Trabalhador tem dificuldade de se desligar da rotina, diz Ipea

Pesquisa mostra que 45,4% das pessoas ficam presas ao serviço mesmo após a jornada. E 37,7% sentem que o tempo livre diminui por causa do tempo diariamente gasto com o trabalho remunerado

São Paulo – O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresentou hoje (21) relatório a respeito da percepção e do uso dos trabalhadores quanto ao próprio tempo livre do Sistema de Percepção Social (SIPS). Quase a metade (45,4%) das 3.796 pessoas ouvidas afirmou ter dificuldade para se desligar totalmente do trabalho remunerado, mesmo após o término de sua jornada diária. 

A dificuldade de se desligar deve-se ao fato de o trabalhador ter de ficar de prontidão para alguma atividade extraordinária (26%) e à necessidade de planejar ou desenvolver alguma atividade de trabalho, por internet, celular etc (8%), ou para aprender um conjunto de coisas sobre o próprio trabalho (7,2%). 

Devoção religiosa (7,1%), estudos (5,9%) e treinamento esportivo (5,9%) são as atividades destacadas por aqueles que conseguem assumir outros compromissos regulares, além do trabalho remunerado. O tempo médio dedicado a essas atividades é de 10,7 horas semanais.

O estudo mostrou que trabalhadores assalariados têm chance 1,6 vez maior de se afastar do trabalho do que os que trabalham por conta própria. E 4,2% disseram que exercem outra atividade remunerada.

Dos entrevistados, 37,7% sentem que o tempo livre diminui por causa do tempo diariamente gasto com o trabalho remunerado. Isso ocorre em razão do excesso de atividades exigidas no trabalho (18%), pela obrigação de  levar atividades laborais para  casa (5,3%) e por conta do maior tempo gasto com transporte para o trabalho (4,8%), entre outras razões.

O Ipea mostrou que 39,5% dos entrevistados consideram que o tempo dedicado ao trabalho remunerado compromete a qualidade de vida, devido ao fato de o trabalho gerar cansaço e estresse (13,8%), de comprometer as relações amorosas e a atenção à família (9,8%), do prejuízo causado ao estudo, ao lazer e ao esporte (7,2%) e por afetar negativamente as relações de amizade (5,8%).

O estudo demonstra ainda que 48,8% das pessoas reagem negativamente quando têm de dedicar parte do tempo livre a atividades do trabalho remunerado. As atitudes expressas são conformação por precisar manter o trabalho (36,7%), tristeza por não sentir prazer no trabalho (5,1%) e revolta por achar que o tempo livre deveria ser dedicado a outras atividades que não o trabalho (7%).

Segundo o Ipea, os dados mostram que entre 30% e 50% dos entrevistados consideram que o tempo dedicado ao trabalho remunerado afeta negativamente seu tempo livre, com todas as consequências deste fato em termos de redução de sua qualidade de vida. Entretanto, apenas  21,5% afirmam efetivamente pensar em trocar de trabalho por causa do tempo que gasta com ele, avaliado como excessivo.

Questionados sobre eventual redução na jornada, 36,2% dos entrevistados afirmaram que não perceberiam diferenças. Os entrevistados que as perceberiam utilizariam o tempo livre da seguinte forma: para cuidar da casa e da família (24,9%); para estudar (12,3%); para descanso puro e simples (12,3%); e para prática de esporte/recreação (5,7%).

Contexto

De acordo com o Ipea, o contexto dessa análise precisa ser destacado, pois consiste em um mercado de trabalho com sinais de dinamismo, não observados no país desde os anos 1970. Esses sinais incluem a forte redução do desemprego e da informalidade,  paralelas à expansão do assalariamento (em particular daquele protegido por normas laborais e sociais) e da remuneração do trabalho.

Para a realização do estudo, o Ipea entrevistou pessoas que moram em áreas urbanas das cinco regiões do país, todas com mais de 18 anos de idade e que exerciam alguma atividade remunerada na semana de referência da pesquisa.