Construtora Racional culpa terceirizada por trabalho escravo em obra de hospital

São Paulo – O representante da construtora Racional Marcos Santoro voltou a afirmar hoje (8), em depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, que a empresa “não […]

São Paulo – O representante da construtora Racional Marcos Santoro voltou a afirmar hoje (8), em depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo, que a empresa “não tem culpa” pelo emprego de mão de obra em situação análoga à escravidão em obras de reforma no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo. Santoro foi convocado para explicar irregularidades encontradas em fevereiro em obras pela fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, após receber denúncia de um dos operários.

Escravidão por dívida
Um grupo de 11 maranhenses trabalhava como pedreiros e serventes para a construtora Racional Engenharia na ampliação do hospital. Os representantes da Racional alegaram que os empregados eram terceirizados e que a direção desconhecia as irregularidades. Dos 11, quatro foram aliciados no Maranhão e já chegaram a São Paulo endividados. Os demais trabalhavam em outra obra na capital. De acordo com auditores fiscais do trabalho, eles não tinham dinheiro para comprar cartões telefônicos e entrar em contato com familiares nem para se locomover dentro da cidade. A Racional é uma das maiores empresas do ramo no Brasil. Leia reportagem completa sobre o caso no site da ONG Repórter Brasil

O líder do PSDB, deputado Carlos Bezerra Júnior, criticou o depoimento do diretor: “Sempre a lógica de quem se beneficia com o trabalho escravo é a mesma, o responsável é sempre o subcontratado. O grande responsável, segundo a Racional, que vai faturar até o final deste ano R$ 1 bilhão, é o Clemilton, que tem uma empresa chamada Genecy, com sede na casa dele e que coincidentemente era ex-funcionário da Racional”, disse.

Bezerra refere-se ao argumento de Santoro, que acusou um ex-funcionário da Racional, Clemilson Oliveira Leite, de ter recrutado os trabalhadores por meio de sua empresa, Genecy, subcontratada da Racional para a obra.

“Não temos nada a esconder da Comissão, nem do público”, disse Santoro. “Tudo o que eu coloquei é a expressão da verdade, a Racional não pauta o seu crescimento em cima de trabalho precário, não pauta o seu lucro em cima de trabalho escravo, muito pelo contrário. Esse foi um caso isolado. Saiu do nosso controle.” 

Santoro afirmou inspeções de serviços contratados junto a terceirizadas são parte da rotina da Racional, e garantiu que a partir do episódio o trabalho será reforçado. “Isso é, no mínimo, subestimar a nossa inteligência imaginar que alguém que mantenha trabalhadores em condição de escravidão, vá avisar para que a fiscalização chegue. Isso é responsabilidade de quem contrata”, criticou o parlamentar. O presidente da Comissão, deputado Adriano Diogo (PT), também saiu insatisfeito da reunião. “Sua oitiva foi absolutamente inconsistente. Nenhuma explicação me convenceu”, criticou. 

O líder tucano defendeu a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o trabalho escravo no estado. E lembrou ter apresentado à Casa projeto de lei que pune empresas com flagrantes de trabalho escravo em sua cadeia produtiva. “Esse projeto cassa o registro no ICMS das empresas que forem encontradas com utilização do trabalho escravo. Em um caso como esse, a Racional teria bastante problema”, disse.