Prometeu e não cumpriu

Ministério da Saúde garantiu apenas metade das 560 milhões de doses de vacinas anunciadas

Contratação era anunciada em propagandas do governo, mas, em ofício ao Congresso Nacional, pasta reconheceu que a informação não procede

Aurélio Pereira/MS
Aurélio Pereira/MS
A maioria de doses esperadas são da vacina Oxford/AstraZeneca, produzidas pela Fiocruz, que ainda não têm contratos de compra assinados

São Paulo – Questionado pelo Congresso Nacional, o Ministério da Saúde admitiu que o número de vacinas contra a covid-19 já compradas é inferior às mais de 560 milhões de doses anunciadas em propagandas e declarações públicas do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Até o momento, apenas metade do total prometido foi de fato contratado, aproximadamente 281 milhões de doses. 

A informação de que o governo federal estava superestimando o número de vacinas compradas foi confirmada em resposta ao requerimento de informações apresentado pelo deputado Gustavo Fruet (PDT-PR), ao qual o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso. No documento, a área técnica admite que 281.023.470 vacinas foram compradas, mas as outras 281.889.400 ainda estão “em fase de negociação”. 

A resposta foi assinada pelo diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do ministério, Lauricio Monteiro Cruz, em 12 de abril e chegou ao Congresso Nacional nesta segunda-feira (3). Por duas ocasiões, ainda em março, o governo de Jair Bolsonaro já dava como certa a disponibilidade das vacinas. Pelo twitter, o Ministério da Saúde destacou a informação em uma postagem do dia 24 de março. A reportagem do Estadão também mostra que, uma semana depois, Queiroga repetiu a informação. “O governo federal já tem contratados mais de 560 milhões de doses de vacina”, afirmou ele em reunião do comitê de combate à covid.

Reprodução

Informação sobre vacinas não procede

A resposta ministerial também detalha que a maioria de doses esperadas são da vacina Oxford/AstraZeneca, produzida pela Fundação Oswaldo Cruz. Ao todo, são aguardadas 210 milhões de unidades até o fim do ano. Até hoje, no entanto, “não há contrato assinado que garanta toda essa produção”, aponta o veículo. Na lista, também estão sem contratos assinados a compra de 30 milhões de doses da Coronavac, da Sinovac, fabricada pelo Instituto Butantan. Assim como 41,4 milhões de vacinas da aliança internacional Covax Facility, liderada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Na falta de doses, a aplicação da segunda dose da Coronavac já está suspensa em pelo menos nove capitais e centenas de outras cidades brasileiras de 18 estados. Na semana passada, Queiroga admitiu “dificuldades” com relação à compra das vacinas, o que atrasaria a imunização dos brasileiros.

O adiamento preocupa especialistas por colocar em xeque a imunização de brasileiros que já receberam a primeira dose. A falta de doses suficientes sempre foi uma questão para a imunização no geral no país, mas se agravou com o fim da reserva de vacinas por conta de uma medida editada pelo próprio governo, que autorizou a aplicação de todo o estoque para a primeira dose. Até então, a recomendação era que se reservasse metade das vacinas para garantir a segunda dose.


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