas no Centro (Paula Souza)”, menciona Neusa.

Outro lado

A coordenação de comunicação do Centro Paula Souza informou à reportagem que um novo plano de cargos e salários para os trabalhadores das Etecs e Fatecs está em elaboração. Ainda este ano está prevista a aplicação da progressão funcional para servidores com bom desempenho na carreira. O novo plano prevê um reajuste médio de 49% no valor da hora-aula aos professores e a criação de bonificação por resultado.

Leia a resposta do Centro Paula Souza na íntegra:

Informamos que está em elaboração um novo Plano de Cargos e Salários que visa valorizar o salário dos professores e servidores do Centro Paula Souza. Está prevista, também, para este ano, a aplicação da progressão funcional, que beneficiará os servidores que apresentarem bom desempenho na carreira.

Alinhado ao programa de governo de expansão e melhoria do ensino profissional no Estado de São Paulo, foi aprovado em 2008 pela Assembleia Legislativa de São Paulo o Plano de Carreiras dos Servidores, Docentes e Técnicos Administrativos do Centro Paula Souza.

Além de um reajuste médio de 49% no valor da hora-aula paga aos professores, o plano determinou a incorporação de gratificações e reajuste de acordo com o tempo de serviço para o pessoal administrativo. Uma novidade introduzida pelo novo Plano de Carreiras foi o estabelecimento da Bonificação por Resultado, em que o servidor pode receber até 2,9 salários a mais por ano, dependendo da avaliação da unidade em que trabalhe. São considerados critérios como Índice de Dias de Efetivo Exercício (frequência de cada servidor, docente ou administrativo), quantidades de vagas oferecidas e de formandos e também o índice de empregabilidade dos alunos formados pela instituição.

Com relação a reajuste salarial, o Centro Paula Souza informa que qualquer alteração de valores depende de previsão orçamentária e aprovação na Assembleia Legislativa, bem como de aprovação do Governo do Estado.

Novos cursos – Com relação aos cursos oferecidos pelas Etecs e Fatecs, esclarecemos que a definição das modalidades de formação e a elaboração dos currículos e cursos são realizadas a partir da parceria entre o Centro Paula Souza, o poder público e a iniciativa privada.

Os cursos visam atender ao perfil socioeconômico de cada região onde são implantados e fortalecer os Arranjos Produtivos Locais (APLs), formados por grupos de empresas locais.