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Como chope

Em loja no centro de São Paulo não é preciso comprar a garrafa para provar um bom vinho

Charmoso terraço no centro de São Paulo vai se firmando como um dos lugares preferidos dos amantes do vinho. Loja tem boas dicas para o Dia dos Pais

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Prosa e Vinho, no centro da capital paulista: proposta é que as pessoas tenham a experiência de tomar uma taça de um vinho em um dia e poder mudar de opção no outro

São Paulo – Foi por acaso que a ex-atleta Daniela Peres começou a gostar de vinho. Mas quando trocou a squeeze de Whey Protein (suplemento usado por atletas) pelo vinho, foi tão arrebatada pela paixão que começou a estudar a bebida a fundo. No curso de sommelierie da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS), uma das mais prestigiosas do país, começou a fundar os pilares do projeto que se transformaria em uma das lojas e bares de vinho da cidade de São Paulo, a Prosa e Vinho, localizada no terceiro piso da Galeria Metrópoles, no centro.

A loja foi fundada meses antes de ela iniciar o curso de Viticultura e Enologia, no Instituto Federal de São Roque, interior de São Paulo. Ao lado do sócio, Rubens Lastri, esmera-se em montar uma carta que privilegie vinhos brasileiros, mas também de países pouco acessíveis, como Líbano, Ucrânia, Moldávia e Romênia.

Mas não só. O grande barato da loja, é poder tomar o vinho na taça. “Sempre quis ter um local para desmistificar o vinho, tirar o glamour. Isso, porque sempre pensei assim: ‘pô, se posso comprar um chope, na época a R$ 8, porque não posso tomar uma taça a R$ 8?'”, diz.

Na loja, é possível também comprar uma garrafa e levar para casa ou abrir ali mesmo. E, se não conseguir dar conta de tudo, levá-la para casa. Inclusive, fica a dica de presente para o Dia dos Pais, neste domingo (8).

Confira abaixo trechos da entrevista:

Você tem um histórico de atleta, ou seja, uma formação completamente diferente. Antes de falarmos da Prosa e Vinho, gostaria de saber um pouco da sua história.

Eu brinco com os meus amigos que saí literalmente da água para o vinho ou, literalmente, do Whey Protein para o vinho (risos). Lá atrás, fui atleta, ciclista profissional (de speed), federada, fui campeã paulista, quinta melhor ciclista do Brasil. Também participei de seletiva de panamericanos, de Olimpíadas – eu tinha mais ou menos uns 15 anos. Nos estudos, não tive dúvidas e decidi cursar educação física. Fiz a faculdade, vim para São Paulo trabalhar em uma academia e há 12 anos estou aqui.

Onde entra o vinho nessa história?

Comecei a trabalhar nessa academia, sempre gostei de beber uma coisinha, ter essa vida social. No interior bebia vinho suave (risos). Minha entrada nesse mundo foi com vinho suave, feito numa cidade próxima a Itapira, de onde sou.

Vim para cá, conheci as pessoas, comecei a trabalhar como personal trainer, a sair e ter contato com o vinho seco. Fiquei encantada e quis entender um pouco mais. Fui fazer o primeiro curso no Senac, um curso básico. O pai do meu marido era um enófilo (autodidata) apaixonado pelo vinho, e foi um casamento com o filho e com o pai (risos).

Fui procurar, então, algo um pouco mais a fundo e conheci a ABS. Me formei como sommelière (o feminino de sommelier) profissional e entrei para o WSET (Wine & Spirit Education Trust), no nível 2 direto. Foi aí que falei que queria trabalhar com isso.

No curso da ABS você conheceu o Rubens, seu sócio, não foi?

Sim. Mas eu falava com ele e com outras pessoas assim: “vamos tentar montar algo para trabalharmos com isso?”. Mas não vinha nada. Quando estávamos no finalzinho, terminando, fizemos um grupo de pessoas para ver se conseguíamos ter criatividade para ver o que poderíamos fazer juntos, pois, até então, não sabíamos o que queríamos.

