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Anvisa aprova registro definitivo da vacina AstraZeneca e antiviral Remdesivir contra covid-19

Medicamento é de alto custo e possui eficácia em casos muito específicos da covid-19. Não se trata de “tratamento precoce” e não substitui necessidade de distanciamento social, máscaras e higiene das mãos

FioCruz/divulgação
FioCruz/divulgação
A Anvisa concedeu o registro definitivo da vacina contra a covid-19 para ser produzida no Brasil pela Fiocruz

São Paulo – A Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou hoje (12) o registro definitivo para a vacina da Oxford/AstraZeneca, que já está em uso emergencial no país há mais de um mês. O imunizante é o segundo a receber a chancela, após o da Pfizer, que ainda está indisponível no Brasil. Além disso, a Anvisa autorizou o uso do antiviral Remdesivir como primeiro medicamento para tratar a covid-19.

Entretanto, o uso do Remdesivir não é unanimidade entre a comunidade científica. Existem estudos que apontam para uma eficácia pequena e muito específica para um certo tipo de condição clínica. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgou em novembro um comunicado que desaconselha o uso do medicamento, a partir de revisões em estudos com milhares de pacientes em todo o mundo.

Soma-se às incertezas sobre o medicamento, o fato dele ser de alto custo. Um tratamento com Remdesivir pode custar até 17 mil reais, além de que sua administração é via intravenosa e deve ocorrer em pacientes internados com casos mais agudos e graves da covid-19. Logo, o medicamento não estará à venda nas farmácias, e a autorização é apenas para o uso em hospitais, com monitoramento constante dos pacientes.

A Anvisa apresentou estudos conduzidos no Brasil, desde junho de 2020, que indicam certa eficácia do medicamento. Os dados apontam que pacientes que usaram o remédio tiveram um menor tempo de internação, reduzindo a média de 15 dias para dez. Entretanto, ele não é indicado para pacientes intubados.

Considerações

Cientistas apontam para outros aspectos do Remdesivir. Primeiro, que ele não é “tratamento precoce”. A ideia defendida com paixão pelo presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores é uma mentira. Não existe tratamento precoce contra a covid-19, de acordo com consenso científico em todo o mundo. E outro ponto é que, por diferentes motivos, a aprovação do uso do Remdesivir não substitui os métodos comprovadamente eficazes contra a infecção: isolamento e distanciamento social, uso de máscaras e constante higiene das mãos.

“Sobre segurança e eficácia: O Remdesivir é indicado para tratamento de covid-19 para pacientes acima de 12 anos, acima de 40 kg, que estejam com pneumonia e requerem administração suplementar de oxigênio, desde que o paciente não esteja com ventilação mecânica ou em ECMO. O tratamento deve ser feito por no mínimo cinco dias e, no máximo, 10 dias”, explica a neurocientista Mellanie Fontes-Dutra.

Mellanie lembra que o Remdesivir possui aprovação de outras agências internacionais, como as dos Estados Unidos, Canadá, Suíça e Austrália. Entretanto, o uso do medicamento possui uma faixa de abrangência muito específica e de alto custo. Logo, sua aquisição pelo SUS, se ocorrer, será extremamente custosa e com poucos benefícios práticos. Com isso, a cientista lembra que: “Remdesivir não substitui vacinas e medidas de enfrentamento (uso de máscara, evitar aglomeração, fazer distanciamento físico, higienização)”.

Palavra da OMS

No dia 20 de novembro a OMS divulgou artigo intitulado: “Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da OMS desaconselha uso de Remdesivir para covid-19”. O texto argumenta que “A recomendação faz parte de uma diretriz desenvolvida pela OMS, com apoio metodológico da MAGIC Evidence Ecosystem Foundation, para fornecer orientação confiável sobre o manejo da COVID-19 e ajudar os médicos a tomarem melhores decisões com seus pacientes.”

“O Remdesivir tem recebido atenção mundial como um tratamento potencialmente eficaz para a covid-19 grave e é cada vez mais usado para tratar pacientes hospitalizados. No entanto, seu papel na prática clínica permanece incerto. A recomendação atual é baseada em uma nova revisão de evidências comparando os efeitos de vários tratamentos.  Além disso, apresenta dados de quatro ensaios clínicos internacionais randomizados envolvendo mais de 7 mil pacientes hospitalizados devido à doença”, completa a agência.

O apontamento da agência no sentido oposto ao uso do medicamento tem relação com as fracas evidências de eficácia. Por outro lado, a OMS afirma que os estudos devem continuar. Novas publicações sobre o Remdesivir devem sair nos próximos meses, tratando da eficácia do medicamento em grupos de pacientes em condições mais diversas. “O painel também apoia o acompanhamento contínuo de estudos que avaliam o remdesivir, especialmente para fornecer maior certeza de evidências para grupos específicos de pacientes”, conclui o artigo da agência internacional.


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