Arrependimento leva médicos a rever critérios para vasectomia

Alto índice de reversão de vasectomias é apontado pelo Conselho Federal de Medicina como fator fundamental para criar normas mais rígidas para a operação

A partir do dia 21 de julho, qualquer homem que quiser se submeter à cirurgia de esterilização masculina, a vasectomia, só poderá realizá-la com médicos que saibam fazer o processo de reversão, que também passa a ter cobertura pelos planos de saúde.

Segundo o médico urologista, Armando Abrantes, diretor da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), essa resolução do CFM (Normas éticas do Conselho Federal de Medicina) é uma resposta ao alto índice de arrependimento de homens que se submetem à vasectomia e depois tentam revertê-la. “Cerca de 15% a 17% dos homens que se submetem a esse procedimento acabam se arrependendo anos depois porque ficaram viúvos ou se separaram e constituíram uma nova família, decidindo ter mais filhos”.

Uma das preocupações da SBU é a banalização do procedimento médico: “Precisamos esclarecer a sociedade que vasectomia faz parte de um processo mais amplo do qual fazem parte a esterilização masculina e o planejamento familiar”, afirma Aguinaldo Nardi, urologista e diretor da SBU-SP.

Outra norma do Conselho é que depois de procurar o médico, o paciente deve esperar 60 dias para realizar a vasectomia. “O procedimento médico é simples, mas é uma questão séria, porque deixa o homem estéril”, alerta Abrantes.

Segundo o especialista, até a publicação da resolução, as vasectomias eram realizadas de forma indiscriminada e sem controle, mas a estimativa é que ocorram 500 mil operações por ano. “Até agora era feito de forma informal, nos consultórios médicos, sem notificação, porque não havia lei regulamentando”.

Habilidade para reversão

Outro problema apontado pelos médicos entrevistados pela Rede Brasil Atual é a capacidade técnica do médico que realiza a operação. Com as novas diretrizes, o médico que realizar o procedimento deve ter condições de revertê-lo. “A operação deve ser precisa. Um médico não habilitado pode seccionar (cortar) o canal deferente em qualquer lugar e fazer a esterilização, mas isso dificulta uma possível reversão. A parte retirada do canal deve ser exata. Isso é fundamental para o sucesso de uma possível reversão”.

Abrantes esclarece que a reversão da vasectomia é possível, mas é uma cirurgia complexa e a taxa de sucesso cai com o passar dos anos. “Até um ano após a operação a possibilidade de reverter a esterilização é de mais de 90%. Dez anos depois cai para 30% e depois desse período não é aconselhável”.

Cobertura dos planos de saúde

Em 2008, a Agência Nacional de Saúde (ANS) incluiu a vasectomia na lista de procedimentos que devem ser cobertos pelos planos de saúde. Agora, a resolução do Conselho Federal de Medicina também inclui a reversão. “A novidade é que os planos de saúde tem que realizar a reversão e criar centros de planejamento familiar. A vasectomia é uma etapa do planejamento familiar e  tem que prever orientação psicológica para o casal, por exemplo”, destaca Nardi.