Tragédia sem fim

Segunda onda da covid-19 no Brasil é ‘risco iminente’, alerta Nicolelis

Brasil se aproxima de 155 mil mortos por covid-19. Mesmo sem ter chegado ao fim da primeira onda, um novo golpe da pandemia pode elevar o morticínio no país

Alex Pazuello/Semcom
Alex Pazuello/Semcom
Os resultados também expõem uma face da desigualdade da pandemia. Os que mais morreram foram aqueles que não tiveram condições ou apoio do Estado para a garantia das condições de vida

São Paulo – O médico e neurocientista Miguel Nicolelis emitiu ontem (18) um alerta para o risco iminente de retomada da curva de contágio pelo novo coronavírus. “O Brasil precisa se preparar já para a segunda onda da covid-19“, disse. Nicolelis é um dos principais nomes da pesquisa científica do país e atualmente é coordenador do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, criado para combater a pandemia na região.

“É preciso se organizar em nível nacional: formar, treinar e equipar brigadas de emergência de saúde em todo o país, aumentar a testagem, estocar medicamentos, equipamentos de proteção e aumentar a adesão ao aplicativo Monitora Covid-19”, alerta o cientista.

Nicolelis observa que o aumento de casos da doença que vem ocorrendo na Europa e nos Estados Unidos pode também chegar ao Brasil, onde a média de casos tem baixado nas últimas semanas. O país registra oficialmente 154.176 mortos e 5.250.727 casos de covid-19, de acordo com balanço de hoje do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o Conass.

No entanto, o Brasil é a segunda nação em número de mortos por covid-19 e terceiro com mais casos. Isso, sem considerar que autoridades sanitária e instituições de saúde afirmam que os números reais de casos e mortes são ainda maiores, em razão da falta de testagem em larga escala e da ampla subnotificação. De acordo com levantamento do mês passado do IBGE, menos de 9% da população já havia passado por algum tipo de testagem de sorotipo.

Perigo à vista

Questionado se o Brasil de fato se preparará para a segunda onda da doença, Nicolelis respondeu: “Acredito em cumprir meu dever e dar o sinal de alerta quando eu tiver informações que me convençam que o perigo é iminente. É exatamente isso que estou fazendo. Estou convencido que o risco é concreto e que se não nos prepararmos devidamente, as consequências serão terríveis”.

O Brasil vive um cenário ímpar em relação à covid-19 e são muitos os pesquisadores que não falam em “segunda onda” da infecção, visto que o país sequer superou a primeira.

Contudo, após a redução da mortalidade no último mês, ainda que em patamares altos, aumenta o receio de que o contágio volte a se acelerar, o que levaria a um novo cenário dramático de adoecimento e morte. “Não é possível dizer que o Brasil superou a primeira onda, mas nada impede de um segundo influxo de casos vindo de fora do país nos projetar para um outro patamar ainda mais alto, como está acontecendo nos EUA”, disse Nicolelis.

Nos EUA, a transmissão da covid-19 está fora de controle em todo o meio oeste e sul do país. O estado é de alerta em quase todo o país, com poucas exceções, como o estado da Californa. Enquanto isso, a Europa já vive amplo impacto da chamada segunda onda. Países como Espanha, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Portugal, Suécia e Holanda voltaram a fechar escolas e comércio não essencial e estudam novas medidas de “lockdown”.