Alta Tecnologia

Acordo entre Butantan e Ministério da Saúde vai financiar fábricas de vacinas e de soros ‘em pó’

Investimento será destinado à produção de imunizantes RNA mensageiro, tecnologia científica de ponta, e de soros liofilizados, que não precisam ser armazenados a temperaturas muito baixas

Eduardo Maretti
Eduardo Maretti
Fábricas de vacinas mRNA será instalada dentro do Centro de Produção Multipropósito de Vacinas do Butantan

São Paulo – O Ministério da Saúde e o Instituto Butantan – centro de pesquisa do governo de São Paulo – assinaram esta semana um acordo para a construção de uma fábrica de vacinas de RNA mensageiro e para finalização da planta de soros liofilizados no parque industrial do Instituto. O investimento previsto é de R$ 386 milhões.

A vacina de RNA mensageiro, ou mRNA, utiliza uma determinada proteína do agente infeccioso, por exemplo do vírus da Covid-19, que induz as células a produzirem parte de uma proteína específica do agente infeccioso. Assim, o organismo  “aprende” a reconhecer o agente estranho e desenvolve uma resposta imunológica.

A vacina da Pfizer contra o vírus Sars-Cov-2 utiliza essa tecnologia. Os cientistas destacam que uma das principais vantagens do imunizante mRNA é que pode ser alterado rapidamente para combater variantes mais potentes ou diferentes do mesmo vírus, ou da família do vírus, o que foi de grande importância na pandemia. É uma das tecnologias mais avançadas do mundo em ciência.

Soro “em pó

Já os soros liofilizados, também parte do projeto conjunto, são as mesmas substâncias produzidas pelo instituto, mas desidratados, como se fossem em forma de pó. No entanto, o processo não altera as propriedades do produto. Por exemplo, os soros antiofídicos, antiescorpiônico, antidiftérico (contra difteria), antirrábico, entre outros produzidos no Butantan, poderão ser fabricados em larga escala com essa tecnologia.

A principal vantagem é que não precisam ser armazenados a temperaturas muito baixas, o que facilita o armazenamento e transporte, inclusive para áreas remotas do Brasil em que os acidentes com animais peçonhentos são comuns.

A incidência de acidentes ofídicos é cinco vezes maior na Amazônia do que no resto do país, por exemplo, segundo o Instituto Butantan, o que afeta diretamente populações indígenas e ribeirinhas. Com a ampliação da fábrica, a capacidade de produção de soros do Butantan deverá dobrar de 600 mil para 1,2 milhão de frascos por ano.

O investimento faz parte da Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), lançada em setembro pelo governo federal. O projeto visa aumentar a autonomia do Brasil na produção de imunobiológicos.

Quantias para cada destinação

Serão concedidos R$ 72 milhões para a fábrica de imunizantes de mRNA, que será instalada dentro do Centro de Produção Mutipropósito de Vacinas (CPMV). Mais R$ 222 milhões irão para a fábrica de processamento de soros.

O financiamento das duas obras está contemplado em contratos de repasse por intermédio da Caixa Econômica Federal, assinados na última terça (19). O processo de licitação está em andamento e a expectativa é que as reformas tenham início no primeiro semestre de 2024.

Os outros R$ 92 milhões fazem parte de um convênio direto entre Ministério da Saúde e Butantan. São destinados à compra dos equipamentos necessários para a fábrica de soros liofilizados.

Os novos recursos vêm pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).