Éramos um grupo de seis pessoas, tínhamos reuniões a cada duas, três semanas, levávamos ideias… Mas, no decorrer do tempo, as pessoas foram saindo. Depois de um ano ficamos somente nós dois.

Eu tinha a ideia de querer levar o vinho para as pessoas, de querer tirar o glamour do vinho, tirá-lo do pedestal e colocá-lo na mesa, mostrando às pessoas que ele é simples. Algumas pessoas têm medo de entrar numa loja de vinho porque têm medo de como os outros vão olhar para ela, têm medo de ser julgadas por não entenderem.

Você disse que a loja nasceu de um desejo de que as pessoas pudessem tomar vinho como quem toma chope.

Isso, porque sempre pensei assim: “pô, se posso comprar um chope, na época a R$ 8, porque não posso tomar uma taça a R$ 8?”. E pode! É que muitos lugares não querem. Mas dá. Nosso propósito sempre foi guiar as pessoas nessa experiência da taça, tomando uma taça em um dia e outra no outro dia. Sempre falo que aqui as pessoas têm que se sentir em casa.

Deu certo a sua ideia de vender vinho na taça?

Acho que deu supercerto! Tanto que estamos aqui desde 2017, enfrentando uma pandemia – contando que ampliamos o negócio. As pessoas gostam porque sabem que é um lugar acolhedor e que toda semana trocamos a carta (de vinhos).

Lógico que a carta de taças é bem menor porque não conseguiria armazenar todas essas garrafas abertas, até porque foi uma opção não ter máquinas para não sofisticar o lugar.

O que percebi desde que abri foi o seguinte: claro que quando você abre um negócio não pode ficar engessado, ele vai se moldando. A Prosa foi tomando um rumo em que as pessoas queriam sentar e tomar a garrafa também – não somente a tacinha. Então, aqui acabou virando um bar de vinho.

Como surgiu a ideia de servir empanadas?

No começo, a gente não tinha nada para comer – era só a experiência do vinho. Eu nunca tive o objetivo de ter uma cozinha, por ser mais complicado. Mas realmente precisava de algo para acompanhar. O Rubens, meu sócio, falou então – “Dani (ele morou na Argentina), acho empanada tão bom!”.

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Os proprietários Rubens e Daniela: inspiração para vender vinho em taças como chope

Ele conhece um argentino (de Mendoza) que faz empanada só para estabelecimentos. Falei que queria provar e fiquei encantada, é de uma qualidade muito boa. Depois surgiram também os snacks, a parceria que fizemos com um restaurante aqui na galeria…

O que você percebe de mudança no comportamento do consumidor de vinho desde que você abriu a loja?

Aqui o público é diverso. Tem gente que entende e já pede o vinho que quer. Mas é a minoria. A maioria é formada de pessoas que tomam vinho, gostam e sabem falar do que gostam e não gostam, mas não necessariamente entendem de vinho. São pessoas muito abertas, que aceitam e pedem a nossa indicação. Tenho a sorte de estar no centro de São Paulo, onde as pessoas são abertas, não têm vergonha de falar se estão com pouca grana.

A loja tenta valorizar o vinho brasileiro. Os clientes são receptivos?

Se você pegar aqui nossos rótulos, o que temos em mais quantidade é do Brasil, apesar de termos mais de 300 rótulos do mundo todo, de lugares exóticos. Tentamos valorizar isso e mostrar o quanto o nosso vinho é bom, embora tenha tido uma fama muito ruim por muito tempo.

Mas isso vem mudando. O vinho brasileiro tem ganhado qualidade e melhora cada vez mais, pois há mais profissionais estudando, pesquisando e, aqui, nossos clientes são abertos a provar esses bons vinhos.

Que tipo de vinho sai mais?

