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Covid-19 deixa 3.869 mortos em 24 horas, no dia mais letal da pandemia no Brasil

Pelo segundo dia consecutivo, Brasil quebra recorde de mortes em 24 horas. Enquanto isso, Bolsonaro, sem máscara, cobra que as pessoas não fiquem em casa

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Trata-se do pior momento da covid-19 no Brasil desde o início do surto, em março de 2020

São Paulo – Pelo segundo dia consecutivo o Brasil registra recorde de mortes por covid-19. Foram 3.869 vítimas em 24 horas. Com isso, o país registra 321.515 vidas perdidas para o vírus desde março do ano passado. Assim, mesmo sem contar a ampla subnotificação, o Brasil deve retomar até amanhã o posto de segundo país com mais mortes, atrás apenas dos Estados Unidos. Na última semana, o México havia passado o Brasil, em uma recontagem de vítimas no país. O governo local resolveu admitir que as mortes em excesso registradas, mesmo sem realização de testes para a covid-19, seriam relacionadas à pandemia. Caso o Brasil fizesse o mesmo movimento, seriam mais de 410 mil mortos. Isso, de acordo com cálculos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), a partir de estimativas conservadoras.

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conass

Também nas últimas 24 horas, houve o registro de um número elevado de novos infectados. Esse aspecto revela que a pandemia segue descontrolada no Brasil, como afirmam institutos de referência para a covid-19. E está assim desde o fim do ano passado. Este avanço resulta no atual padrão elevado de mortes diárias, com consecutivo colapso do sistema de Saúde do país. Nas palavras da Fiocruz, trata-se da “maior crise sanitária e hospitalar da história”.

Foram 90.638 novos casos hoje (31). Com isso, o país chega a 12.748.787 pessoas contaminadas. Em relação à média diária de casos e mortes, os dados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) revalidam a sentença de que este é o pior momento, com folga, do surto no Brasil. Em média, por dia nos últimos sete dias, morreram 2.977 pessoas e se infectaram 75.616.

Curvas epidemiológicas médias de casos e mortes diárias. Fonte: Conass

Sem mudança

Cientistas cravam que grande parte das mortes por covid-19 no Brasil seriam evitáveis, bem como os prejuízos econômicos poderiam ser mitigados. Isso, caso o governo federal, comandado por Jair Bolsonaro, tivesse adotado uma postura de enfrentamento ao vírus. Entretanto, a realidade desde o início da pandemia foi distinta. Bolsonaro age de forma sistemática para impedir o combate ao coronavírus, bem como dificultou o acesso do país às vacinas, ridicularizou o uso de máscaras, minimizou a doença, e chegou até a dizer “e daí?” para as mortes em escalada.

Após pressão de amplos setores da sociedade, o governo mudou ligeiramente sua postura ao defender a aplicação de vacinas. Bolsonaro era contra a imunização, inclusive divulgando mentiras sobre perigos inexistentes relacionados aos fármacos.

Hoje, no entanto, o presidente voltou a seguir na contramão da ciência e até mesmo de seu novo ministro da Saúde (quarto desde o início da crise), Marcelo Queiroga. Mesmo dia em que ocorreu a primeira reunião de um comitê de crise formado por Congresso e governo, criado na semana passada. Queiroga, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (DEM-AL), foram unânimes em defender medidas para frear a covid-19, incluindo isolamento social. Mas, minutos depois, Bolsonaro concedeu entrevista coletiva, sem máscara, para atacar governadores que adotam medidas protetivas aos cidadãos, que envolvam distanciamento. “Não é ficando em casa que nós vamos solucionar este problema”, disse, contrariando mais uma vez a ciência.

Palavra da OMS

Na prática, além de tentar impedir que governadores e prefeitos adotassem medidas para proteger a população, Bolsonaro adotou um discurso único durante toda a pandemia: o da defesa de medicamentos comprovadamente ineficazes contra o vírus, como a cloroquina, a ivermectina e outros compostos do chamado “kit covid”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), que já havia descartado a cloroquina após uma série de estudos realizados em todo o mundo, reiterou hoje que não indica a ivermectina. O medicamento é um dos mais comentados em redes bolsonaristas, e de acordo com hospitais como o da Unicamp, já provocou mortes pelo seu consumo em excesso que provoca problemas hepáticos.

“Nossa recomendação é não usar ivermectina para pacientes com covid-19, independentemente do nível de gravidade ou duração dos sintomas”, disse Janet Díaz, chefe da equipe de resposta clínica à covid-19 da OMS.


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