GOVERNO TRAPALHÃO

Ministério da Saúde contratou empresa para transporte de vacinas sem experiência no setor

Tribunal de Contas da União apura supostas irregulares na contratação, que está sob sigilo

Ricardo Wolfenbuttel
Ricardo Wolfenbuttel
Foram entregues três atestados de capacidade técnica ao governo federal, mas nenhum deles prova que a IBL já havia feito algum serviço semelhante ao da contratação pela pasta

São Paulo – O Ministério da Saúde contratou a empresa Intermodal Brasil Logística (IBL) para o transporte e armazenamento de vacinas pediátricas, sem exigir documentos que comprovassem experiência no setor. De acordo com reportagem do UOL, a IBL foi contratada, sem licitação, por R$ 62,2 milhões, e teve inúmeros problemas na execução do serviço.

A matéria do UOL cita que foram entregues três atestados de capacidade técnica ao governo federal, mas nenhum deles prova que a IBL já havia feito algum serviço semelhante ao da contratação pela pasta. O processo de contratação da empresa está sob sigilo, mas o ministério diz que ocorreu uma seleção em que concorreram diversas empresas de mercado e que não houve prejuízo na entrega das vacinas.

Durante a contratação, o Ministério da Saúde pediu apenas que a empresa atestasse a “prestação de serviço na área de armazenagem e transporte de vacinas e/ou insumos para saúde”, sem explicitar experiência com imunizantes que requerem temperaturas entre -90º C e -60º C. Os três atestados apresentados pela IBL não assemelham ao serviço contratado pela Saúde. Um deles, feito pela Libbs Farmacêutica, diz que a armazenagem contratada era para até cinco dias, com temperaturas variadas entre 2º C e 8º C, inadequadas para as vacinas da Pfizer.

TCU de olho

O Tribunal de Contas da União (TCU) apura supostas irregularidades na contratação da empresa pela Saúde. O processo está em andamento, sem decisão nem prazo para apreciação pelo plenário, informou o tribunal. A Folha de S.Paulo apontou a falta de experiência da IBL e mostrou que estados como Santa Catarina, Paraná, Pernambuco e Paraíba se queixaram das condições em que os imunizantes chegaram.

Em João Pessoa, por exemplo, a empresa não estava presente no último sábado (15) no aeroporto local para receber as doses, acondicioná-las e levá-las para o local indicado pelo governo estadual. Ao UOL, o ministério justificou o sigilo no processo de contratação, dizendo que a publicidade dos documentos poderia trazer “vantagem competitiva a terceiros”. Os contratos assinados com a IBL têm duração de 12 meses, com permissão de prorrogação para até cinco anos, apesar do caráter de urgência para a dispensa de licitação.

O ex-ministro Guido Mantega, em conversa com os jornalistas Luis Nassif e Marcelo Auler, do GGN, criticou a falta de preparo do governo Bolsonaro com um tema tão importante como as vacinas. “Os generais que estão no Ministério da Saúde contrataram, sem licitação, uma transportadora sem experiência em transporte de vacina. Ou seja, nós estamos em uma perda de rumo total do bolsonarismo e é um jogo que você não sabe aonde vai dar”, disse na entrevista.

A biomédica Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Cocovid-19, afirmou que, nessa altura da pandemia, já deveríamos saber algumas coisas em relação a boas práticas na logística de transporte de vacinas. “Felizmente, as vacinas podem ser usadas, estão dentro do prazo de vencimento. Mas a preocupação aqui é: más condições de transporte se repetirem. Isso não pode acontecer! Temos finalmente vacinas seguras e eficazes para os pequenos, temos que garantir o bom transporte delas”, criticou.