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Acidente em obra da Arena Corinthians provoca duas mortes

Clube e Odebrecht pedem que se aguarde perícia para saber motivo de queda de guindaste que destruiu parte da estrutura do estádio, que tinha previsão de inauguração para janeiro. Trabalhos serão interrompidos por três dias

William Volcov/Brazil Photo Press/Folhapress

Última peça da cobertura que estava sendo instalada no Itaquerão desabou de um guindaste por volta das 12h30

São Paulo – Um acidente por volta das 12h30 de hoje (27) nas obras do novo estádio do Corinthians, conhecido como Itaquerão, na zona leste de São Paulo, provocou a morte de Fábio Luiz Pereira, de 42 anos, motorista/operador de Munck da empresa BHM, e Ronaldo Oliveira dos Santos, de 44, montador da empresa Conecta. O local será palco da abertura da Copa do Mundo, em junho de 2014.

A presidenta Dilma Rousseff disse lamentar “profundamente” as mortes dos operários. “Nesse momento de dor, envio minhas condolências às famílias de Fábio e Ronaldo”, disse por meio de sua conta no Twitter. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, também lamentou. Por meio de nota à imprensa, ele disse que “todo o governo federal manifesta o mais profundo pesar”.

Segundo a Odebrecht Infraestrutura, responsável pela obra, o guindaste, que içava o último módulo da estrutura da cobertura metálica do estádio, tombou provocando a queda da peça sobre parte da área de circulação do prédio leste – atingindo parcialmente a fachada em LED. No momento, 30 funcionários estavam no local.

Em nota, a empresa afirma que a estrutura da arquibancada não foi comprometida. “Era a 38ª vez que esse tipo de procedimento realizava-se na obra e uma peça de igual proporção foi instalada há pouco mais de uma semana no setor Sul do estádio”, diz a nota. 94% das obras estavam concluídas. Os trabalhos serão interrompidos por três dias, segundo a Odebrecht, e 30% da ala leste ficará interditado por mais tempo para os trabalhos de perícia – 5% do total, segundo a Defesa Civil.

O Ministério Público do Trabalho em São Paulo informou, em nota, que vem acompanhando, em conjunto com o Ministério do Trabalho e Emprego, as etapas da obra, desde seu início. “As últimas inspeções técnicas realizadas pelo Setor Pericial do órgão não constataram a existência de irregularidades cuja gravidade pudessem comprometer a segurança e saúde dos trabalhadores.”

A nota diz ainda que nesta quinta-feira (28), fará, junto com o MTE, nova inspeção técnica no local para investigar as causas do acidente e que após a apuração dos fatos, tomará as providências no âmbito administrativo e/ou judicial.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Pesada de São Paulo, Antonio Bekeredjian, vai solicitar que a obra fique embargada pelos próximos 30 dias. A entidade já comunicou o acidente ao Ministério do Trabalho e Emprego. O dirigente disse que a obra não tinha irregularidades e que se trata de uma fatalidade.

Ele lembrou que é o terceiro acidente em pouco mais de um ano com guindastes – o primeiro, na obra da estação Eucaliptos da linha 5-Lilás do Metrô (em junho de 2012), com duas vítimas fatais, e outro no Aeroporto de Viracopos (em 24 de outubro passado), que também resultou na morte de um trabalhador.

O Ministério Público Estadual informou que irá aguardar laudo da Polícia Científica para decidir se irá pedir a suspensão das obras. “Somente se os elementos técnicos indicarem a necessidade da suspensão das obras é que a promotoria adotará providências para que a construção seja paralisada, até que sejam eliminados quaisquer riscos para o seu prosseguimento”, diz comunicado do MP. O laudo será requisitado a partir de um inquérito, que já estava em andamento, que apura as condições de segurança no canteiro e os impactos das obras no entorno do estádio.

Estava agendada, inclusive, uma reunião com o advogado do Corinthians para discutir irregularidades no projeto de combate à incêndio do estádio. O relatório do Corpo de Bombeiros aponta 50 inconformidades, como falta de escadas protegidas, detectores de fogo e número de hidrantes inferior ao necessário.

A Defesa Civil informou que o trabalho de perícia iniciado hoje será concluído amanhã. A princípio, acredita-se tratar de um erro de procedimento na manobra do guindaste, já que não havia afundamento do solo, o que poderia indicar um equívoco na distribuição do peso transportado. A análise preliminar indica ainda que o restante da estrutura do estádio não chegou a ser afetado.

A assessoria do Sport Club Corinthians Paulista divulgou comunicado às 13h40 no qual disse “lamentar profundamente o acidente ocorrido há pouco na Arena Corinthians”, sem informar mais detalhes do ocorrido. “Apesar de todos os cuidados, fatalidades existem”, disse o ex-presidente do clube, Andrés Sanchez.

A Federação Internacional de Futebol (Fifa) e o Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 também lamentaram a morte dos dois trabalhadores. Em nota, as duas entidades disseram que, assim como o governo federal, consideram a segurança dos trabalhadores “alta prioridade”. “A segurança de todos os trabalhadores tem sido sempre de suma importância para todas as companhias encarregadas da construção dos 12 estádios da Copa”, diz o comunicado. As entidades concluem a nota dizendo que aguardam as investigações das autoridades locais para que sejam apuradas as causas do acidente.

A Odebrecht é responsável também pelos estádios Arena Fonte Nova, em Salvador, Arena Pernambuco, no Recife, e pelo Maracanã, no Rio de Janeiro.

Em nota, o prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), lamentou o acidente. Ele está em Paris com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa para que a cidade seja cidade da Expo 2020, e contou ter telefonado para a prefeita em exercício, Nádia Campeão, para saber sobre o caso. Acompanhei com muita consternação, sobretudo em função das vítimas. É muito lamentável que o esforço desses operários ao longo de tanto tempo tenha, nos últimos dias de obra, resultado em vítimas. Em qualquer circunstância seria desagradável, mas foi muito notável o esforço dos operários e toda celebração em torno da obra”, comentou.