Saúde pública

Problemas nos hospitais universitários prejudicam a população e a formação médica

Com poucos recursos, falta de funcionários, medicamentos e equipamentos, há menos consultas, exames e cirurgias e os médicos têm sua formação prejudicada – a população sofre duplamente

Vinicius Pereira/Folhapress

Problemas financeiros, crônicos, levaram a Santa Casa de São Paulo a fechar seu pronto socorro em julho de 2014

São Paulo – Duas semanas após o término da greve dos médicos residentes, o Hospital São Paulo (HSP), vinculado à Universidade Federal de São Paulo, continua com os graves problemas que levaram à paralisação. Faltam medicamentos, insumos e muitas cirurgias estão sendo canceladas. A direção do HSP nega. Afirma que não estão faltando medicamentos, que foram tomadas todas as providências para compras de insumos e que algumas cirurgias foram suspensas devido à falta de servidores públicos em greve.

“Encerramos a greve com o compromisso do conselho gestor de resolver esses problemas, que continuam. Chega a faltar aquela malha usada para engessar o paciente. Por isso continuamos a cobrança, mesmo tendo voltado a atender os pacientes”, afirma o presidente da Associação dos Médicos Residentes do Estado de São Paulo (Ameresp), Diego Garcia.

De acordo com ele, a situação dos residentes continua difícil também na Santa Casa de São Paulo. Em crise financeira há anos, o hospital chegou a fechar seu pronto socorro em julho do ano passado. Além do cancelamentos de cirurgias em geral, faltam insumos e medicamentos. “A direção da Santa Casa chegou a afirmar que, a ser mantida essa situação, o atendimento entrará novamente em colapso em novembro”, diz Garcia.

Na Universidade de São Paulo – a maior do país – o Hospital Universitário (HU), a situação se agrava a cada dia, na medida em que mais trabalhadores se desligam em função das condições ruins de trabalho.

USP

Desde março uma grave crise se instaurou no atendimento à população do Hospital Universitário da USP. Um programa de demissão voluntária instituído pela reitoria da USP, como parte de um pacote para tentar equilibrar as contas da universidade, levou 213 trabalhadores a se demitirem. Desse total, 18 médicos.

De acordo com o diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) e vice-diretor clínico do HU, Gerson Salvador, essa redução no quadro de funcionários diminuiu de 20 para 12 o número de leitos na UTI, em 19% a oferta de leitos de UTI neonatal e em 20%o número de partos devido à queda na capacidade de leitos no berçário 20% por causa da redução dos leitos de berçário. Além disso, a cada semana são canceladas 15 cirurgias, passaram a ser realizadas 40 consultas a menos todo mês, de casos novos e retornos. No serviço de ginecologia, 360 consulta deixam de ser marcadas todo mês.

“Faltam condições adequadas para retomarmos o atendimento que era prestado antes. Para manter o atendimento de emergência, o ambulatório de ortopedia foi fechado e os ortopedistas transferidos para o pronto socorro. Fazemos o que está ao nosso alcance, ampliamos a duração dos plantões, toda a equipe vai se sacrificando. E até agora não houve nenhum sinal da reitoria. Tampouco o conselho universitário se reuniu para discutir o caso”, diz Salvador. “É uma irresponsabilidade do reitor da USP e uma omissão do governo do Estado de São Paulo”, alerta Gerson Salvador, diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) e vice-diretor clínico do HU.

Para ele, a esperança está numa representação que o Simesp, juntamente com o Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) e a Associação dos Docentes da USP, protocolou na Promotoria de Justiça de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo – a mesma que em setembro de 2011 conseguiu barrar os efeitos de um decreto do governo estadual que permite a reserva de 25% dos leitos de hospitais públicos geridos por Organizações Sociais (OS) aos planos de saúde.

Para complicar a situação no HU, ainda uma proposta de sua desvinculação da USP, transferindo-o à Secretaria Estadual de Saúde, o que desagrada a médicos, enfermeiros e demais tralhadores. Eles temem que a gestão seja transferida para uma Organização Social (OS).

Fraudes

No Complexo Hospitalar da Faculdade de Medicina de Marília, ligado ao governo estadual paulista, a população de 60 municípios da região – 1,5 milhão de pessoas – está com o atendimento prejudicado. Além da crônica falta de recursos, evidências de fraudes em contratos de prestação de serviços médicos estão sendo apurados pela Polícia Federal.

Para o presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) Paulo Rizzo, a crise nos hospitais universitários tem o agravante de serem hospitais-escola onde são formados e aperfeiçoados médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde que vão atender à população. “Além disso, em algumas localidades são a única unidade de saúde 100% pública a oferecer assistência e realizar cirurgias complexas”, diz.

Para ele, apesar das particularidades de cada hospital, de cada universidade, todos têm em comum o aspecto da insuficiência de recursos. “Os hospitais ligados às universidades federais enfrentam o corte de verbas. No caso do Ministério da Educação passa de R$ 9 bilhões, afetando sobretudo os hospitais universitários. A consequência é uma redução em 75% das verbas de custeio”, diz.

Outro aspecto comum, segundo ele, é a terceirização da gestão ou a sua ameaça. No caso das federais, praticamente todos os hospitais universitários – exceto o da Universidade Federal de São Paulo, de Santa Catarina e do Rio de Janeiro – transferiram sua gestão a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), o que afetou principalmente o quadro de recursos humanos.

“Com a mudança, muitos funcionários que prestavam serviços anteriormente não foram aprovados nos concursos”.

A saída, segundo Rizzo, é a pressão por mudanças na sistemática de financiamento da Saúde, que garanta mais recursos para o SUS. E, a curto prazo, continuar pressionando o governo para rever cortes.

Polícia Federal investiga golpe aplicado contra HU da UFRJ

A Polícia Federal (PF) começou a investigar golpes contra o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na zona norte do Rio.

Na última sexta-feira (10), familiares de três pacientes internados no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) e na Unidade Coronariana relataram à direção do hospital terem recebido telefonema com pedido de depósito bancário para custear a cirurgia de urgência de seus familiares internados.

Os golpistas, com ajuda de um hacker, acessaram os dados dos pacientes.

Custeado com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), o hospital-escola é público e gratuito. Mas uma das famílias chegou a fazer um depósito de R$ 875.

Conforme ressaltou a direção do hospital, qualquer pedido de cobrança deve ser denunciado à ouvidoria da instituição.  A Associação Brasileira de Hospitais Universitários já tomou ciência do caso e está alertando os outros hospitais para evitar novos golpes.

Com informações da Agência Brasil

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