Não há preferência, mas nós sugerimos quando a pessoa está na dúvida. Agora, espumante eu digo que 95% das vezes nós indicamos o brasileiro. Com os vinhos rosés tive uma grata surpresa com o crescimento da vontade do consumidor em tomar esses vinhos, o que é legal porque nosso clima é muito propício para os rosés, porque é fresco, tem acidez gostosa, a cor é linda!

Como tem sido a sobrevivência do negócio na pandemia?

Uma semana antes de decretar quarentena em São Paulo, eu tinha quebrado a loja ao lado que eu tinha alugado (para ampliar o espaço). Passou uma semana, tivemos que fechar. Ficamos de março até final de agosto fechados. Continuamos pagando aluguel e condomínio, mais os funcionários.

Tive que me adequar ao momento. Mas as pessoas que estavam em casa queriam tomar vinho, porque gostam e porque precisavam (risos). Então nós colocamos delivery, o que não tínhamos. Começamos com o iFood, mas não quisemos a entrega com o motoboy deles, até por não concordamos com as políticas trabalhistas desses aplicativos.

Quem fazia a entrega éramos eu e o Rubens – deixamos os funcionários em casa. Delimitamos uma zona da cidade para podermos dar conta. Fazíamos propaganda no nosso Instagram e íamos estabelecendo uma relação com os clientes pelo WhatsApp. Foi isso o que nos segurou na pandemia.

O que você está percebendo de tendência?

No meio da pandemia, deu um boom na venda de vinho bag in box. Antes, as pessoas torciam o nariz para esse vinho, pois em algum momento da história ele tinha uma reputação ruim. Mas as pessoas perceberam que o vinho em caixa pode ser bom também. Mas não acho que seja tendência. Quando as pessoas voltarem a sair, creio que vão voltar a tomar vinho de garrafa. O vinho em lata em acho que pode vir a ser uma tendência, especialmente no verão, no carnaval, na praia, porque não é todo mundo que gosta de cerveja. Agora, um tipo de vinho que as pessoas têm buscado mais são aqueles de menor teor alcoólico. Um tempo atrás, o brasileiro gostava de vinhos mais porrada, com muito álcool e madeira, mas agora isso está mudando.

Como é ser mulher no mercado de vinho e como é ser empreendedora em uma país governado por Jair Bolsonaro?

É difícil. Primeiro, o mundo do vinho é machista. Melhorou muito, mas ainda é, tanto na parte de enologia quanto na de sommelierie. As pessoas, às vezes, não confiam na mulher indicando vinho. Se houver um homem e uma mulher, elas vão no homem – e isso vem de mulher e de homem, inclusive aqui.

Tive que me impor muitas vezes. Tenho funcionárias e dou muita liberdade a elas. Sempre digo: ‘apoio vocês!’. O machismo aqui não tem vez. Se precisar expulsar, eu expulso. Quanto à era Bolsonaro, é o que ferrou tudo, porque vínhamos em uma melhora na questão do machismo, do espaço da mulher. Aí vem um desgoverno para querer falar que não, que tem que voltar para a cozinha, ser recatada e do lar… Enfim, tudo que estávamos conseguindo melhorar, esse imbecil entrou e começamos a regredir.

Serviço:

Prosa e Vinho – Galeria Metrópole – Avenida São Luís, 187, piso 3, loja 1, Centro, São Paulo.
Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 12h às 22h, e sábado, das 11h às 18h.
Website: prosavinho.com.br
Instagram: @prosaevinho

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Adriana Cardoso é jornalista com mais de 20 anos de estrada, além de enóloga formada pelo Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia de São Paulo, campus São Roque. Fez estágio na Villa Francioni, vinícola localizada na região conhecida como Vinhos de Altitude, na Serra Catarinense, e hoje aventura-se a escrever e falar sobre vinhos, além de dar consultoria em comunicação para vinícolas e outros negócios do vinho.