sucateamento

Médicos alertam para déficit de cerca de 300 profissionais no hospital Emílio Ribas

Falta de médicos e enfermeiros no hospital que é referência em infectologia prejudicou atendimento em covid-19 e agora põe em risco os pacientes com varíola dos macacos, doença que cresce em São Paulo

Associação dos Médicos do Instituto de Infectologia Emílio Ribas
Associação dos Médicos do Instituto de Infectologia Emílio Ribas
Principal centro no atendimento de infectologia, Emílio Ribas está em crise desde 2014

São Paulo – Hospital referência no tratamento de doenças infecciosas, o Emílio Ribas enfrenta a falta de cerca de 300 profissionais, entre médicos e profissionais de enfermagem. O problema que vem se tornando crônico nos últimos anos já afetou o atendimento na fase crítica da pandemia de covid-19 e agora põe em risco os pacientes com varíola dos macacos, que aumentam em São Paulo. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, há no estado 2.528 casos confirmados, incluindo 30 pacientes menores de 11 anos de idade.

Conforme o infectologista Eder Gatti, presidente da Associação dos Médicos do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (AMIIER), o governo estadual prometeu realizar concursos públicos e nomear, em dezembro passado, 204 profissionais, o que amenizaria o problema. Mas até agora nenhum profissional foi contratado. “Bastava uma canetada do governador. Não fez porque não quis”, disse o médico.

Pelas estimativas, se fossem chamados 10 infectologistas já concursados e aprovados, seria possível dobrar o número de leitos de enfermaria e assim acabar com a sobrecarga crônica enfrentada no pronto-socorro do hospital.

Segundo Gatti, o déficit de recursos humanos é piorado pelo atraso na conclusão de reformas no hospital, iniciadas em 2014. “Desde então o governo diminuiu o número de médicos. O último concurso foi em 2015. Essas redução fez falta no surto de febre amarela, em 2017, com apenas 10 leitos, sendo que antes tinha 17.”

Emílio Ribas terceirizado na fase crítica da pandemia da covid

Houve reflexos mais tarde, a partir de 2020, com a chegada da pandemia de covid-19. “Quando o hospital deveria estar pleno, não estava. E por isso o governo terceirizou parte do serviço, o que é pior. Tem estudos feitos com desfechos de pacientes internados, que mostram que o risco de morrer era duas vezes maior na UTI terceirizada. É uma crítica ao modelo, não aos profissionais, porque precariza, não há controle da mão de obra médica, há rotatividade grande e profissionais sem formação adequada podem ser contratados”, disse Gatti.

No último dia 17, representantes dos profissionais entregaram um abaixo-assinado com 436 assinaturas de funcionários ao secretário de estado da Saúde, Jean Gorinchteyn. O objetivo é que o secretário dê andamento ao processo após os concursos realizados.

Há 42 médicos aptos, sendo 40 infectologistas, aguardando autorização para nomeações. Aguardam aprovação da Secretaria de Estado da Casa Civil para nomeação 17 médicos, 15 fisioterapeutas e 15 biomédicos que já passaram em concurso público. Há concursos a serem realizados para 19 médicos e falta edital para 51 técnicos de enfermagem, 24 enfermeiros, oito assistentes sociais, seis psicólogos, três fonoaudiólogos, dois nutricionistas, dois farmacêuticos e dois terapeutas ocupacionais.

Enquanto isso, a cidade de São Paulo já passa por uma escalada nos casos de monkeypox, com mais de mil pacientes diagnosticados, 61% dos casos do Brasil, em meio à pandemia de covid, que ainda não acabou. Para completar, há problemas no enfrentamento da nova epidemia, já que a espera pelo exame que detecta a doença, causada pelo vírus monkeypox, pode chegar a cinco horas no hospital.

“Se pensarmos no crescimento exponencial da doença, ao que tudo indica, até o final do ano o hospital estará colapsado, caso não sejam realizadas as contratações já aprovadas. Saúde é um serviço essencial e basta uma assinatura do governador Rodrigo Garcia para que os profissionais necessários para o funcionamento do instituto sejam contratados, independentemente do calendário eleitoral”, disse Gatti.