Problemas em conferência refletem complexidade do tema, diz diretora da OIT

Para Lais Abramo, mesmo com interrupção do encontro o Brasil avançou no processo de diálogo social. Partes precisam mostrar maturidade e compromisso, afirma

Brasília – A diretora da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Lais Abramo, considera que os problemas enfrentados durante a 1ª Conferência de Emprego e Trabalho Decente, que termina hoje (11), estão relacionados à própria magnitude da discussão. “É um século de aprendizado de diálogo tripartite”, diz, lembrando que o organismo fez este ano sua 101ª Conferência Internacional. “Aqui (no encontro brasileiro) houve muitas inovações, fórmulas que foram sendo construídas no sentido de fazer esse debate da melhor maneira possível. Tem a ver até com a ambição, no sendo positivo da palavra. O temário é muito complexo e envolve questões muito polêmicas. É normal que os ânimos se acirrem.”

A conferência foi interrompida ontem (10) à tarde, quando a bancada dos empregadores se retirou das plenárias. Durante a noite, foi negociada uma proposta de acordo para que fosse votado apenas um conjunto de temas considerados prioritários. Ainda não havia certeza quanto à continuação do encontro. Para Lais Abramo, é importante que as partes continuem discutindo e mantenham um compromisso pelo trabalho decente no país. Ela avalia que o Brasil avançou muitos nos últimos anos na prática da negociação, mesmo com problemas. “Tem a ver com a democracia também. A questão da cultura do diálogo é muito importante. Criam-se confianças, embora as questões antagônicas se mantenham. Temos hoje muitas instâncias de diálogo que funcionam plenamente.”

Para a diretora da OIT, é preciso ressaltar todo o processo desenvolvido previamente, até chegar à conferência nacional. Foram 273 conferências preparatórias, 26 estaduais, 104 regionais, cinco microrregionais e 138 municipais. “Isso já foi extraordinário. Nunca houve um processo tão amplo, com participação de aproximadamente 25 mil pessoas. Eu diria que isso já foi um ganho enorme, no sentido de ampliar os espaços de diálogo social e inserir essa discussão no país”, observa, acrescentando que o debate não se esgota. “O objetivo, claro, era definir as diretrizes de uma política nacional de trabalho decente. A conferência não termina hoje.”

Mas a interrupção do encontro provocou frustração e inquietação nos delegados, concorda Lais. “Mas existe uma percepção de que esse processo será concluído. Acho que o grande exemplo de maturidade seria concluir com êxito essa conferência”, afirma.

Ela lembra ainda que o funcionamento e o método de votação haviam sido acordados previamente pelas parte. Também se buscou conciliar o tripartismo com o processo de consulta popular. E, diferente das conferências da OIT, nas quais o governo tem peso 2 e as bancadas de trabalhadores e empresários, peso 1. No caso brasileiro, todas eram paritárias. “Aqui, a gente pode dizer que a democracia foi além”, comenta. Segundo Lais, até onde ela pôde ver, “tudo estava sendo feito conforme o regimento”.