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Estados do Nordeste devem manter vacinação de adolescentes contra a covid-19

Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste recomenda a estados e municípios manter vacinação, contra decisão do Ministério da Saúde de Bolsonaro

Camila Batista/Semsa
Camila Batista/Semsa
Decisões de gestores locais atendem a recomendações técnicas e estratégias devem seguir planos de imunização coletiva e, inclusive, favorecer volta às aulas

São Paulo – Os nove estados do Nordeste devem manter a vacinação de adolescentes contra a covid-19. Inclusive para os sem comorbidades. Em nota divulgada hoje (17), o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste recomendou a estados e municípios da região que “não alterem suas programações de vacinação, dentro das disponibilidades de doses de vacinas”. O documento comenta a “nova recomendação” do Ministério da Saúde (MS) para suspender a vacinação de adolescentes sem comorbidades. “Mas sem conseguir explicar com clareza as razões da mudança na orientação anterior, que autorizava a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos, com ou sem comorbidades, com a vacina da Pfizer disponível no Brasil”, lembra a nota.

“Este Comitê Científico faz coro com as manifestações da Sociedade Brasileira de Imunizações e de respeitados especialistas, no sentido que as justificativas apresentadas pelo MS não são claras e não têm sustentação científica”, afirmam os cientistas do órgão.

“Se o município tem vacina, se já completou demanda da população com mais de 18 anos, e se cientificamente a ciência, a OMS, seguem indicando vacinas como a Pfizer e outras para quem tem entre 12 e 17 anos, e, principalmente, se quem tem comorbidades, mesmo mais jovens, crianças e adolescentes, tem elevado risco, por que não vacinar e salvar estas vidas?”, ressalta o governador do Piauí, Wellington Dias, presidente do Consórcio Nordeste.

Em nome da ciência

Para recomendar a manutenção da vacinação, o Consórcio do Nordeste explica ter levado em consideração a Organização Mundial da Saúde (OMS), que além de não ser contrária à vacinação de adolescentes “com ou sem comorbidades”, recomenda a utilização de vacinas de mRNA, como a da Pfizer para o uso em pessoas acima de 12 anos. Afirma, também, que ao aprovar a referida vacina para adolescentes entre 12 e 17 anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não restringiu a administração a pessoas com comorbidades. A nota critica, ainda, a incoerência do ministro, lembrando que a vacinação de adolescentes sem comorbidades foi autorizada pelo próprio Ministério em nota técnica (36/2021) de 2 de setembro último. Além da 10ª edição do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19 (PNO), de 15 de agosto.

“Entre salvar vidas e regra puramente burocrática e sem lógica, e digo, seguindo o PNI, estados integrados com municípios ficarão com a regra que salva vidas”, reforça o governador Wellington Dias, que também é coordenador da temática de vacina e enfrentamento à covid-19 no Fórum Nacional de Governadores.

Decisão absurda

O ex-ministro da Saúde e médico infectologista Alexandre Padilha também recomenda a manutenção da vacinação para os adolescentes. Deputado federal (PT-SP), Padilha integra o Comissão Especial de Fiscalização das Ações da Covid-19 e gravou um vídeo para tranquilizar as pessoas que o procuravam “desesperadas” com o anúncio feito pelo Ministério da Saúde do governo Jair Bolsonaro. O parlamentar explica “o que está por trás da decisão absurda do Ministério da Saúde”.

“No mesmo momento que o ministério sai dizendo por aí que tem excesso de vacina no Brasil, neste mesmo momento ele toma essa decisão de suspender a vacinação dos adolescentes”, lembra. “Desde o começo o governo Bolsonaro tem dito que não precisava contratar mais vacinas, aumentar produção porque já tinha um volume pré-contratado do tamanho da população brasileira. O que é absurdo, uma prova de desconhecimento, ignorância.”

O parlamentar apresentou hoje requerimento de informação ao Ministério da Saúde. Padilha quer saber quais pareceres e notas técnicas fundamentaram a suspensão da vacinação de adolescentes, se houve consulta prévio ao plano nacional de imunização (PNI) e qual planejamento e calendário, além dos ritos de avaliação técnica adotados pelo MS em relação à dose de reforço dos idosos. Padilha também protocolou requerimento junto à Comissão de Seguridade Social e Saúde da Família convocando do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para prestar esclarecimentos sobre a suspensão da vacinação contra covid-19 em adolescentes.

Governo despreparado

O médico explica que o Brasil, assim como o resto do mundo, deveria estar preparado para ter de fazer doses de reforço para a covid, como as que estão sendo feitas agora em idosos. E como é feito com outras doenças. “Só tem uma vacina autorizada para adolescentes no Brasil porque o governo se negou a analisar a possiblidade da Coronavac, como está sendo feito em vários países”, disse, mencionando o Chile. “Então, só tem a vacina da Pfzer. Acontece que essa vacina seria o ideal para ser utilizado (como reforço) nas pessoas que tomaram duas doses de Coronavac ou AstraZêneca. Porque o ideal é intercalar tipos diferentes de vacina na dose de reforço.”

Assim, avalia Padilha, na prática o que o Ministério da Saúde está querendo fazer “e não quer assumir” é parar a vacinação de adolescentes para pegar essas vacinas e aplicar nos idosos na dose de reforço. “Ou seja, ele bloqueou a possibilidade de utilizar Coronavac na vacinação dos adolescentes e agora quer deixá-los sem vacina”, critica. “Assim, vai deixar uma parte da população exposta, podendo infectar outros adultos inclusive, idosos. Além de estarem menos protegidos. Mais uma mostra da falta de planejamento por parte do governo federal. Tragédia e quem sofre somos nós.”

Além dos nove estados do Nordeste, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio Grande do Sul informaram que vão manter a vacinação dos adolescentes. Outros estados têm cidades que mantém a imunização e outras que suspenderam, em avaliação à determinação do Ministério da Saúde do governo Bolsonaro.

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