Cesariana é procedimento comum em 98% dos hospitais particulares do país

Enquanto o muitas vezes desnecessário parto cirúrgico e todos os seus riscos viram regra, hospitais utilizam técnicas obstétricas condenadas em países mais desenvolvidos

São Paulo – Dados preliminares de uma pesquisa inédita que está sendo conduzida no Departamento de Epidemiologia da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz) revelam que em muitos hospitais do país, a maioria do setor privado, a cesariana responde por 98% dos partos realizados. “A prática, desnecessária na ampla maioria dos casos, é condenada pelas autoridades de saúde dos países mais desenvolvidos”, afirmou a médica e pesquisadora Maria do Carmo Leal.

Na manhã desta quarta-feira (29), ela participou do seminário “A Saúde dos Brasileiros”, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Em sua palestra, Maria do Carmo apresentou um panorama da situação da saúde materno-infantil, tema que compõe um volume sobre o setor no Brasil publicado na edição de maio da revista britânica The Lancet.

O capítulo em questão, do qual Maria do Carmo é co-autora, informa que dos 3 milhões de nascimentos registrados no Brasil em 2007, quase metade foi por cesariana. E desses partos, 35% foram feitos pelo SUS.

O limite máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 15%. O índice de ocorrências desse tipo no Brasil é superior aos registrados em qualquer outro país do mundo. Quase metade de todas as cesarianas foi agendada com antecedência, segundo informaram mães entrevistadas na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, de 2006.

Segundo a pesquisadora, também são comuns no Brasil outras práticas condenadas, como o uso do hormônio ocitocina para acelerar o trabalho de parto. “A substância causa dores intensas na mulher, que deveria ter tranquilidade para viver este momento, que é o mais importante de sua vida”, afirma. “Em vez disso, a mulher deveria receber massagens, ficar numa banheira com água morna e relaxante ou simplesmente poder caminhar para aliviar as dores”.

Maria do Carmo Leal disse ainda que a episiotomia (corte feito entre a vagina e o ânus para aumentar o canal de parto) também está condenada. Estudos recentes demonstram que a mulher se recupera mais facilmente de uma possível laceração muscular devido à pressão da cabeça do bebê do que do corte no músculo pélvico com bisturi. A intervenção, porém, continua sendo praticada com frequência em hospitais brasileiros.