Inovação pode ser única saída para crescimento da indústria, diz ministério

Incentivo a pesquisas ainda é escasso nas empresas brasileiras e pode estar na raíz da perda de competitividade (Foto: CC/Flickr/GA) Brasília – O analista do Ministério da Ciência e Tecnologia […]

Incentivo a pesquisas ainda é escasso nas empresas brasileiras e pode estar na raíz da perda de competitividade (Foto: CC/Flickr/GA)

Brasília – O analista do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação José Henrique Barreiro disse nesta quarta-feira, no segundo dia do seminário “Desafios da Indústria Brasileira Frente à Competitividade Internacional”, que os problemas da indústria brasileira podem não estar nas empresas, mas na cultura empresarial brasileira.

Ele citou estudo segundo o qual 46% das empresas de médio porte investem nada ou quase nada em soluções inovadoras. Num universo de 150 empresas com faturamento entre R$16 milhões e R$ 90 milhões, 80% não usam recursos para inovação e desconhecem programas para esse fim.

Além de recursos do governo federal, aplicados pela Finep, e de recursos estaduais aplicados por fundações de amparo à pesquisa, há linhas de crédito do BNDES específicas para quem queira aplicar novas tecnologias em suas empresas.

Mas esses recursos não chegam aos empresários, que não têm como costume a procura por soluções inovadoras, geralmente ligadas à contratação de pesquisadores e jovens recém-formados em centros de pesquisa.

Segundo dados do ministério, o Brasil tem hoje 384 incubadoras de empresas de base tecnológica em 25 estados. Até hoje, 5,1 mil empresas foram criadas, e 45,5 mil empregos foram gerados, com um faturamento anual de R$ 1,5 bilhão. Esse modelo gira em torno das universidades brasileiras e gera patentes e empresas a partir da pesquisa feita no Brasil.

Estagnação

Para o economista Júlio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a indústria brasileira precisa se preparar para enfrentar a concorrência exterior. 

Para ele, a crise internacional vai fazer com que empresas no exterior busquem o mercado brasileiro. ele disse também que as industrias brasileiras não crescem há quatro anos, a indústria reduziu sua participação no PIB em 5%, e ao mesmo tempo o mercado interno consumidor cresceu 35%.

“Há 25 anos, nosso agronegócio não era essa beleza toda, não pagava suas dívidas, tinha práticas atrasadas, e hoje tem competitividade. Precisamos encontrar esse caminho para a indústria”, disse.

Para o diretor de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura do Ipea, Carlos Eduardo da Silveira, a evolução dos PIBs tem seguido um modelo em que os países desenvolvidos ainda concentram setores tecnológicos, enquanto os países em desenvolvimento concentram setores dependentes de trabalho e recursos naturais. “A inovação é a única maneira de reverter isso, formando empresas que podem atacar mercados internacionais com produtos que aplicam conhecimento”, disse.

Rever a Lei Kandir

O deputado João Maia disse que é preciso, por exemplo, rever a Lei Kandir. Segundo ele, a lei foi pensada num momento em que o Brasil estava desesperado pela entrada de dólares, o que justificava diminuir todo e qualquer imposto de exportação.

Ele questiona o incentivo à exportação de minério de ferro, uma vez que isso torna o produto feito no exterior mais atrativo que o processado no Brasil. “Se eu vendo minério de ferro para fora, não pago imposto, mas se vendo aqui dentro para processar minério de ferro, ele é taxado. A mesma coisa vale para quem quer fazer soja processada ”, explicou.

Apesar de acreditarem que problemas como o câmbio e a taxa de juros possam afetar a indústria, os participantes do seminário defenderam que o crescimento sustentável da indústria não virá dessas medidas nem da redução impostos por setores. “Há setores que precisam de uma proteção pontual, e é bom que o governo esteja atento a isso, mas é preciso pensar o que vai aumentar a competitividade da nossa indústria”, concluiu Carlos da Silveira.

O seminário é uma iniciativa de quatro comissões da Câmara: de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; de Trabalho, Administração e Serviço Público; de Finanças e Tributação; e de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.