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Ferroviários e CPTM não fecham acordo, e trabalhadores podem entrar em greve

Mesmo com sindicalistas indicando aceitar reajuste de 8,5%, a companhia não concordou com proposta do mediador da negociação de hoje (1º) no TRT

CPTM

Categorias operam as linhas 7 Rubi, 8 Diamante, 9 Esmeralda, 10 Turquesa, 11 Coral e 12 Safira da CPTM

São Paulo – Após quatro horas de negociação, os ferroviários e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) não chegaram a um acordo sobre o reajuste salarial e dos benefícios. Foram quatro propostas diferentes até chegar ao índice de 8,5%, que a categoria indicou aceitar. No entanto, após consultar a diretoria da empresa, os representantes da CPTM disseram que as propostas finais da companhia eram 8,25% – inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC)da Fipe mais 1,5% de ganho real– para salário e benefícios ou 7,72% de reajuste e 10% em todos os benefícios.

“É muita intransigência. Estamos com a proposta na mesa há 90 dias. Já retiramos vários itens da pauta. Nos comprometemos a levar para assembleia os 8,5% linear. Menos que isso eu não posso garantir. Não há como defender isso com os trabalhadores”, afirmou Eluís Alves de Matos, presidente do Sindicato dos Ferroviários de São Paulo – um dos quatro que representam a categoria – indicando manter a indicação de paralisação para amanhã (3).

Com isso, diferente do que ocorreu ontem (1º) com os metroviários, os ferroviários podem confirmar a decisão de greve. As assembleias vão ocorrer hoje, a partir das 18h. Como são quatro sindicatos – Ferroviários de São Paulo, da Zona Sorocabana, da Central do Brasil e Engenheiros – as reuniões são em locais diferentes.

Porém os trabalhadores terão de resolver um impasse: Se aprovarem a greve, provavelmente, não haverá mais negociações no TRT. O caso será levado a julgamento de dissídio. Se não fizerem, terão de esperar mais dez dias pela próxima reunião, que pode não trazer avanços. Na semana passada, a empresa havia melhorado a proposta inicial de reajuste  6,65% para 7,72%, também aplicável a todos os benefícios.

Hoje o desembargador Wilson Fernandes, que faz a mediação das negociações, propôs 8,5%, aplicável a todos os itens, o que elevaria o vale-refeição de R$ 600 para R$ 651. O vale-alimentação chegaria a R$ 268, ante os atuais R$ 247. E a participação nos resultados passaria ter valor mínimo de R$ 3.849, com o reajuste de 8,5% aplicado também às parcelas fixa e variável.

Porém, a empresa manteve o índice de 8,25% para salário e benefícios; ou, como opção, 7,72% aos salários e 10% em todos os benefícios, sob alegação de que a situação financeira da empresa e o momento econômico do país estão difíceis.

O desembargador propôs ainda uma fórmula de reajuste de 7,72% no salário, 13,5% no vale-alimentação e 12% no vale-refeição. E os trabalhadores chegaram a pedir 9,29%, equivalente à inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE, mais 1,5% e equiparação dos benefícios com os valores pagos ao Metrô. Nenhuma delas foi aceita.

Os trabalhadores consideram o índice de 8,5% a todos os itens defensável. “Temos de considerar que esse valor vai ser aplicado sobre a aposentadoria e o FGTS. E também sobre horas extras, adicionais noturno e de insalubridade”, avaliou Eluís.

O magistrado, então, manteve a proposta de 8,5% e pediu aos negociadores da CPTM que continuem tentando discutir com a diretoria. Os trabalhadores disseram que podem ser acionados por telefone até a hora das assembleias. Apesar da iminência de declaração de greve, o desembargador marcou uma nova audiência de negociação para o dia 11. Fernandes pediu que os trabalhadores evitem a deflagração da greve.

“A CPTM está sendo intransigente. O percentual que falta equivale a cerca de 80% de um dia de arrecadação. Vai sair mais caro enfrentar a greve. Inclusive, fazendo as contas, é claro que o custo seria muito mais político do que financeiro”, afirmou Fernandes, ao final de reunião.

Fernandes cobrou a CPTM, ainda durante a reunião. “É preciso melhorar essa proposta. Se não pode mudar nada, não precisa instalar mesa de negociação”, afirmou, em resposta às contínuas argumentações dos representantes da empresa, de que não podiam aceitar mudanças pois as condições já haviam sido definidas pela empresa.

Além dessa divergência, os sindicalistas rechaçaram a proposta da CPTM de condicionar o pagamento de Participação nos Resultados (PR) ao cumprimento de metas, consideradas “inatingíveis” pelos trabalhadores. A proposta é semelhante a apresentada ontem pelo Metrô aos metroviários.

O pagamento mínimo do benefício já está atrelado a duas metas: assiduidade do trabalhador e número de passageiros transportados. No entanto, as parcelas fixa e variável teriam outras metas, que foram discutidas apenas no conselho administrativo da empresa. E que os trabalhadores não aceitam. A entrega da estação Poá e do pátio Varginha, e a instalação de cabines seccionadoras nas estações Grajaú e Pinheiros eram algumas delas.

“Essas metas não têm como ser atingidas. Não tem nem orçamento para essa obra ainda. São coisas inatingíveis e que não dependem dos trabalhadores”, afirmou o presidente do Sindicato dos Engenheiros, Feres Mohamad Amin. “Por que colocar metas que são inatingíveis? Aceitamos metas que tenham desafio, que a gente pode correr atrás e conseguir”, completou Almeida.

O desembargador Fernandes concordou com os trabalhadores e propôs que as metas sejam debatidas no núcleo de negociação do tribunal.