Alerta

Ômicron: cientistas correm para entender nova cepa do coronavírus

“O perfil de mutação nos preocupa, mas agora precisamos trabalhar para entender o significado dessa variante e o que ela significa para a resposta à pandemia”, diz pesquisador

Pixabay
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O alarme entre os pesquisadores foi disparado por conta do aumento acentuado nos casos da variante Ômicron na província de Gauteng, na África do Sul, que abriga Joanesburgo

São Paulo – Pesquisadores de todo mundo, em especial os da África do Sul, estão correndo para entender melhor como age a nova cepa (B.1.1.529) do coronavírus, batizada de ômicron, e notificada como “variante de preocupação”. Uma prioridade máxima é segui-la mais de perto à medida que se espalha. Ela foi identificada pela primeira vez em Botsuana no início deste mês e os cientistas estão tentando entender as suas características, se ela pode evitar respostas imunes das vacinas e se pode causar covid-19 de forma mais ou menos grave do que as outras cepas.

“Há muita coisa que não entendemos sobre essa variante”, diz o médico de doenças infecciosas da Universidade de KwaZulu-Natal Richard Lessells em Durban, África do Sul, em uma coletiva de imprensa organizada pelo departamento de Saúde do país na quinta-feira (25). “O perfil de mutação nos preocupa, mas agora precisamos trabalhar para entender o significado dessa variante e o que ela significa para a resposta à pandemia”, relata a revista Nature.

Os cientistas detectaram a B.1.1.529 em dados de sequenciamento de genomas de Botsuana e a variante se destacou por conter mais de 30 alterações na proteína spike — a proteína do SARS-CoV-2 que reconhece as células hospedeiras e é o principal alvo das respostas imunes do corpo. Muitas das mudanças foram encontradas em variantes como a delta e a alfa e estão ligadas à maior possibilidade de infecção e à capacidade de escapar de anticorpos bloqueadores de infecções.

A ômicron na África do Sul

O alarme entre os pesquisadores foi disparado por conta do aumento acentuado nos casos da variante ômicron na província de Gauteng, na África do Sul, que abriga Joanesburgo. Os casos aumentaram rapidamente na província em novembro, particularmente nas escolas e entre os jovens, segundo Lessells.

O sequenciamento do genoma e outras análises genéticas de uma equipe liderada pelo pesquisador brasileiro da Universidade de KwaZulu-Natal Tulio de Oliveira revelaram que a variante B.1.1.529 foi responsável por todas as 77 amostras do vírus analisadas de Gauteng coletadas entre 12 e 20 de novembro. A análise de centenas de amostras está em andamento.

Evidências preliminares desses testes sugerem que a variante ômicron se espalhou consideravelmente além de Gauteng. “Isso nos traz a preocupação de que essa variante já possa estar circulando bastante no país”, aponta Lessells.

Resposta às vacinas

Pesquisadores da África do Sul mobilizaram esforços para estudar rapidamente a variante beta, identificada no final de 2020, e um esforço semelhante está sendo feito para investigar a B.1.1.529. Eles planejam testar a capacidade do vírus de escapar de anticorpos bloqueadores de infecções, bem como de outras respostas imunológicas.

O virologista da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, África do Sul, Penny Moore, cujo laboratório está medindo o potencial da variante de evitar a imunidade desencadeada pelas vacinas e infecções anteriores, aponta que contaminações foram relatadas na África do Sul entre pessoas que receberam qualquer um dos três tipos de vacinas em uso no país, da Johnson & Johnson, Pfizer-BioNTech e Oxford-AstraZeneca. Dois viajantes em quarentena em Hong Kong que testaram positivo para a nova variante foram vacinados com a Pfizer. Um indivíduo tinha viajado da África do Sul e o outro foi infectado durante a quarentena do hotel.

A equipe de Moore também vai avaliar se a B.1.1.529 causa covid-19 de forma mais ou menos grave do que a produzida por outras variantes, disse Lessells. “A questão chave vem em torno da gravidade da doença”, diz o cientista.

Também não é possível dizer ainda se variante é mais transmissível do que a delta, diz Moore, porque atualmente há um número baixo de casos de covid-19 na África do Sul. A pesquisadora Aris Katzourakis, que estuda a evolução do vírus na Universidade de Oxford, no Reino Unido, ressalta que países onde a delta é altamente prevalente devem estar atentos a sinais da presença da B.1.1.529. “Precisamos ver o que esse vírus faz em termos de sucesso competitivo e se ele aumentará a prevalência”, explica.

Com informações da revista Nature


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