Mobilização

Conferência Nacional dos Bancários vai discutir desafios da pandemia e campanha salarial

Custos do teletrabalho, demissões e fortalecimento dos bancos públicos estarão entre os temas do encontro. Seiscentos delegados também vão aprovar a pauta

Reprodução/Contraf-CUT
Reprodução/Contraf-CUT
Pela primeira vez, conferência dos bancários será realizada virtualmente

São Paulo – Seiscentos representantes dos trabalhadores do sistema financeiro se reunirão para a 22ª Conferência Nacional dos Bancários, que será realizada nesta sexta e no sábado (17 e 18). Pela primeira vez, o evento será virtual. Com transmissão ao vivo pelo Facebook e pelo Youtube da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), a partir das 18h, a abertura terá a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).

A conferência dá o pontapé inicial da campanha salarial da categoria, que tem data-base em 1º de setembro. De acordo com a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, a pandemia deve dar o tom das discussões.

Segundo os bancários, o teletrabalho (home office) tem sido um esquema vantajoso para as instituições financeiras, por conta da redução de custos. Ainda assim, tentam repassar os custos para os trabalhadores. Dos aproximadamente 450 mil bancários no setor, dois terços vêm trabalhando remotamente.

Pressão e demissões

O Banco do Brasil, por exemplo, anunciou que a economia deve chegar a R$ 180 milhões por ano, mantendo seus funcionários em casa. Por outro lado, o presidente do Santander no Brasil, Sergio Rial, chegou a anunciar que os bancários teriam que abrir mão de parte de salários ou dos direitos para permanecer no teletrabalho.

Além disso, os trabalhadores sofrem com a falta de condições para o trabalho em casa. Um dos principais problemas é a falta de mobiliário adequado. Sem a ergonomia devida, eles têm relatado problemas físicos. O excesso de trabalho e a pressão por metas também têm causado danos psíquicos. Daí a necessidade de regulamentar as relações no teletrabalho. Durante a campanha, os sindicalistas – que preparam uma pesquisa sobre o tema – pretendem negociar uma cláusula específica para inclusão na convenção coletiva.

“Tem gente que está trabalhando muito mais, com o trabalho muito mais intenso. Sem os móveis adequados, não tem ergonomia. Quem vai pagar o custo da internet? Não pode ser o bancário. Tem que ser o banco. A pessoa trabalha para o setor mais lucrativo do país. Ter que pagar a para poder trabalhar não tem cabimento”, afirmou Juvandia, em entrevista a Glauco Faria no Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (16).

Crédito e privatização

Outra questão é que, apesar do compromisso firmado com a categoria ainda no início da pandemia, algumas instituições, como o Santander, tem feito demissões. “É uma coisa vexatória e absurda para um banco tão lucrativo”, diz a presidenta da Contraf-CUT. Ela observa que na Espanha, país sede da instituição, o Santander não cortou mão de obra.

“Já são cerca de 600 trabalhadores demitidos na pandemia”, destaca Juvandia. “Pessoas que saíram das suas casas e arriscaram suas vidas para trabalhar nas agências, ou que estão em casa trabalhando, sacrificando o contato com as famílias, nesse momento tão difícil e tão delicado.”

A dirigente também destacou que os bancos privados não têm cumprido com a sua principal função durante a pandemia. No total, as instituições financeiras receberam aporte de R$ 1,2 trilhão do governo, mas, ainda assim, relutam em liberar empréstimos. A maioria esmagadora das linhas de crédito ofertadas às micro e pequenas empresas têm vindo da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil.

Contudo, mesmo diante do papel desempenhado pelos bancos públicos, eles continuam sendo alvo de governo Bolsonaro, que pretende privatizar ativos dessas instituições. Em vez de serem esvaziados, BB e Caixa deveriam ser fortalecidos, segundo Juvandia, pois, novamente, terão papel fundamental para promover a retomada da economia, no pós-pandemia.

Aprovação da pauta

O congresso vai aprovar a pauta de reivindicações da categoria, discutida previamente nos encontros estaduais e regionais. A minuta será encaminhada à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). Todos os debates ocorrerão por meio de videoconferência. A 22ª Conferência reúne trabalhadores de 138 sindicatos, representando 95% da categoria. O encerramento está previsto para as 18h do sábado.

Na abertura, além de Lula e Dino, vão participar a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Ivone Silva, outra integrante do Comando Nacional, e o presidente da CUT, Sérgio Nobre. Também estará presente o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos. Fazem parte ainda da mesa o presidente da CTB, Adilson Araújo, e o secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio. Ambos pertencem à categoria bancária.

No sábado pela manhã, a partir das 9h, haverá um debate sobre a economia brasileira e o cenário pós-pandemia. A palestra será dada pela professora Esther Dweck, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ainda estão previstas palestras sobre reforma tributária e sistema financeiro.

Assista à entrevista:

Redação: Tiago Pereira e Vitor Nuzzi