Lucro e malícia

Google escancara uso político de algoritmos ao apequenar Lula e coroação de Charles III

Ao oferecer “corrupção” como alternativa a quem pesquisa “coroação”, às vésperas de um dos eventos mais citados no mundo, Google expõe a ação humana por trás dos algoritmos

Pixabay/CreativeCommons
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Suposta imparcialidade dos algoritmos está em descrédito. Cada vez mais, internautas reconhecem tendências

São Paulo – O youtuber Felipe Neto denunciou hoje um flagrante uso político dos algoritmos pelo Google. Ao buscar pelos termos “Lula” e “coroação” – relacionados à presença do presidente brasileiro na coroação do rei Charles III, amanhã, em Londres, o influenciador digital deparou com o termo “lula corrupção” como “alternativa” de resultado oferecida pela plataforma. Inconformados, diversos internautas afirmam ter testado a busca do termo “coroação” ao lado de nomes de outras autoridades e a alternativa “corrupção” também aparece. Já com o nome de Bolsonaro a alternativa a coroação é “coração”.

Um sério indício de que, por trás dos algoritmos, dedos humanos conduze o buscador. Inclusive porque a coroação de Charles III é um dos temas mais mencionados em todo o mundo. No Twitter, Felipe Neto creditou a malícia do Google ao deputado federal André Janones (Avante-MG).

“O @AndreJanonesAdv me avisou no privado e tive q abrir o Google pra acreditar. Se trata de um erro algorítmico, mas é inaceitável. ‘Coroação’ não é uma palavra errada ou de rara pesquisa. Google dará explicações? Corrigirá? Sem o PL, não são obrigados a nada”, Felipe Neto. Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o “Conselhão“, o influenciador se refere à necessidade de se aprovar a Projeto de Lei 2640, o PL das Fake News, com objetivo de se começar a regular abusos das big techs.

Desinformação e lobby

As grandes empresas que dominam o mercado de tecnologia, chamadas de big techs, abraçaram a extrema direita no Brasil. Isso se deu após articulação de setores democráticos em torno do PL das Fake News. O texto busca impedir a impunidade de crimes cometidos na internet. Contudo, as controladoras das redes sociais abraçaram a desinformação e adotaram o lobby, além da manipulação de seus próprios algoritmos, como forma de barrar o texto. Como resultado, a matéria que tramita com urgência na Câmara dos Deputados está com votação suspensa.

Entre as empresas que estão mobilizadas contra o combate às fake news e aos crimes digitais, destaque para a Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp), Twitter e Google (YouTube e Chrome). Por um lado, esta mobilização representa uma significante força contrária aos preceitos democráticos defendidos pelo PL. Agora, por outro ponto de vista, ficou mais claro aos internautas como existe uma parcialidade nas redes sociais. A suposta imparcialidade dos algoritmos que as controlam caiu em total descrédito. Agora, cada vez mais, internautas reconhecem tendências e vontades políticas nestas plataformas.

Histórico do Google

Nesta semana, o Google realizou uma iniciativa com o objetivo de dificultar a luta contra a desinformação e o discurso de ódio. A empresa, que detém o Chrome, o Android e o YouTube, adicionou um link em seu mecanismo de busca para um texto contrário ao PL. No entanto, o Ministério da Justiça interpretou a ação do Google como uma artimanha, uma vez que a plataforma direcionou os usuários para um conteúdo que favorece seu modelo de negócios. Como resultado, internautas passaram a divulgar alternativas ao buscador dominante no mundo on-line. Então, a percepção de hoje, de Felipe Neto, apenas contribui para uma condição já compreendida aos olhos mais atentos.