Professor demitido com problema de saúde recusa-se a voltar a faculdade

Cásper Líbero, em São Paulo, voltou atrás depois de manifestação de estudantes favorável a Edson Flosi

São Paulo – “Minha resposta: não volto, não posso e não devo voltar.” É assim que o professor e jornalista Edson Flosi resume, em uma carta, sua negativa à proposta apresentada ontem (19) pela Faculdade Cásper Líbero, que o demitiu no início deste mês. 

Há dois anos, com problemas de saúde, ele havia se afastado das aulas, exercendo somente funções de orientação e assessoria à diretoria. Após o também professor e jornalista Caio Túlio Costa se demitir em solidariedade ao colega, os estudantes fizeram uma manifestação em frente à instituição, na avenida Paulista, na sexta-feira passada (16), protestando contra a saída dos professores e por melhorias na estrutura da faculdade. Em nota divulgada ontem, a Fundação Cásper Líbero convidou Flosi a reassumir o cargo, proposta recusada. 

Na carta, o professor afirma que não recebeu um convite dirigido a ele, mas que tomou conhecimento pela imprensa, já que a instituição divulgou nota sobre o convite. Ele dá a entender que se trata de uma “manobra para esvaziar o movimento dos estudantes” e aponta que sua demissão é só mais um dos descontentamentos deles. As demissões de Flosi e Túlio Costa seriam a gota d’água para os alunos. Eles apontam os problemas da faculdade, como deficiência na infraestrutura e a discrepância entre o alto valor das mensalidades e o serviço prestado.

O gerente de comunicação da Fundação Cásper Líbero, Marcelo Rodrigues, disse ontem à rádio CBNque a fundação respeita a recusa de Flosi e garantiu que o convite seria estendido ao professor Túlio, caso Flosi aceitasse voltar. Segundo Rodrigues, a Fundação Cásper Líbero não tinha conhecimento dos problemas de saúde do professor quando a faculdade, mantida pela fundação, o demitiu. Ele afirmou que esse tipo de postura não é da cultura da instituição.

Flosi, que lecionava na faculdade havia 16 anos, contou em entrevista que considerou a demissão injusta. “Exerci minhas funções com dedicação, presidi as comissões de uma série de eleições e fazia assessoria jurídica à diretoria com toda atenção”, disse. Para Flosi, também advogado, a empresa tem todo o direito de demitir qualquer funcionário. “Não foi ilegal o que fizeram. De fato, doença não gera estabilidade, mas foi imoral.” 

Na carta divulgada ontem, Flosi diz que não aceitou o convite também porque se sentiu ultrajado pela atitude da faculdade e porque não havia sido feito o mesmo gesto em relação ao professor Caio Túlio. A carta de Túlio circulou na semana passada e movimentou os estudantes. “Não me sinto bem em ambiente que comete tal ação e cujos dirigentes concordem com ela caso tenha sido imposta por instância superior da Fundação Cásper Líbero, mantenedora da faculdade”, disse. O professor apontou outros motivos de sua saída, como a redução do salário dos professores orientadores de Trabalhos de Conclusão de Curso; a quantidade de alunos espremidos em salas despreparadas para receber quase 60 deles nos cursos matutinos do quarto ano de jornalismo, e a falta de salas de aula climatizadas, entre outros problemas estruturais.

Flosi afirmou que a Faculdade Cásper Líbero cobra caras mensalidades, e os recursos não são destinados a investimentos na qualidade do ensino. “Por fazer parte de uma fundação, ela deveria ter fins sociais e filantrópicos, mas não é isso o que tem feito; o que é arrecadado é repassado à fundação, e aí, então, esta repassa só o que deseja à faculdade.”  

O Centro Acadêmico Vladimir Herzog, da faculdade, realizou duas assembleias ontem, de manhã e à noite, reunindo cerca de 700 estudantes. Sua presidenta, a estudante Giulia Afiune, afirmou que a volta do professor ao corpo docente não foi um pedido do centro acadêmico, e entende que a medida da fundação foi adotada pela percepção de que o movimento estava forte e organizado. 

Na assembleia, entre as propostas aprovadas, a exigência que as decisões administrativas passem pelos órgãos colegiados da faculdade e que seja publicado um balanço mensal da arrecadação e dos gastos da faculdade, com os valores detalhados e absolutos, já que os estudantes reclamam que há pouca transparência nas contas da instituição. “Existe uma série de outras questões que prejudicam o bom funcionamento pedagógico da Cásper. Por exemplo, o grau de interferência da fundação na faculdade, as mensalidades majoradas constantemente, e as salas, laboratórios e equipamentos, que deixam a desejar”, comentou. Giulia afirmou que o movimento dos alunos não acabou. “A demissão do Flosi é a pontinha do iceberg”, disse.