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OMS e Unicef soam ‘alerta vermelho’ para queda da vacinação infantil

Pandemia contribuiu para “retrocesso histórico” na cobertura vacinal em crianças, levando a “surtos evitáveis de sarampo e poliomielite” nos últimos 12 meses

Reprodução/Unicef
Reprodução/Unicef
"O que estamos vendo agora é um declínio contínuo. A covid-19 não é mais desculpa", disse diretora da Unicef

São Paulo – Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado ontem (14), revela que a pandemia de covid-19 contribuiu para a maior queda na vacinação infantil dos últimos 29 anos, em todo o mundo. O documento das agências da ONU baseia-se em dados de 177 países. O total de crianças que recebeu três doses da vacina tríplice contra difteria, tétano e coqueluche (DPT3), por exemplo, caiu cinco pontos percentuais, para 81%, entre 2019 e 2021. O imunizante é considerado como referência para avaliar a cobertura vacinal dos países.

Como resultado, 25 milhões de crianças perderam uma ou mais doses da vacina tríplice somente no ano passado. São 2 milhões a mais de crianças desprotegidas na comparação com o ano anterior. E 6 milhões a mais em relação a 2019. Assim, o relatório destaca para o número crescente de crianças expostas ao risco de doenças devastadoras, mas evitáveis.

OMS e Unicef esperavam que 2021 fosse um ano de recuperação da cobertura da vacinação infantil, já que os sistemas de saúde ficaram sobrecarregados durante a eclosão da pandemia, em 2020. Em vez disso, a cobertura da vacina DPT3 voltou ao seu nível mais baixo desde 2008, juntamente com o declínio na cobertura de outras vacinas de rotina, afastando o mundo das metas globais de vacinação.

Alerta vermelho

“Esse é um alerta vermelho para a saúde infantil. Estamos testemunhando a maior queda continuada na imunização infantil em uma geração. As consequências serão medidas em vidas”, declarou a diretora executiva do Unicef, Catherine Russell. “Embora uma ressaca pandêmica fosse esperada no ano passado, como resultado das interrupções e lockdowns da covid-19, o que estamos vendo agora é um declínio contínuo. A covid-19 não é mais desculpa”, frisou. 

Nesse sentido, ela apelou por esforços para recuperar a cobertura vacinal infantil, “ou inevitavelmente testemunharemos mais surtos, mais crianças doentes e maior pressão sobre os sistemas de saúde já sobrecarregados”.

“O planejamento e o combate à covid-19 também devem andar de mãos dadas com a vacinação contra doenças mortais como sarampo, pneumonia e diarreia”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Não é uma questão de um ou outro, é possível fazer os dois”.

Sarampo, HPV e Pólio

A cobertura da primeira dose da vacina contra o sarampo também caiu para 81% em 2021, o mais baixo nível de proteção desde 2008. Em 2019, esse índice chegava a 86%. Ao todo, 24,7 milhões de crianças perderam a primeira dose dessa vacina no ano passado, 5,3 milhões a mais do que em 2019. Outros 14,7 milhões não receberam a segunda dose necessária.

A proteção vacinal contra o HPV, que era superior a 25%, em 2019, também entrou em declínio. No ano passado, apenas 15% tomaram a primeira dose da vacina. São 3,5 milhões de perderam a primeira dose da vacina que protege as meninas contra o câncer do colo do útero. Assim, a queda na proteção contra o HPV deve causar “graves consequências para a saúde de mulheres e meninas”.

Da mesma forma, em comparação com 2019, mais 6,7 milhões de crianças perderam a terceira dose da vacina contra a poliomielite.

Surtos evitáveis

O relatório alerta que níveis de cobertura inadequados já resultaram em surtos evitáveis de sarampo e poliomielite nos últimos 12 meses. Além disso, as agências advertem que o “retrocesso histórico” nas taxas de imunização acontece simultaneamente com o crescimento das taxas de desnutrição aguda ou severa.

“Uma criança desnutrida já tem imunidade enfraquecida e vacinas perdidas podem significar que doenças comuns da infância rapidamente se tornem letais para ela. A convergência de uma crise de fome com uma crescente lacuna de imunização ameaça criar as condições para uma crise de sobrevivência infantil”, aponta o documento.

As coberturas vacinais caíram em todas as regiões, principalmente em países de baixa e média renda. Índia, Nigéria, Indonésia, Etiópia e Filipinas registrando os números mais altos de crianças que não receberam a primeira dose da vacina tríplice, por exemplo. Por outro lado, países como Uganda e Paquistão mostraram que é possível recuperar os níveis de vacinação infantil anteriores à pandemia.

OMS e Unicef apontam diversos fatores que levaram ao declínio abrupto da cobertura vacinal infantil. Aumentou, por exemplo, o número crescente de crianças que vivem em ambientes de conflito e de vulnerabilidade, onde o acesso à imunização é “muitas vezes desafiador”. Outro desafio é a desinformação e o discurso antivacina que também ganharam impulso durante a pandemia. Além disso, muitos países concentraram recursos no enfrentamento à covid-19, negligenciando a prevenção às demais doenças.


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