Além da cloroquina

Teich: Bolsonaro flexibilizou quarentena sem consultar Ministério da Saúde

Ex-ministro da Saúde Nelson Teich disse à CPI da Covid que divergia de Bolsonaro também quanto à adoção de medidas preventivas

Edilson Rodrigues/Ag. Senado
Edilson Rodrigues/Ag. Senado
Ex-ministro Nelson Teich disse ter posições diferentes da de Bolsonaro, mas foi evasivo em muitas respostas em seu depoimento à CPI da Covid

São Paulo – O ex-ministro da Saúde Nelson Teich disse hoje (5) à CPI da Covid que o presidente Jair Bolsonaro não consultou a pasta quando tomou a decisão de flexibilizar a quarentena. Também afirmou que foi pego de surpresa ao ser questionado a respeito em entrevista coletiva. Em 11 de maio de 2020, Bolsonaro editou o decreto 10.344, que incluiu academias, salões de beleza e barbearias na lista de serviços essenciais, liberando assim a abertura desses estabelecimentos. “Idealmente, isso (a flexibilização por decreto) deveria ter sido discutido previamente. Acho que foi uma coisa que poderia ter sido feita de uma forma um pouco mais estruturada. Não lembro exatamente as palavras, mas no decreto diz que aquilo (a reabertura dos serviços) deveria ser feita obedecendo determinações do Ministério da Saúde”, disse.

De forma evasiva, que marcou seu depoimento, Teich demonstrou discordar também do teor do decreto, que ao liberar serviços, facilitava ainda mais as aglomerações. “Cada situação tem de ser discutida conforme as necessidades, conforme o momento. Eu teria de abordar isso em detalhes, por isso a discussão prévia era fundamental. A gente deveria avaliar caso a caso.”

Teich ignorado

Questionado se o seu então secretário-executivo Eduardo Pazuello tinha conhecimento da edição e do conteúdo do decreto, Teich não foi firme na resposta. “Também não sabia, pela reação dele. Essa foi a minha impressão, de que não sabia.”

Embora a pressão de Bolsonaro pela ampliação do uso da cloroquina para pacientes com covid-19 à sua revelia – o principal sintoma da sua falta de autonomia –, o isolamento social era outra divergência entre ambos.

Questionado sobre sua timidez na defesa pública do distanciamento, Teich a defendeu como uma importante ferramenta. Mas dentro de um programa que combine rastreamento de casos, quarentena e testagem, a exemplo do que fizeram países com melhores resultados no enfrentamento da pandemia.

Presença de Bolsonaro

“Essa minha postura era diferente da do presidente em relação a isso (distanciamento social) e ao uso de máscara. Eu estava construindo uma política nesse sentido. Tem de haver um trabalho maior e mais amplo de controle da transmissão. Essas medidas podem ser aplicadas em qualquer momento da pandemia, inclusive agora, mesmo com o início da vacinação.

Teich se esquivou de algumas questões, como se o discurso negacionista e a presença de Bolsonaro em aglomerações, sem máscara, tiveram impactos sobre o alto contágio e número de mortes, que já ultrapassam 410 mil. E respondeu muitas outras de modo a minimizar a responsabilidade do presidente.

É o caso da liderança e coordenação do Ministério no combate à pandemia. Embora tenha defendido o protagonismo federal, ponderou que o país nunca enfrentou situação de tamanha gravidade, e que o sistema de saúde brasileiro está em construção em meio a um subfinanciamento histórico.

Redação: Cida de Oliveira


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