Caos em Manaus

‘Uma tragédia, com tantas pessoas mortas asfixiadas’, diz SindSaúde-AM

Representante dos trabalhadores de saúde em Manaus diz que o governo estadual não acreditou na segunda onda da pandemia. E também criticou a falta de assistência do governo federal

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Estados trabalham para antecipar a terceira dose para os grupos mais vulneráveis. Em São Paulo, o governo anunciou a vacinação de idosos a partir de 60 anos. O calendário está previsto para iniciar na segunda-feira (6)

São Paulo – A presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Área da Saúde do Amazonas (Sindsaúde-AM), Cleidinir Francisca do Socorro, classificou como “caos” e “tragédia” a situação em Manaus, após o colapso dos hospitais nesta quinta-feira (14). Pelo menos dois hospitais e diversos serviços de pronto-atendimento na capital chegaram a ficar sem oxigênio para atender os pacientes contaminados pelo novo coronavírus.

“Está um caos muito grande na área da saúde. Pessoas morrendo absurdamente. Foi uma tragédia, principalmente na cidade de Manaus, com tantas pessoas mortas asfixiadas”, afirmou Cleidinir, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (15).

De acordo com ela, a escassez de oxigênio para tratar os pacientes se deve à “falta de planejamento” do governo estadual. “Não acreditaram e não se programaram para a segunda onda aqui em Manaus”. Ela agradeceu os esforços de artistas que, diante da demora do governo federal em prestar socorro ao Estado, estão comprando cilindros de oxigênio para enviar a Manaus.

Um dia antes, na quarta-feira (13), a prefeitura da capital informou que foram realizados 198 enterros nos cemitérios da cidade. Esse total de mortos num único dia superou o recorde anterior, de 26 de abril do ano passado, no ápice da primeira onda da pandemia. Dessas 198 mortes, 87 foram em decorrência do novo coronavírus, e algumas delas aconteceram em casa.

‘Decepção’

Cleidinir também criticou o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que esteve em Manaus na última segunda-feira (11). Ele insistiu no “tratamento precoce” com uso de medicamentos como a cloroquina e a ivermectina, sem eficácia comprovada contra a covid-19. Além disso, o ministro anunciou o início da vacinação “no dia D e na hora H”, sem estabelecer uma data específica.

“A gente esperava que ele viesse ver o caos na cidade de Manaus, com relação ao aumento da disseminação do vírus. Mas não vimos isso. Esperávamos também que ele tivesse dado um prazo para o povo do Amazonas com relação à vacina. Mas virou chacota nas redes sociais”.

Repúdio

Por outro lado, a presidenta do SindSaúde-AM diz que os enfermeiros e auxiliares ainda estão trabalhado sem equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados. Ela afirmou, inclusive, que profissionais do grupo de risco continuam trabalhando.

“Um número bem alto de profissionais partiu”, lamenta Cleidinir. Ela diz que o sindicato também pediu à Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS) o total de profissionais que se contaminaram e morreram em decorrência da covid-19, mas não obteve resposta.

Os trabalhadores tentaram informar Pazuello dessas condições. Mas foram tratados como “oportunistas” pelo ministro, por também protestarem contra o congelamento dos salários. O Sindsaúde-AM chegou a divulgar uma nota de repúdio contra essa atitude.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima