Debate enfatiza participação política e estratégias de comunicação

CUT apresentará neste sábado as suas propostas para as eleições. 'Não queremos o retrocesso', diz presidente

São Paulo – As perspectivas dos trabalhadores na América Latina, tema de debate promovido pela CUT na tarde desta sexta-feira (30), concentrou a discussões sobre as relações de poder e dos meios de comunicação. O ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, falou sobre as origens da sociedade latino-americana e enfatizou a importância da participação política dos trabalhadores.

 

“As perspectivas dos trabalhadores na América Latina dependem de seu esforço político para conquistar e manter o poder na mão das maioria dos seus povos”, afirmou, lembrando que “o processo de construção das sociedades latino-americanas foi caracterizado pela escravidão e pela servidão, ou seja, pela opressão”. E essa mentalidade, acrescentou, “ainda está presente nas classes dominantes”.

Na história da região, prosseguiu, os colonizadores (portugueses no Brasil e espanhóis na maioria dos países) foram substituídos por elites locais, mas o sistema de dominação não se alterou. Com o início do processo de industrialização, surgem novas classes de trabalhadores, até então dominados por atividades agrícolas e de mineração.

“Sempre que as classes dominantes sentiram que poderiam perder o controle, apelaram para situações de força”, observou o embaixador, para quem o Brasil vive hoje uma situação sem precedentes, governado pela primeira vez por um trabalhador. “Alguém que vivenciou o trabalho, não que olhou de cima e viu ali um belo assunto para uma tese acadêmica”.

Para o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, o movimento sindical precisa ampliar a sua estratégia de comunicação. “Enquanto eles (direita) nos combatem com a velocidade da luz, nós rebatemos com mimeógrafo. A tropa de choque do tucanato tem aumentado. O tucanato está encastelado na imprensa”, afirmou, destacando iniciativas como a Rede Brasil Atual (internet, rádio e jornal), além da Revista do Brasil.

Já o secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadores das Américas (CSA), Victor Báez, disse que a chamada grande imprensa é “dona da verdade” não apenas no Brasil e, assim, “reflete uma opinião que não é a nossa”. Ele defendeu uma ampla campanha pela liberdade de informação, mas lembrou que já existe uma aliança de rádios comunitárias em vários países, com público potencial de 50 milhões de pessoas.

“Os meios de comunicação não são entidades beneficientes”, observou o embaixador Pinheiro Guimarães. “Tendem a refletir os interesses dos segmentos empresariais, que não é certamente a visão de mundo da maioria da população. É de extrema importância dispor de meios de comunicação para que a visão das classes trabalhadoras chega até elas.”

O presidente nacional da CUT, Artur Henrique da Silva Santos, afirmou que os sindicatos precisam atuar em várias frentes, como rádio, TV, jornal e internet, e deixar questões internas em segundo plano.

Neste sábado (1º), Dia do Trabalhador, a CUT vai lançar a sua plataforma para as eleições. “Não queremos o retrocesso, não queremos a volta das políticas neoliberais. Queremos avançar no processo de mudanças que começou no governo Lula”, afirmou. O documento inclui mais de 200 propostas, com algumas diretrizes básicas, como valorização do trabalho, inclusão social, distribuição de renda e democratização do Estado. “Preservamos muito a independência e a autonomia, mas não podemos cometer o erro de ficar omissos na disputa de projetos”, lembrou Artur Henrique. “Sabemos que há dois projetos em disputa na sociedade brasileira.”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, participam amanhã, por volta de 16h30, do 1º de Maio da CUT, no Memorial da América Latina. As atividades previstas para o Dia do Trabalhador incluem ainda um ato inter-religioso, feira gastrônomica, lançamento de livros e shows, o primeiro a partir das 12h: o pianista João Carlos Martins com o Quinteto Bachiana e o tenor Jean William, o músico cubano Fernando Ferrer, o cantor Milton Nascimento – com uma homenagem à cantora argentina Mercedes Sosa, que morreu no ano passado – e o músico Carlinhos Brown.