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Fundação Butantan rescinde contrato com empreiteira após denúncia da RBA

Trabalhadores que perderam seus empregos quando seriam formalizados por ordem do Ministério do Trabalho dizem que obras no prédio do órgão ligado ao governo paulista foram suspensas por 'falta de licitação'

Raoni Maddalena/RBA

Paralisar canteiro de obras, que funcionava sem licitação, foi ideia encontrada pelo Butantan

São Paulo – A Fundação Butantan, responsável pela gestão administrativa e financeira do Instituto Butantan, órgão ligado à Secretaria estadual de Saúde de São Paulo, paralisou ontem (24) as obras de reforma do antigo núcleo habitacional, que está sendo transformado em laboratórios e áreas administrativas.

De acordo com os trabalhadores, o anúncio foi feito ontem por engenheiros da construtora Tenatech, contratada pela fundação para gerenciar as obras. “Disseram que o Butantan mandou parar o serviço porque a obra já passou dos 90 dias”, disse o operário Queba Sané, que deixou seu país, Guiné-Bissau, na África, há pouco mais de um ano em busca de melhores oportunidades. “Eles prometeram fazer a medição do serviço em 15 dias e pagar o que devem. Mas não tem outro serviço para nós.”

“Disseram que a obra estava atrasada e que tinha também problema de falta de licitação”, acrescenta o colega Garcia Sambu.

Sané e Sambu contam que na semana passada, depois da fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), ele e outros 23 operários, muitos deles africanos, entregaram carteira profissional no escritório da construtora Tenatech, no canteiro de obras nas dependências do Butantan. E que assinaram um contrato de trabalho com mais de seis páginas.

Segundo eles, a situação começava a melhorar. Além dos R$ 1.800 que receberam no último dia 10, depois que a reportagem da RBA esteve no local, foram pagos outros R$ 660 nesta segunda – nas duas vezes em dinheiro, mediante assinatura de recibo. Tinha melhorado a qualidade das marmitas e tinha sido providenciado um local para as refeições, com mesas e cadeiras, já que até então comiam sentados no chão.

A confiança de que a situação finalmente seria regularizada, com registro em carteira e direitos trabalhistas, foi substituída pela decepção da perda do emprego e por incertezas logo após a breve reunião na tarde de ontem, seguida pelo recolhimento das ferramentas e a orientação de que não deveriam mais voltar ali.

“Disseram que vão pagar. Mas onde vamos encontrá-los, se o endereço que temos é aqui, no Butantan, e se não podemos mais entrar? Onde vamos pegar nossas carteiras”, questiona Sané.

Na quinta-feira passada (18), auditores do Ministério do Trabalho estiveram nas obras, onde encontraram diversas irregularidades, como falta de registro em carteira, uniformes, equipamentos de segurança e refeitório, além dos salários atrasados, conforme denúncia da RBA.

De acordo com o auditor Sérgio Aoki, que esteve no local, representantes da Construtora Tenatech compareceram à Superintendência Regional do MTE, em São Paulo, na terça-feira (23), conforme intimação.

“Como eles tiveram dificuldade para sanar todas as irregularidades dentro do prazo dado, justificando que entre outras coisas faltavam documentação de alguns trabalhadores, estendemos o prazo até a próxima quinta-feira (2)”, disse o auditor.

Ressaltando não serem da alçada do MTE questões relacionadas à rescisão contratual entre Butantan e Tenatech – e sim a garantia dos direitos trabalhistas –, Aoki informou que a fundação já foi procurada. “Se até o prazo final a situação dos trabalhadores não for regularizada pela empreiteira, cabe ao Butantan, tomador de serviço, arcar com a responsabilidade.”

Ainda segundo o auditor, o Butantan admitiu problemas no contrato com a empreiteira, firmado sem licitação. Procurado pela reportagem, o Butantan não se manifestou a respeito.

Contratação sem licitação pela fundação não é novidade. No final de agosto passado, o conselheiro Dimas Eduardo Ramalho, do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, acolheu proposta da Procuradoria da Fazenda Estadual para analisar a contratação da Construteckma Engenharia S.A,  em especial quanto à legalidade do contrato quanto aos princípios que norteiam a aplicação de recursos públicos, tais como a impessoalidade, moralidade, economicidade e publicidade.

Assinado pelo presidente Jorge Elias Kalil Filho, o contrato refere-se à reforma de um prédio, para serviços de sistema de ar, arquitetura e elétrica predial interna, e, segundo a fiscalização, houve dispensa de licitação, contrato e execução contratual, para os quais os responsáveis devem ser chamados para as justificativas.

No dia 15 de abril, o Diário Oficial publicou decisão dos conselheiros Dimas Eduardo Ramalho, Renato Martins Costa e Samy Wurman, que julgaram irregulares a dispensa de licitação bem como o contrato celebrado entre a Fundação Butantan e a Construtora Pillaster Ltda, no valor de R$ 1.015.000,00, para a construção de um prédio administrativo.

A fundação tinha 60 dias para informar as providências adotadas, inclusive apuração de responsabilidades e imposição das sanções administrativas cabíveis, mas não se sabe o desfecho.

Além da Tenatech e da Construteckma, atualmente prestam serviços ao Butantan empresas como a Monthac, Metaflora, na área de jardinagem, Engeko, na reforma do biotério, Guima, no serviço de limpeza, GP, na segurança, L’Equipe, na área de restaurante, Paulicalhas, CACR Engenharia e instalações, Mastim, em serviços de ar-condicionado, Reobra, na reforma do serpentário antigo, Brasiltelhas, na reforma de telhados de vários prédios, e Gatti, empresa que fornece serviços de transporte ininterrupto de vans entre as dependências do Butantan e a estação de metrô com o mesmo nome, nas imediações.