Tragédia sem fim

Brasil tem segundo dia com mais mortos da ‘segunda onda’ da covid-19

Vacinação contra covid segue a passos lentos no país. Estudo indica que “kit covid” recomendado por Bolsonaro pode ter relação direta com mortes de brasileiros

reprodução/ebc
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Hoje foi segundo dia mais letal da segunda onda, sendo superado apenas pelo dia 7 de janeiro, dia com mais vítimas de toda a série histórica

São Paulo – O Brasil registrou hoje (9) um dos dias mais letais do surto de covid-19 desde o início da pandemia, em março: 1.350 mortos num período de 24 horas, de acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Com a atualização, o país já soma 233.520 vítimas do novo coronavírus. Em relação ao número de novos casos, foram notificadas 51.486 infecções, que somam 9.599.565, também desde março passado.

O Brasil vive uma segunda onda de contágio da covid-19 desde novembro, após um breve período de recuo em outubro. Hoje foi o segundo dia mais letal deste período, sendo superado apenas pela marca de 1.841 óbitos em 7 de janeiro, a maior de toda a série histórica. Ao contrário de países que conseguiram controlar o surto em seus territórios, o Brasil tem uma curva epidemiológica de alta letalidade constante, já que pouco fez para conter a contaminação.

Números atualizados da covid-19 no Brasil. Fonte: Conass

Na conta de Bolsonaro

Além de minimizar a pandemia, disseminar desinformação sobre a covid-19 e até mesmo atacar vacinas, o presidente Jair Bolsonaro passou a recomendar a cloroquina, a hidroxicloroquina e outros fármacos como medicamentos “mágicos” contra a covid-19. Entretanto, os compostos indicados pelo presidente, que não é médico, foram apontados por diversos estudos como comprovadamente ineficazes contra o coronavírus. Ao contrário, podem provocar reações adversas graves nos usuários.

Ontem (8) um grupo de pesquisadores divulgou o primeiro estudo brasileiros sobre Reações Adversas a Medicamentos (RAM) recomendados pelo bolsonarismo e sem eficácia comprovada. O levantamento foi publicado na plataforma científica SciELO, no Caderno de Saúde Pública volume 37 do Rio de Janeiro. Os resultados apontam para os malefícios da ação do presidente Bolsonaro.

Ciência

“Dos suspeitos de provocar RAM e/ou interações medicamentosas, hidroxicloroquina (59,5%), azitromicina (9,8%), cloroquina (5,2%) e ceftriaxona (3,2%) foram os que apresentaram maior ocorrência (…). RAM cardíacas (38,8%) foram as mais frequentes. Destas, 33,7% foram (…)provocadas pela hidroxicloroquina, cloroquina e azitromicina. Desse total, 11 foram casos fatais”, explica o professor de farmacologia e pesquisador da Universidade Católica de Pernambuco, Leandro Medeiros.

O pesquisador explica que os resultados apontam que os medicamentos indicados pelo governo Bolsonaro são prejudiciais à saúde da forma como foram ministrados. “Pacientes que usaram hidroxicloroquina registraram quase duas vezes mais chances de apresentar RAM grave e os que fizeram o uso da cloroquina registraram quase seis vezes mais chances de apresentar RAM grave, comparados aos que não usaram estes medicamentos”, disse Leandro.

Os fatos vão de encontro ao que Bolsonaro, agora acuado pela realidade, afirmou na última semana. “Pelo menos não matei ninguém”, disse, insinuando que os medicamentos poderiam se tratar de placebo. Além da falta de coordenação e dos ataques de Bolsonaro à ciência, os medicamentos receitados como “milagrosos” por ele e sua equipe podem sim ter relação direta com mortes de brasileiros.

Vacinas

O Brasil segue processo de vacinação em ritmo lento. Menos de 3% da população já recebeu a primeira dose da uma das vacinas em uso no país. Os estados que mais vacinaram até o momento, em relação prporcional ao número de habitantes, são: Distrito Federal, 3%; Amazonas, 3%; Mato Grosso do Sul, 2,6%; Roraima, 2,3%; e Pernambuco, 2%.

Também hoje, a Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) deu mais um passo no sentido de garantir mais vacinas para o país. Imunizantes que chegarem pelo consórcio Covax, uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), não precisarão de liberação emergencial pelo órgão. Serão imediatamente liberadas para distribuição e aplicação. O Brasil vai receber mais de 10 milhões de vacinas no primeiro semestre. Estão previstas mais de 40 milhões de doses por meio do consórcio. Pelo menos 2 milhões de doses devem chegar ainda neste mês.


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