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Efeito da vacina: média de internações por covid-19 cai 20% em 15 dias em São Paulo

Apesar de errática e com interrupções, vacinação contra a covid-19 mostra resultados em queda abrupta de internações, mesmo com aumento dos casos

Fotos Públicas
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Ampliação da vacinação já impacta número de internações e é o único caminho para o fim da pandemia

São Paulo – Paralelamente ao aumento da vacinação, a média diária de internações pela covid-19 em São Paulo vem caindo de forma consistente há 15 dias. Entre o dia 12, quando a média bateu em 2.760 internações diárias, e ontem (27), quando chegou a 2.195, a queda chega a 20,5%. O número é o mesmo registrado em 6 de maio, menor registrado desde o pico mais grave da pandemia, em abril. Porém, agora, não há indicativos de reversão do quadro, embora os números continuem altos. Ontem foram registadas 2.043 novas internações, o menor número para um domingo desde 28 de fevereiro, quando ocorreram 1.890.

Além disso, o número total de pessoas internadas com covid-19 também caiu. Em 7 de junho, 21 dias atrás, havia 24.476 pacientes internados em todo o estado, sendo 13.362 em enfermarias e 11.114 em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), superando a pior estimativa feita pelo Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, com 10 dias de antecedência. Ontem, no entanto, o número de pacientes internados caiu para 20.836, sendo 10.007 em unidades de Terapia Intensiva e 10.829 em enfermaria. Uma queda geral de 14,87%.

Os números de internações pela covid-19 estão em queda a despeito do grande aumento nos registros de novos casos, mesmo após a vacinação. Na última semana, a média foi idêntica à do pico da pandemia, em abril, superando 16 mil casos por dia e mais de 114 mil na semana.

Fora de controle

A semana anterior foi ainda mais grave, com mais de 18 mil casos por dia e 123 mil na semana. Com isso, o número de novos casos por 100 mil habitantes mantém-se acima de 500. Os parâmetros internacionais consideram a pandemia totalmente fora de controle quando os novos casos superam 100 por 100 mil habitantes.

No entanto, o aumento de casos não é um fator de avaliação da eficácia das vacinas, já que nenhuma delas é capaz de deter totalmente a contaminação. Mas justamente evitar as formas graves da doença, hospitalizações e mortes. Além disso, com o avanço da vacinação, ocorre um efeito de despreocupação em parte da população, que acaba afrouxando os cuidados com uso de máscaras e distanciamento social, por exemplo. Hoje, mesmo quem já está vacinado, deve continuar se atentando aos cuidados, pois a situação ainda é grave.

A média de mortes segue em relativa estabilidade, mas ainda em patamares muito elevados. São 555 mortes causadas pela covid-19 por dia, em São Paulo. No dia 1º de junho, eram 519, em média. Na última semana, o estado registrou um total de 3.959 óbitos, contra 4.073 na semana anterior.

Avanço da imunização

O infectologista do Hospital Universitário da USP Gerson Salvador avalia que, mesmo com a vacinação contra a covid-19 sendo realizada de forma lenta e errática, essa queda nas internações é resultado do avanço da imunização. “A gente tem visto uma discrepância entre o número elevado de novos casos e um número menor de internações e mortes. Isso provavelmente se deve a um efeito protetor das vacinas, sobretudo nas pessoas mais vulneráveis, as pessoas com mais de 60 anos ou com comorbidades que já estão vacinadas”, explicou.

Para o coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, Paulo Menezes, a queda nas internações é reflexo direto da vacinação da população a partir de 60 anos, que está quase completa. Porém isso não se reflete no número de casos porque esse grupo tem participação menor na transmissão da doença: 15%. Já os grupos etários mais expostos – 30, 40 e 50 anos – ainda não receberam a vacina. Esses respondem por mais da metade dos casos. 

“Isso começa a aparecer de forma clara nos nossos indicadores. Tivemos aumento de 18% no indicador de casos por 100 mil habitantes. O de internações por 100 mil habitantes teve movimento contrário, uma redução de 5%. Nós sabíamos que, até o momento atual, o impacto da vacinação na transmissão seria limitado. Nas próximas semanas devemos começar a observar o impacto da vacinação dessas faixas etárias (40 a 59 anos) ao longo de julho”, disse Menezes.

Ainda segundo Menezes, antes da vacinação, os idosos representavam 60% de todas as internações. Em maio, eles passaram a 34%. Já a faixa etária de 40 a 59 anos passou de 12% do total de internações para 48%.

Vacinação completa x covid-19

Ao menos dois estudos realizados em São Paulo mostram que a ampla vacinação é capaz de finalmente conter a pandemia de covid-19. Um deles foi realizado na cidade de Serrana, no oeste paulista, com a vacina CoronaVac. E o outro, mais recente, com a vacina da AstraZeneca, na cidade de Botucatu.

Na cidade de Serrana ficou demonstrado que é possível controlar a pandemia do novo coronavírus, com redução de 95% das mortes, 86% nas internações e 80% nos casos sintomáticos de covid-19, após imunização da população adulta com duas doses.

O projeto S, realizado pelo Instituto Butantan com a vacina CoronaVac, demonstrou também que a vacinação de 75% da população já promove um impacto significativo na transmissão da doença, protegendo inclusive aqueles que não puderam ser vacinados. E mostrou ainda que não há necessidade de realizar a aplicação de novas doses da vacina em idosos. O projeto de ampla vacinação foi realizado entre 7 de fevereiro e 15 de maio, na cidade de Serrana, que tem 45.684 moradores, dos quais 62% são adultos. Destes 95,7% receberam as duas doses da vacina.

Nenhuma internação

“Percebemos que os fenômenos observados não acontecem aleatoriamente, mas se repetem nos quatro grupos em momentos diferentes. O resultado mais importante foi entender que podemos controlar a pandemia mesmo sem vacinar toda a população. Quando atingida a cobertura de 70% a 75%, a queda na incidência foi percebida até no grupo que ainda não tinha completado o esquema vacinal”, explicou o diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, Ricardo Palácios.

Em Botucatu foi registrada queda de 71% nos novos casos de covid-19, após a primeira dose da vacina ter sido aplicada em 81% da população. Em apenas duas semanas, a média de novos casos da doença caiu de 141 para 40 por dia. Na última quarta-feira (23), o Hospital do Bairro de Botucatu não registrou nenhuma internação, situação inédita desde o início da pandemia. Como o intervalo da vacina é de três meses, deve-se observar queda ainda maior nos casos, já que o potencial de proteção aumenta significativamente após a segunda dose.